segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Precursor de Cristo no nascimento e na morte.

Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero

(Hom. 23: CCL 122,354.356-357)
(Séc. VIII)

Precursor de Cristo no nascimento e na morte


O santo precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor mostrou o vigor de seu combate, digno dos olhos divinos, como diz a Escritura: E se diante dos homens sofreu tormentos, sua esperança está repleta de imortalidade (cf. Sb 3,4). Temos razão de celebrar a festa do dia do nascimento daquele que o tornou solene para nós por sua morte, e o ornou com o róseo fulgor de seu sangue. É justo venerarmos com alegria espiritual a memória de quem selou com o martírio o testemunho que deu em favor do Senhor.

Não há que duvidar, se São João suportou o cárcere e as cadeias, foi por nosso Redentor, de quem dera testemunho como precursor. Também por ele deu a vida. O perseguidor não lhe disse que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. No entanto morreu por Cristo.

Porque Cristo mesmo disse: Eu sou a verdade (Jo 14,6); por conseguinte, morreu por Cristo, já que derramou o sangue pela verdade. Antes, quando nasceu, pregou e batizou, dava testemunho de quem iria nascer, pregar, ser batizado. Também apontou para aquele que iria sofrer, sofrendo primeiro.

Um homem de tanto valor terminou a vida terrena pela efusão do sangue, depois do longo sofrimento da prisão. Aquele que proclamava o Evangelho da liberdade da paz celeste, foi lançado por ímpios às cadeias; foi fechado na escuridão do cárcere quem veio dar testemunho da luz e por esta mesma luz, que é Cristo, tinha merecido ser chamado de lâmpada ardente e luminosa. Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo, ouvir sobre ele a voz do Pai, ver descer a graça do Espírito Santo. Contudo, para quem tinha conhecimento de que seria recompensado pelas alegrias perpétuas não era insuportável sofrer tais tormentos pela verdade, mas, pelo contrário, fácil e desejável.

Considerava desejável aceitar a morte, impossível de evitar por força da natureza, junto com a palma da vida perene, por ter confessado o nome de Cristo. Assim disse bem o Apóstolo: Porque vos foi dado por Cristo não apenas crer nele, mas ainda sofrer por ele (Fl 1,29). Diz ser dom de Cristo que os eleitos sofram por ele, conforme diz também: Os sofrimentos desta vida não se comparam à futura glória que se revelará em nós (Rm 8,18).

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Assunção de Nossa Senhora


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1,39-56

Naqueles dias, 39 Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Com um grande grito, exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" 43 Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será  cumprido, o que o Senhor lhe prometeu". 46 Então Maria disse: "A minha alma engrandece o Senhor, 47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48 porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50 e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51 Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52 Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53 Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54 Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55 conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre". 56 Maria ficou três meses com Isabel;  depois voltou para casa. 

Palavra da Salvação.

Meditação

Celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O evangelho traz a narrativa da partida de Maria até à casa de Isabel, as manifestações do Espírito Santo nesse encontro, e a a grande oração dita por Maria, o Magnificat.

Após o anúncio de Gabriel, Maria parte, imediatamente, para a casa de Isabel. Ela não esperou. Partiu!

Desse encontro, corriqueiro entre duas pessoas amigas; desse encontro comum, saudado com um shalom, o Espírito Santo deu um novo sentido.

Qualquer mulher grávida sabe que um filho no ventre se mexe. Então, o filho de Isabel mexer seria uma ação normal para uma mulher grávida. Entretanto, Isabel compreendeu que a reação do filho ou ouvir a voz de Maria era extraordinária. Movido pelo Espírito Santo, a criança revela à mãe que a prima, Maria, traz no seu ventre, traz o senhor que fora prometido pelos profetas.

Da revelação feita por Isabel, Maria anuncia a presença de Deus junto ao seu povo. Ao povo pobre, discriminado. Povo que passava por dificuldades, por sofrimentos.

