1º Domingo Quaresma 01/03/2020
Gn 2,7-9; 3,1-7 Sl 50 Rm 5,12-19 Mt 4,1-11
Normalmente começo meus textos com uma história, mas, hoje vou deixá-la para o final. Estas histórias têm me ajudado a entender a importância da construção do Reino de Deus, do mundo de justiça que buscamos e que não acontecerá sem que o forjemos.
Quem defende seus direitos e os direitos violados da humanidade e do planeta, quem entende que os pobres aumentam no mundo por falta de políticas públicas que distribuam as riquezas produzidas, quem ama a natureza e se entende cidadão planetário, tem diante de si duas opções, perseverar ou desistir do Reino de Justiça.
Jesus no texto de hoje Mt4,1-11, experimenta e sobrevive a três tentações.
Há quem ache que a tentação está ligada à sexualidade. Fixam nisso e perdem o foco. Somos sexuados da cabeça aos pés e esta é nossa força vital.
Há os que pensam na tentação como preguiça de cumprir rituais, de ir à missa aos domingos, aos cultos e aos outros espaços de celebração religiosa. Muita gente se esquece que o local e o momento celebrativos são importantes, mas, precisam se estender para a vida ‘lá fora’.
Ir ao culto e desejar a morte do outro;
ir ao culto e trocar o mandamento “amai-vos” por “armai-vos”;
professar a fé cristã e achar normal que uns comam e outros passem fome;
acomodar-se e acostumar-se com a desigualdade e a corrupção;
isto sim, é uma tentação à qual muita gente tem cedido. Precisamos falar sobre isso. O demônio, como fez com Jesus no deserto, tem soprado aos nossos ouvidos e as opções se colocam: vencemos a tentação ou nos aderimos a ela.
Jesus é nosso modelo. Por quarenta dias no deserto foi tentando pelo demônio quanto ao poder, prazer e posse. Argumentou diante de cada tentação e não cedeu. “Manda que estas pedras se transformem em pão... nem só de pão vive o homem”. “Atira-te neste precipício que Deus o socorrerá... não tentarás o Senhor teu Deus”. “Adora-me e te farei senhor de tudo o que vez... adorarás unicamente a Deus e só a ele prestarás culto”.
O deserto é onde o coração toma o lugar dos ouvidos e escuta os sons mais diversos. E não adianta fugir, porque todo ser humano passa pelos seus desertos e eles são importantes. Ele pode ser o centro da cidade com seu corre-corre de carros e pessoas, pode ser nosso quarto, nosso trabalho, nossos momentos de ócio. O deserto também é o lugar de onde saímos fortalecidos como Jesus saiu, lá é onde nossas opções se dão, lá é onde nos impulsionamos para construirmos o que consideramos importante para nossa vida e para a vida que nos rodeia.
Mas é bom lembrar também que às vezes, os desertos são muito áridos e precisamos de ajuda. Já passei por deserto bem dolorido e não teria saído se não fossem algumas mãos e ferramentas estendidas em minha direção. Sendo assim, se tiver difícil, lembremo-nos: não somos auto suficientes, nos precisamos mutuamente. Jesus, após vencer três tentações, teve companhia em seu deserto.
Há uns quatro anos fui participar de uma celebração em Santa Cruz, na CEB Santa Veridiana e ganhei uma bolsa de pano confeccionada pelas mulheres da comunidade. Quando a desdobrei percebi que as alças não estavam costuradas, mas, somente alinhavadas. Logo, qualquer peso que colocasse nela, não suportaria. Pensei: esqueceram de costurar. Vou falar com a Eunice. A resposta foi rápida e linda, linda, linda. “Aqui é uma CEB. Todo mundo tem que participar, todo mundo tem que colocar a mão na massa. Deixamos uma parte da confecção para que você a faça”.
Esta é a história de hoje.
O Brasil vive um momento muito difícil, de muita intolerância e de desrespeito aos direitos do povo. Nosso deserto não está além-mar, está aqui. Vamos atravessá-lo de mãos dadas? Ninguém pode cruzar os braços. Ninguém pode soltar a mão de ninguém.
“Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti” Santo Agostinho
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2020
Reimont – Paz e bem
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