sábado, 19 de abril de 2025

Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo!

 



Meus irmãos e minhas irmãs,

Celebramos hoje o coração da nossa fé: a Ressurreição de Jesus. O evangelho de Lucas nos conduz até aquele momento tão especial, tão surpreendente e tão cheio de mistério. Algumas mulheres, que haviam acompanhado Jesus, foram ao túmulo bem cedo, ainda no escuro da madrugada. Levaram perfumes, levaram amor, levaram saudade… mas encontraram um túmulo vazio.

A primeira coisa que esse Evangelho nos ensina é que Deus surpreende. Aquelas mulheres esperavam encontrar um corpo, e encontraram a Vida. Esperavam morte, e foram visitadas pela esperança. E ali ouviram aquela pergunta que ecoa até hoje em nossos corações: "Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?" Essa pergunta não é só para elas. É também para nós.

Quantas vezes, procuramos sentido da vida onde ele não está? Quantas vezes buscamos alegria nas coisas passageiras, paz no dinheiro, esperança nas promessas do mundo? Muitas vezes estamos como aquelas mulheres: olhando para trás, presos ao que já passou, sem perceber que Deus já nos abriu um novo caminho.

Jesus ressuscitou! Ele não está mais no túmulo, Ele está vivo e caminha conosco. Está na comunidade reunida, está no pão partilhado, está no coração de quem acredita.

Mas vejam: quando as mulheres vão contar isso aos discípulos, eles não acreditam. Acham que é “delírio”. Isso mostra que até mesmo os mais próximos de Jesus têm dificuldade de aceitar a novidade de Deus. Porque a ressurreição não é algo que se entende com a cabeça… é algo que se acolhe com o coração, com a fé.

Mesmo assim, Pedro vai até o túmulo. Ele corre. Ele quer ver com os próprios olhos. E volta admirado 

Meus irmãos, essa admiração é o começo da fé. Quando a gente se permite ficar tocado, questionado, transformado… o ressuscitado se revela.

Então, o que esse Evangelho nos pede hoje?

– Que a gente deixe os túmulos do passado.

– Que paremos de buscar a vida nas coisas que nos prendem.

– Que nos abramos ao novo que Deus quer fazer nascer em nós.

– E que sejamos anunciadores da ressurreição, como aquelas mulheres corajosas.

A Páscoa é isso: um convite à coragem, à fé e à esperança. 

Cristo ressuscitou! E nós também podemos ressuscitar com Ele: para uma vida nova, mais livre, mais confiante e mais cheia de amor. 

Amém.

Oração 

Senhor Jesus, o túmulo está vazio, e nosso coração se enche de esperança. 

Tu não estás entre os mortos, Tu estás vivo, caminhas conosco nas estradas da vida, e nos enches de luz mesmo nas madrugadas escuras da alma.

Ajuda-nos a não buscar a vida onde só há morte. Abre nossos olhos para o novo, fortalece nossa fé diante das dúvidas, e faz de nós anunciadores da tua ressurreição. 

Que a alegria pascal transforme nossa rotina, e que a tua presença ressuscitada nos acompanhe hoje e sempre.







Eis o lenho da cruz! Sexta-feira Santa

 



O relato da Paixão segundo João (João 18,1–19,42) não é apenas uma narrativa de sofrimento; é um mapa espiritual, cheio de lições de vida que podem nos transformar profundamente. A cruz de Cristo, em João, é luz não escuridão. Vamos refletir sobre algumas lições existenciais e espirituais que esse texto nos oferece:

1. Amar é se entregar até o fim.

Jesus se entrega livremente. Ninguém tira sua vida. Ele a oferece por amor.  Amar de verdade é doar-se, não pela metade, mas inteiro. É ter coragem de colocar o outro em primeiro lugar, mesmo quando isso custa. 

2. A verdadeira força está na mansidão.

Diante da violência, Jesus não revida. Diante da acusação, Ele permanece firme e sereno. A verdadeira força não está no grito, no poder, nem na vingança. Está na paz interior e na  fidelidade à verdade.

3. Servir é o caminho do discípulo.

Na Paixão, Jesus reina servindo. Ele carrega a cruz, não para ser glorificado diante do mundo, mas para libertar a humanidade. O caminho do cristão não é o da autopromoção, mas o do serviço silencioso e generoso.

4. A cruz revela a nossa humanidade.

Pedro nega. Judas trai. Pilatos lava as mãos. Os discípulos fogem. Todos têm medo. Somos frágeis. Mas Deus nos ama mesmo assim. A cruz revela não só o pecado do homem, mas a paciência de Deus conosco.

5. A cruz cria uma nova família.

No alto da cruz, Jesus entrega sua Mãe ao discípulo e o discípulo à sua Mãe. No sofrimento e no amor, nasce a comunidade. Somos chamados a **cuidar uns dos outros como irmãos e irmãs, filhos do mesmo amor.