Então, ela nos ensina como devemos fazer diante de Deus. Primeiro, reconhece o poder e a realeza de Deus, faz uma oração de louvor a Deus. Em seguida, percebe que Deus age na história concreta do povo. Reconhece a força do braço de Deus que dispersa os "soberbos de Coração". A soberba é um pecado para todos e todas que se acham melhores que os outros. Tomemos cuidado, podemos ser soberbos com a nossa fé, e nossas práticas religiosas. Podemos nos achar melhores que os outros porque vamos à missa, porque rezamos o terço, porque somos agentes de pastoral.

Segundo, ela diz que Deus "derrubou do trono os poderosos". Aqui, mais uma vez, devemos olhar para nós. Poderoso é todo aquele/aquela que exerce alguma poder sobre alguém. Pai, mãe, chefe, diácono, padre, bispo. E se sente melhor que os outros. Deus exalta os humildes. 

Terceiro, Deus alimenta os famintos. Lembremos às vezes que Jesus multiplicou pães; lembremos o pobre Lázaro. Muitas vezes, a riqueza pode nos cegar para as coisas de Deus. Confiamos tanta nas riquezas, que Deus fica em segundo plano.

E por último. ela nos revela que Deus é misericordioso, e que suaq misericórdia se estende de geração a geração.

Somos chamados a viver a humanidade de Deus que nos resgata. 

Deus nos abneçoe.

sábado, 20 de agosto de 2022

Amo porque amo, amo para amar


Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo, abade
(Sermo 83,4-6: Opera omnia, Edit. Cisterc. 2[1958], 300-302)
Séc.XII

Amo porque amo, amo para amar

O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o amarem.
O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-Amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada corresponder ao amor! Por que a esposa e esposa do Amor não deveria amar? Por que não seria amado o Amor? É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro? Certamente não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles a mesma diferença que entre o sedento e a fonte.
E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade? Não. Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais pelo Verbo.

domingo, 14 de agosto de 2022

Sal da terra e luz do mundo


Das Homilias sobre Mateus, de São João Crisóstomo, bispo

(Hom. 15,6.7: PG 57, 231-232)
(Séc. IV)

Sal da terra e luz do mundo

Vós sois o sal da terra (Mt 5,13). Estas palavras vos foram entregues não para vossa vida, mas para a de todo o mundo. Não vos envio a duas cidades, nem a dez ou vinte. Não vos envio a um só povo, como os profetas outrora, mas à terra, ao mar, ao universo inteiro. E tudo isto em péssimo estado. Pois ao dizer: Vós sois o sal da terra, mostra ter toda a natureza humana perdido seu sabor e estar corrompida pelos pecados. Por este motivo mais exige deles as virtudes necessárias e úteis para tratar de tantos com solicitude. Na verdade o manso, modesto, misericordioso e justo não apenas guarda para si as boas obras, mas cuida de que as excelentes fontes corram para proveito dos outros. Também o puro de coração, pacífico, amante de verdade orienta sua vida para o bem comum.

Não julgueis, assim diz, serdes compelidos a breves escaramuças nem que tenhais de vos haver com causas pequeninas: Vós sois o sal da terra. E então? Poderão eles restaurar a podridão? De modo algum. De nada serve deitar sal ao que já está podre. Não foi isto certamente o que fizeram. Mas aquilo que antes fora renovado e entregue a eles, livre de todo mau odor, a isto misturavam o sal e preservavam naquele estado novo que haviam recebido de Cristo. Porque libertar do mau odor dos pecados foi obra do poder de Cristo. Para que não se volte a este mau cheiro, tal é o escopo de sua diligência e esforço.

Vês como aos poucos vai mostrando serem eles melhores que os próprios profetas? Não os declara mestres da Palestina, mas da terra inteira. Não vos admireis, assim diz, se, deixando os outros, falo mais intimamente convosco e vos arrasto a tão grandes perigos. Pensai a quantas e a quão grandes cidades, povos e nações vou enviar-vos como administradores. Por isso não vos quero apenas prudentes, mas que torneis os outros semelhantes a vós. Se não fordes assim, nem mesmo sereis de vantagem para vós mesmos. Pois os outros, perdido o sabor, podem por vosso ministério emendar-se. Vós, porém, se caírdes neste mal, arrastareis os outros convosco à ruína. Por conseguinte, quanto maiores encargos vos forem confiados, tanto mais necessidade tendes de grande zelo. É o motivo por que diz: Se o sal perder seu sabor, com que se salgará? Para nada mais vale e será lançado fora e pisado pelos homens (Mt 5,13).

