Da Exortação ao martírio, de Orígenes, presbítero
(Nn. 41-42: PG 11,618-619)
(Séc.III)
Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo,
participarão também da consolação que ele dará.
Se passamos da morte para a vida (1Jo 3,14), ao passarmos da infidelidade para a fé, não nos admiremos se o mundo nos odeia. Com efeito, quem não tiver passado da morte para a vida, mas permanecer na morte, não pode amar aqueles que abandonaram a tenebrosa morada da morte, para entrar na morada feita de pedras vivas, onde brilha a luz da vida.
Jesus deu a sua vida por nós (1Jo 3,16); portanto, também nós devemos dar a vida, não digo por ele, mas por nós, quero dizer, por aqueles que serão construídos, edificados, com o nosso martírio.
Chegou o tempo, cristãos, de nos gloriarmos. Eis o que está escrito: E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança; e a esperança não decepciona. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,3-5).
Se, à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo (2Cor 1,5), acolhamos com entusiasmo os sofrimentos de Cristo; e que eles sejam muitos em nós, se desejamos realmente obter a grande consolação reservada para todos os que choram. Talvez ela não seja igual medida para todos. Pois se assim fosse não estaria escrito: à medida que os sofrimentos de Cristo crescem em nós, cresce também a nossa consolação.
Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo, participarão também da consolação que ele dará em proporção aos sofrimentos suportados por seu amor. É o que nos ensina aquele que afirmava cheio de confiança: Assim como participais dos sofrimentos, participareis também da consolação (cf. 2Cor 1,7).
Da mesma forma Deus fala através do Profeta: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da salvação, eu te socorri (cf. Is 49,8; 2Cor 6,2). Haverá, por acaso, tempo mais favorável do que esta hora, quando por causa do nosso amor a Deus em Cristo somos publicamente levados prisioneiros neste mundo, porém mais como vencedores do que como vencidos?
Na verdade, os mártires de Cristo, unidos a ele, destroçam os principados e as potestades, e com Cristo triunfam sobre eles. Deste modo, tendo participado de seus sofrimentos, também participam dos merecimentos que ele alcançou com a sua coragem heróica. Que outro dia de salvação haverá tão verdadeiro como aquele em que deste modo partireis da terra?
Rogo-vos, porém, que não deis a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado; mas em tudo comportai-vos como ministros de Deus, com grande paciência (cf. 2Cor 6,3-4), dizendo: E agora, Senhor, que mais espero? Só em vós eu coloquei minha esperança! (Sl 38,8).
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