6. Do sofrimento pode nascer a vida.

Do lado aberto de Jesus jorram sangue e água, símbolos do Batismo e da Eucaristia. Mesmo nos momentos mais duros da vida, Deus pode fazer brotar graça. Nenhuma dor é inútil quando oferecida com amor.

7. Entregar-se a Deus é o gesto mais alto da fé. 

As últimas palavras de Jesus: "Tudo está consumado." É o gesto de quem confia plenamente no Pai, mesmo quando tudo parece perdido. Há momentos em que não entendemos tudo, mas podemos nos entregar com fé, acreditando que Deus está agindo, mesmo no silêncio da cruz.

A cruz é escola de amor, não de dor. João não nos convida a lamentar, mas a contemplar com fé. Ele quer que vejamos na cruz o triunfo do amor, o caminho da vida verdadeira. Quem contempla essa entrega aprende que a vida vale a pena quando é doada.


ORAÇÃO

Senhor Jesus,

diante da tua cruz, eu me calo e contemplo.

Tu te entregaste por amor, sem reclamar, sem recuar.

Ensina-me a amar assim: com coragem, com mansidão, até o fim.

Recebe minha vida, como Tu entregaste a Tua ao Pai.

Amém.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Quinta-feira Santa

 


O significado existencial de João 13,1-15 toca profundamente naquilo que somos, na nossa maneira de viver, nos nossos relacionamentos e no nosso modo de compreender o sentido da vida à luz de Cristo. Esse trecho do evangelho nos oferece um modelo de humanidade plena, vivida no amor e no serviço. Vamos olhar por partes:

 1. Humildade como caminho de realização.

Jesus, mesmo sendo Mestre e Senhor, se abaixa, se ajoelha diante dos outros. No mundo, muitos acham que o valor da pessoa está em dominar, mandar, brilhar. Mas Jesus inverte essa lógica: a grandeza está em servir.

Isso nos desafia a abandonar o orgulho, o desejo de superioridade e a busca por reconhecimento. Realmente crescemos como pessoas quando somos capazes de nos inclinar diante do outro com amor.

 2. Acolher o outro na sua fragilidade.

Lavar os pés de alguém é tocar no que é mais sujo, mais cansado, mais desgastado. É tocar naquilo que muitos evitam.

 Na nossa vida cotidiana, isso significa acolher o outro com suas fraquezas, limites, dores e imperfeições. Viver esse evangelho é deixar de lado julgamentos e posturas frias e nos aproximarmos dos outros com cuidado, ternura e compaixão.

 3. Aceitar ser cuidado também.

 Pedro inicialmente recusa ser lavado por Jesus. Isso revela algo muito humano: a dificuldade de aceitar ajuda, de mostrar vulnerabilidade, de permitir que alguém nos sirva.

 Existencialmente, isso nos faz refletir sobre nossa resistência em ser cuidados, ser tocados, ser amados de verdade. Às vezes, é mais difícil deixar-se amar do que amar. Mas Jesus diz: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo.” Ou seja, é preciso deixar-se amar para viver a comunhão.

4. Amor como escolha concreta.

Jesus não fala apenas de amor; Ele faz o amor acontecer num gesto simples, cotidiano e radical. Amar “até o fim” não é algo sentimental, mas uma escolha diária de se doar.

 Para nós, isso significa viver o amor no dia a dia: escutar com atenção, perdoar, ter paciência, ajudar sem esperar retorno. O lava-pés é o símbolo de tudo isso. Amar é servir com simplicidade.

 5. Transformar relações pelo serviço.

 A comunidade que nasce desse gesto é uma comunidade de iguais: ninguém está acima, todos se lavam os pés  mutuamente. O lava-pés cria uma nova forma de se relacionar, onde ninguém domina e ninguém é descartado.

 Na nossa existência, isso nos desafia a rever como tratamos os outros: em casa, no trabalho, na Igreja, na sociedade. A pergunta é: estou disposto a servir ou quero sempre ser servido?

 O sentido da vida: amar até o fim.

Por fim, esse gesto nos revela que o sentido mais profundo da existência humana é amar até o fim, como fez Jesus. Esse amor se expressa em ações concretas, humildes e silenciosas. Não se trata de grandes feitos, mas de fidelidade no amor cotidiano.

O texto do lava-pés é um espelho para o nosso viver. Nele, vemos quem Deus é — amor que se curva — e também quem nós somos chamados a ser.

 Mais do que um ensinamento moral, é um convite à transformação do nosso jeito de ser no mundo: menos ego, mais doação. Menos aparência, mais essência. Menos disputa, mais serviço.

 Oração

Senhor Jesus,

Tu que lavaste os pés dos teus discípulos,

lava também meu coração.

Ensina-me a servir com humildade, a amar sem medida

 e a reconhecer tua presença no outro.

Faz de mim instrumento do teu amor.

Amém.