Para que ao ouvirem: Quando vos acusarem e perseguirem e disserem todo mal contra vós (Mt 5,11), não temam ser citados em juízo, diz: "Se não estiverdes prontos para isto, em vão fostes escolhidos. As injúrias vos acompanharão necessariamente, porém, em nada vos prejudicarão, e porão à prova vossa firmeza. Se, porém, tiverdes medo delas e, diante da violência, desistirdes, sofrereis coisas muito mais graves e sereis desprezados por todos. É isto o que quer dizer ser pisado aos pés.

Em seguida, passa para um modelo ainda mais elevado: Vós sois a luz do mundo (Mt 5,14). De novo, do mundo, não de uma nação só ou de vinte cidades, mas do orbe todo. Luz inteligente, mais bela que os raios do sol, espiritual à semelhança do sal. Primeiro o sal, depois a luz, para mostrar a grande eficácia que tem uma pregação vigorosa e uma doutrina exigente. Deste modo os obriga a seguir uma certa norma na pregação, sem divagações inconvenientes, para que ela possa iluminar a vista de quem os rodeia. Não pode esconder-se a cidade posta sobre o monte; nem se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire (Mt 5,15). Com estas palavras excita-os novamente a uma vida esforçada, ensina-os a terem cautela como pessoas postas aos olhos de todos, que lutam em pleno centro do teatro do mundo inteiro.

sábado, 13 de agosto de 2022

Quem semelhante a ti, ó Deus, que apagas a iniquidade?


Do Sermão sobre o batismo, de São Paciano, bispo

(Nn. 6-7: PL 13,1093-1094)
(Séc. IV)

Quem semelhante a ti, ó Deus, que apagas a iniquidade?

Como trouxemos a imagem do homem terrestre, levemos a daquele que vem do céu; porque o primeiro homem, da terra, é terrestre, o segundo, do céu, é celeste (cf. 1Cor 15,47-49). Assim agindo, diletíssimos, já não mais morreremos. Mesmo que nosso corpo se desfaça, viveremos em Cristo, conforme ele mesmo disse: Quem crer em mim, mesmo que esteja morto, viverá (Jo 11,15).

Pelo testemunho do Senhor estamos certos de que Abraão, Isaac, Jacó e todos os santos de Deus vivem. Destes mesmos diz o Senhor: Todos para ele vivem; Deus é Deus dos vivos, não dos mortos (cf. Mt 22,32). E o Apóstolo fala de si: Para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro; desejo dissolver-me e estar com Cristo (cf. Fl 1,21-23). De novo: Quanto a nós, enquanto estamos neste corpo, peregrinamos longe do Senhor. Pois caminhamos pela fé, não pela visão (2Cor 5,6). É isto o que cremos, irmãos caríssimos. De resto: Se apenas para este século temos esperança, somos os mais deploráveis de todos os homens (cf. 1Cor 15,19). Como se pode ver, a vida no mundo é a mesma para nós e para os animais, as feras e as aves. A vida deles pode até ser mais longa do que a nossa. Mas o que é próprio do homem, que Cristo deu por seu Espírito, é a vida perpétua, contanto que não mais pequemos. Porque como a morte se encontra na culpa e é evitada pela virtude, assim o mal faz perder a vida, a virtude a sustenta. Paga do pecado, a morte; dom de Deus, a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 6,23).

