sexta-feira, 18 de abril de 2025

Quinta-feira Santa

 


O significado existencial de João 13,1-15 toca profundamente naquilo que somos, na nossa maneira de viver, nos nossos relacionamentos e no nosso modo de compreender o sentido da vida à luz de Cristo. Esse trecho do evangelho nos oferece um modelo de humanidade plena, vivida no amor e no serviço. Vamos olhar por partes:

 1. Humildade como caminho de realização.

Jesus, mesmo sendo Mestre e Senhor, se abaixa, se ajoelha diante dos outros. No mundo, muitos acham que o valor da pessoa está em dominar, mandar, brilhar. Mas Jesus inverte essa lógica: a grandeza está em servir.

Isso nos desafia a abandonar o orgulho, o desejo de superioridade e a busca por reconhecimento. Realmente crescemos como pessoas quando somos capazes de nos inclinar diante do outro com amor.

 2. Acolher o outro na sua fragilidade.

Lavar os pés de alguém é tocar no que é mais sujo, mais cansado, mais desgastado. É tocar naquilo que muitos evitam.

 Na nossa vida cotidiana, isso significa acolher o outro com suas fraquezas, limites, dores e imperfeições. Viver esse evangelho é deixar de lado julgamentos e posturas frias e nos aproximarmos dos outros com cuidado, ternura e compaixão.

 3. Aceitar ser cuidado também.

 Pedro inicialmente recusa ser lavado por Jesus. Isso revela algo muito humano: a dificuldade de aceitar ajuda, de mostrar vulnerabilidade, de permitir que alguém nos sirva.

 Existencialmente, isso nos faz refletir sobre nossa resistência em ser cuidados, ser tocados, ser amados de verdade. Às vezes, é mais difícil deixar-se amar do que amar. Mas Jesus diz: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo.” Ou seja, é preciso deixar-se amar para viver a comunhão.

4. Amor como escolha concreta.

Jesus não fala apenas de amor; Ele faz o amor acontecer num gesto simples, cotidiano e radical. Amar “até o fim” não é algo sentimental, mas uma escolha diária de se doar.

 Para nós, isso significa viver o amor no dia a dia: escutar com atenção, perdoar, ter paciência, ajudar sem esperar retorno. O lava-pés é o símbolo de tudo isso. Amar é servir com simplicidade.

 5. Transformar relações pelo serviço.

 A comunidade que nasce desse gesto é uma comunidade de iguais: ninguém está acima, todos se lavam os pés  mutuamente. O lava-pés cria uma nova forma de se relacionar, onde ninguém domina e ninguém é descartado.

 Na nossa existência, isso nos desafia a rever como tratamos os outros: em casa, no trabalho, na Igreja, na sociedade. A pergunta é: estou disposto a servir ou quero sempre ser servido?

 O sentido da vida: amar até o fim.

Por fim, esse gesto nos revela que o sentido mais profundo da existência humana é amar até o fim, como fez Jesus. Esse amor se expressa em ações concretas, humildes e silenciosas. Não se trata de grandes feitos, mas de fidelidade no amor cotidiano.

O texto do lava-pés é um espelho para o nosso viver. Nele, vemos quem Deus é — amor que se curva — e também quem nós somos chamados a ser.

 Mais do que um ensinamento moral, é um convite à transformação do nosso jeito de ser no mundo: menos ego, mais doação. Menos aparência, mais essência. Menos disputa, mais serviço.

 Oração

Senhor Jesus,

Tu que lavaste os pés dos teus discípulos,

lava também meu coração.

Ensina-me a servir com humildade, a amar sem medida

 e a reconhecer tua presença no outro.

Faz de mim instrumento do teu amor.

Amém.


Nenhum comentário:

Postar um comentário