quarta-feira, 12 de julho de 2023

A Eucaristia


Do antigo opúsculo "Doutrina dos doze Apóstolos

(Nn. 9,1-10,6; 14,1-3: Funk 2,19-22.26)
(Séc. II)

A Eucaristia
Dai graças assim, primeiro sobre o cálice: "Nós te damos graças, Pai nosso, pela santa videira de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por Jesus, teu servo; a ti a glória pelos séculos".

Em seguida, sobre o pão partido: "Nós te damos graças, ó Pai nosso, pela vida e ciência que nos deste a conhecer por Jesus, teu servo; a ti a glória pelos séculos. Do mesmo modo como este pão estava espalhado pelos montes e, colhido, tornou-se uma só coisa, assim, desde os confins da terra, se reúne tua Igreja em teu reino; porque te pertencem a glória e o poder, por Jesus Cristo, nos séculos".

Ninguém coma ou beba da vossa eucaristia que não tenha sido batizado em nome do Senhor. De fato, sobre isto disse ele: Não jogueis aos cães as coisas santas.

Refeitos, dai graças assim: "Nós te damos graças, Pai santo, por teu santo nome, cujo trono puseste em nossos corações, e pela ciência, pela fé e imortalidade, que nos manifestaste por Jesus, teu servo; a ti a glória pelos séculos".

Senhor onipotente, tu criaste tudo por causa de teu nome, deste aos homens o alimento e a bebida, a fim de te agradecerem; a nós, porém, concedeste o alimento e a bebida espirituais e a vida eterna, por teu servo. Antes de tudo te damos graças por seres poderoso; a ti a glória pelos séculos.

Lembra-te, Senhor, de tua Igreja para defendê-la de todo mal e torná-la perfeita em tua caridade; reúne-a, santificada, dos quatro ventos em teu reino que lhe preparaste; porque teu é o poder e a glória pelos séculos.

Venha a graça e passe este mundo! Hosana ao Deus de Davi! Quem é santo, aproxime-se; se não o for, faça penitência; Maranatha, amém.

Congregados no dia do Senhor, parti o pão e dai graças, depois de terdes confessado vossos pecados, a fim de ser puro vosso sacrifício. Todo aquele, porém, que tiver uma desavença com seu companheiro, não se junte a vós antes de se terem reconciliado, para que não seja profanado vosso sacrifício. Pois foi o Senhor que disse: Em todo lugar e em todo tempo oferecer-me-eis um sacrifício puroporque sou o grande rei, diz o Senhor, e é admirável o meu nome entre as nações.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Meu Senhor e meu Deus!


Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa.
(Hom. 25,7-9:PL76,1201-1202)
(Séc.VI)

Meu Senhor e meu Deus!

Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio (Jo 20,24). Era o único discípulo que estava ausente. Ao voltar, ouviu o que acontecera, mas negou-se a acreditar. Veio de novo o Senhor, e mostrou seu lado ao discípulo incrédulo para que o pudesse apalpar; mostrou-lhe as mãos e, mostrando-lhe também a cicatriz de suas chagas, curou a chaga daquela falta de fé. Que pensais, irmãos caríssimos, de tudo isto? Pensais ter acontecido por acaso que aquele discípulo estivesse ausente naquela ocasião, que, ao voltar, ouvisse contar, que, ao ouvir, duvidasse, que, ao duvidar, apalpasse, e que, ao apalpar, acreditasse?

Nada disso aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A clemência do alto agiu de modo admirável a fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discípulo que duvidara curasse as chagas da nossa falta de fé. A incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram logo. Pois, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde apalpar, o nosso espírito, pondo de lado toda dúvida, confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreição.

Tomé apalpou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo 20,28-29). Ora, como diz o apóstolo Paulo: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem (Hb 11,1). Logo, está claro que a fé é a prova daquelas realidades que não podem ser vistas. De fato, as coisas que podemos ver não são objeto de fé, e sim de conhecimento direto. Então, se Tomé viu e apalpou, por qual razão o Senhor lhe disse: Acreditaste, porque me viste? É que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e proclamou a fé na sua divindade, exclamando: Meu Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem não podia ver.

Alegra-nos imensamente o que vem a seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). Não resta dúvida de que esta frase se refere especialmente a nós. Pois não vimos o Senhor em sua humanidade, mas o possuímos em nosso espírito. É a nós que ela se refere, desde que as obras acompanhem nossa fé. Com efeito, quem crê verdadeiramente, realiza por suas ações a fé que professa. Mas, pelo contrário, a respeito daqueles que têm fé apenas de boca, eis o que diz São Paulo: Fazem profissão de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prática (Tt 1,16). É o que leva também São Tiago a afirmar:A fé, sem obras, é morta (Tg 2,26).