É ele quem nos redime, perdoando-nos todo o pecado, assim fala o Apóstolo, destruindo o quirógrafo da desobediência lavrado contra nós; tirou-o do meio de nós, pregando-o na cruz. Despindo a carne, rebaixou as potestades, triunfando livremente delas em si mesmo (cf. Cl 2,13-15). Libertou os acorrentados, rompeu nossas cadeias, como Davi predissera: O Senhor levanta os caídos, o Senhor liberta os cativos, o Senhor ilumina os cegos (cf. Sl 145,7-8). E ainda: Rompeste minhas cadeias, sacrificar-te-ei uma hóstia de louvor (Sl 115,16-17). Libertados das cadeias, logo nos reunimos, pelo sacramento do batismo, o sinal do Senhor, livres pelo sangue e pelo nome de Cristo.

Por conseguinte, queridos, somos lavados de uma vez, libertados de uma vez, de uma vez acolhidos no reino imortal. De uma vez para sempre são felizes aqueles aos quais os pecados foram perdoados e cobertas as culpas (cf. Sl 31,1). Segurai com força o que recebestes, guardai-o bem, não pequeis mais. Preservai-vos puros do mal e imaculados para o dia do Senhor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

O amor é forte como a morte.


SANTA JOANA FRANCISCA DE CHANTAL, RELIGIOSA

Nasceu em Dijon (França), no ano de 1572. Casou-se com o barão de Chantal, e foi mãe de seis filhos, os quais educou na piedade. Após a morte do marido, levou uma admirável vida de perfeição, sob a direção de S. Francisco de Sales, praticando especialmente a caridade para com os pobres e enfermos. Fundou a Ordem da Visitação, que governou com sabedoria. Morreu em 1641.

Das Memórias de Santa Joana Francisca, escritas por uma religiosa, sua secretária
 (Françoise-Madeleine de Chaugy, Mémoires sur la vie et les vertus de Sainte J.-F. de Chantal, III, 3: 3ª ed., Paris 1853, p. 306-307)
(Séc.XVII)

O amor é forte como a morte 

Certo dia, Santa Joana disse estas fervorosas palavras, logo fielmente recolhidas:
“Filhas diletíssimas, muitos dos nossos santos Padres e colunas da Igreja não sofreram o martírio; sabeis dizer-me por que razão?” Após a resposta de cada uma, disse a santa Madre: “Quanto a mim, creio que isto aconteceu assim, por haver outro martírio que se chama martírio de amor, em que Deus, conservando em vida seus servos e servas a fim de trabalharem para sua glória, os faz ao mesmo tempo mártires e confessores. Sei que, por disposição divina – acrescentou – as filhas da Visitação são chamadas a este martírio com o mesmo ardor que levou a afrontá-lo aquelas servas mais afortunadas.

À pergunta de uma irmã sobre o modo como poderá se realizar este martírio, respondeu: “Abri-vos inteiramente à vontade de Deus e tereis a prova. O amor divino mergulha sua espada até o mais íntimo e secreto de nossas almas, e separa-nos de nós mesmas. Conheci uma alma a quem o amor separou de tudo quanto lhe agradava, como se o golpe dado pela espada de um tirano lhe tivesse separado o espírito do corpo”.
Percebemos que falara de si mesma. Tendo outra irmã indagado quanto tempo duraria esse martírio, explicou: “Desde o momento em que nos entregamos a Deus sem reservas, até o fim da vida. No entanto, isto só diz respeito às pessoas magnânimas, que, renunciando completamente a si mesmas, são fiéis ao amor; os fracos e inconstantes no amor, nosso Senhor não os leva pelos caminhos do martírio, mas deixa-os viver a passos lentos, para que não se afastem dele; pois nunca força a livre vontade”.
Quando, por fim, lhe foi perguntado se este martírio de amor poderia ser igualado ao martírio do corpo, respondeu: “Não nos preocupemos com a questão da igualdade, muito embora eu julgue que um não ceda ao outro, porque o amor é forte como a morte (Ct 8,6). E ainda porque os mártires de amor sofrem dores mil vezes mais agudas conservando a vida para cumprir a vontade de Deus, do que se tivessem de dar mil vidas para testemunhar a sua fé, o seu amor e a sua fidelidade”.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Santa Clara: Contempla a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo


Da Carta a Santa Inês de Praga, de Santa Clara, virgem

(Edit. I. Omaechevaria, Escritos de Santa Clara, Madrid 1970, pp. 339-341)
(Séc.XIII)

Contempla a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo

Feliz a quem foi dado participar do sagrado convívio, de forma a aderir com todas as veras do coração àquele cuja beleza as santas multidões dos céus admiram sem cessar. Sua ternura comove; sua contemplação fortalece; sua benignidade cumula, sua suavidade satisfaz, sua lembrança ilumina docemente, seu odor revitaliza os mortos, e a sua gloriosa visão encherá de gozo os habitantes da Jerusalém do alto. Ele é o esplendor da eterna glória, fulgor da luz eterna, espelho sem defeito (Sb 7,26). Olha todos os dias neste espelho, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e contempla sempre nele tua face. Assim te adornarás toda inteira, por dentro e por fora, coberta envolta de brocados, enfeitada com as vestes e as flores de todas as virtudes, como convém à filha e esposa castíssima do sumo Rei. Neste espelho refulgem a ditosa pobreza, a santa humildade e a indizível caridade, como poderás contemplar, pela graça de Deus, no espelho todo.

 Quero dizer: vê no começo do espelho a pobreza daquele que foi posto no presépio, envolto em faixas. Ó admirável humildade, ó estupenda pobreza! O rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra é deitado numa manjedoura! No centro do espelho, considera a humildade, quando não a ditosa pobreza, os inúmeros sofrimentos e penas que suportou pela redenção do gênero humano. No fim desse espelho, contempla a indizível caridade que o levou a sofrer no lenho da cruz e nele morrer a mais ignominiosa das mortes. Este espelho, posto no lenho da cruz, aos que passavam para ver estas coisas, advertia: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor igual à minha dor (Lm 1,12). Respondamos, então, numa só voz, num só espírito ao que clama e se queixa: Lembro-me intensamente e dentro de mim meu coração definha (Lm 3,20). Assim te inflamarás cada vez mais fortemente com este ardor de caridade, ó rainha do rei celeste.

Contemplando, depois, suas inexprimíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, suspirando pela veemência do desejo do coração e do amor, exclames: Atrai-me, e correremos atrás de ti ao odor de teus perfumes (Ct 1,3 Vulg.), ó esposo celeste. Correrei sem parar, até que me introduzas em tua adega, teu braço esquerdo ampare minha cabeça e tua direita me abrace feliz e que me beijes com teu ósculo de suprema felicidade (cf. Ct 2,4.6). Entregue a esta contemplação, não te esqueças desta pobrezinha, tua mãe, pois sabes estar indelevelmente gravada tua suave lembrança nas tábuas de meu coração e que para mim és a mais querida de todas.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Serviu o sagrado Sangue de Cristo.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 304,1-4: PL 38,1395-1397)
(Séc.V)

Serviu o sagrado Sangue de Cristo

A Igreja Romana apresenta-nos hoje o dia glorioso de São Lourenço quando ele calcou o furor do mundo, desprezou sua sedução e num e noutro modo venceu o diabo perseguidor. Nesta mesma Igreja – ouvistes muitas vezes – Lourenço exercia o ministério de diácono. Aí servia o sagrado sangue de Cristo; aí, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue. O santo apóstolo João expôs claramente o mistério da ceia ao dizer: Como Cristo entregou sua vida por nós, também nós devemos entregar as nossas pelos irmãos (1Jo 3,16). São Lourenço, irmãos, entendeu isto; entendeu e fez; e da mesmíssima forma como recebeu daquela mesa, assim a preparou. Amou a Cristo em sua vida, imitou-o em sua morte.

Também nós, irmãos, se de verdade amamos, imitemos. Não poderíamos produzir melhor fruto de amor do que o exemplo da imitação; Cristo sofreu por nós, deixando-nos o exemplo para seguirmos suas pegadas (1Pd 2,21). Nesta frase, parece que o apóstolo Pedro quer dizer que Cristo sofreu apenas por aqueles que seguem suas pegadas e que a morte de Cristo não aproveita senão àqueles que caminham em seu seguimento. Seguiram-no os santos mártires até à efusão do sangue, até à semelhança da paixão; seguiram-no os mártires, porém não só eles. Depois que estes passaram, a ponte não foi cortada; ou depois que beberam, a fonte não secou.

Tem, irmãos, tem o jardim do Senhor não apenas rosas dos mártires; tem também lírios das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas. Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for, desespere de sua vocação; por todos morreu Cristo. Com toda a verdade, dele se escreveu: Que quer salvos todos os homens, e que cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4).

Compreendamos, portanto, como pode o cristão seguir Cristo além do derramamento de sangue, além do perigo de morte. O Apóstolo diz, referindo-se ao Cristo Senhor: Tendo a condição divina, não julgou rapina ser igual a Deus. Que majestade! Mas aniquilou-se, tomando a condição de escravo, feito semelhante aos homens e reconhecido como homem (Fl 2,7-8). Que humildade!

Cristo humilhou-se: aí tens, cristão, a que te apegar. Cristo se humilhou: por que te enches de orgulho? Em seguida, terminada a carreira desta humilhação, lançada por terra a morte, Cristo subiu ao céu; sigamo-lo. Ouçamos o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, descobri o sabor das realidades do alto, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Cl 3,1).

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Saudamo-te, Cruz santa, nossa única esperança

Dos Escritos Espirituais de santa Teresa Benedita da Cruz, virgem e mártir

(Edith Stein: “Vita, Dottrina, Tesi inediti” Roma, PP. 127-130)
(Séc. XX)

Saudamo-te, Cruz santa, nossa única esperança

“Saudamo-te, Cruz santa, nossa única esperança!”, assim a Igreja nos faz dizer no tempo da paixão, dedicado à contemplação dos amargos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O mundo está em chamas: a luta entre Cristo e o anticristo encarniçou-se abertamente, por isso, se te decides por Cristo, pode te ser pedido também o sacrifício da vida.
Contempla o Senhor que pende do lenho diante de ti porque foi obediente até a morte de cruz. Ele veio ao mundo não para fazer a sua vontade, mas a do Pai. Se queres ser a esposa do Crucificado deves renunciar totalmente à tua vontade e não outra aspiração senão a de cumprir a vontade de Deus.
À tua frente o Redentor pende da Cruz despojado e nu, porque escolheu a pobreza. Quem quer segui-lo deve renunciar a toda posse terrena.
Estás diante do Senhor que pende da Cruz com o coração despedaçado; ele derramou o sangue de seu Coração para conquistar o teu coração. Para poder segui-lo em santa castidade, o teu coração deve ser livre de toda aspiração terrena; Jesus Crucificado deve ser o objeto de todo o teu anseio, de todo o teu desejo, de todo o teu pensamento.
O mundo está em chamas: o incêndio poderia pegar também em nossa casa, mas, acima de todas as chamas, ergue-se a Cruz que não pode ser queimada. A Cruz é o caminho que conduz da terra ao céu. Quem a abraça com fé, amor, esperança é levado para o alto, até o seio da Trindade.
O mundo está em chamas: desejas extingui-las? Contempla a Cruz – do Coração aberto jorra o sangue do Redentor, sangue capaz de extinguir também as chamas do inferno. Através da fiel observância dos votos, torna o teu coração livre e aberto; então, poderão ser despejadas nele as ondas do amor divino; sim, a ponto de fazê-lo transbordar e torná-lo fecundo até os confins da terra.
Através do poder da Cruz, podes estar presente em todos os lugares da dor, em toda parte para onde te levar a tua compassiva caridade, aquela caridade que haures do Coração divino e que te torna capaz de espargir, por toda parte, o seu preciosíssimo sangue para aliviar, salvar, redimir.
Os olhos do Crucificado fixam-te a interrogar-te, a interpelar-te. Queres estreitar novamente, com toda seriedade, a aliança com ele? Qual será a tua resposta? “Senhor, aonde irei? Só tu tens palavras de vida”. Ave Crux, spes única!
 Responsório
R. Nós anunciamos Cristo crucificado,
que para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura;
* Para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos,
é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
V. O desejo do meu coração e a minha oração
sobem a Deus pela salvação deles. * Para.

Oração
Senhor Deus de nossos pais, fazei abundar em nós a sabedoria da cruz, com a qual, admiravelmente, enriquecestes santa Teresa Benedita, na hora do martírio. Concedei-nos, por sua intercessão, que constantemente vos procuremos, Suma Verdade, e guardemos fielmente, até à morte, a eterna aliança de amor, selada no sangue de vosso Filho, para a salvação de todos os homens. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.

sábado, 6 de agosto de 2022

É bom nós estarmos aqui.


Do Sermão no dia da Transfiguração do Senhor, de Anastásio Sinaíta, bispo

(Nn.6-10: Mélanges d’archéologie ET d’histoire 67[1955],241-244)
(Séc.VII)

É bom nós estarmos aqui

Jesus manifestou a seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus. Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (cf. Mt 16,28).

Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com ele (cf. Mt 17,1-3).

São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente.

Para lá, cumpre nos apresarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas.

Para lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. Deixa a carne, abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz: Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4).

Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso, de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz? De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Louvor de Maria Mãe de Deus


Da Homilia pronunciada no Concílio de Éfeso por São Cirilo de Alexandria, bispo
(Hom. 4: PG 77, 991.995-996)
(Séc. V)

Louvor de Maria Mãe de Deus 

Contemplo esta assembleia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento, vemos realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos! (Sl 132,1).
Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus.
Salve, ó Maria Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9).
Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti, é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão.
E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte (Lc 1,77); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela, os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade.
Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é mãe e virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser sua própria mãe?
Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Sobre o amor a Jesus Cristo


Das Obras de Santo Afonso Maria de Ligório, bispo

(Tract. De praxi amandi Iesum Christum, edit. latina, Romae 1909, pp.9-14)
(Séc.XVII)

Sobre o amor a Jesus Cristo

Toda santidade e perfeição consiste no amor a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso sumo bem e nosso redentor. É a caridade que une e conserva todas as virtudes que tornam o homem perfeito. Será que Deus não merece todo o nosso amor? Ele nos amou desde toda a eternidade. “Lembra-te, ó homem, – assim nos fala – que fui eu o primeiro a te amar. Tu ainda não estavas no mundo, o mundo nem mesmo existia, e eu já te amava. Desde que sou Deus, eu te amo”.

Deus, sabendo que o homem se deixa cativar com os benefícios, quis atraí-lo ao seu amor por meio de seus dons. Eis por que disse: “Quero atrair os homens ao meu amor com os mesmos laços com que eles se deixam prender, isto é, com os laços do amor”. Tais precisamente têm sido todos os dons feitos por Deus ao homem. Deu-lhe uma alma dotada, à sua imagem, de memória, inteligência e vontade; deu-lhe um corpo provido de sentidos; para ele criou também o céu e a terra com toda a multidão de seres; por amor do homem criou tudo isso, para que todas as criaturas servissem ao homem e o homem, em agradecimento por tantos benefícios, o amasse.

Mas Deus não se contentou em dar-nos tão belas criaturas. Para conquistar todo o nosso amor, foi ao ponto de dar-se a si mesmo totalmente a nós. O Pai eterno chegou ao extremo de nos dar seu único Filho. Vendo-nos a todos mortos pelo pecado e privados de sua graça, que fez ele? Movido pelo imenso, ou melhor – como diz o Apóstolo – pelo seu demasiado amor, enviou seu amado Filho, para nos justificar e nos restituir a vida que havíamos perdido pelo pecado. Ao dar-nos o Filho, a quem não poupou para nos poupar, deu-nos com ele todos os bens: a graça, a caridade e o paraíso. E porque todos estes bens são certamente menores do que o Filho, Deus, que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? (Rm 8,32).