sábado, 20 de novembro de 2021

Dia Nacional da Consciência Negra.


 Hoje, celebramos a Dia Nacional da Consciência Negra.

Com certeza, vamos ouvir pessoas dizerem que é consciência humana. Que isso é uma afronta.

Entretanto, devemos ficar atentos! Ter um dia para fazermos memória à consciência negra, é uma oportunidade para recordamos que nosso país foi construído através do trabalho escravo de pessoas negras. Que durante muitos século, sofreram violências físicas e verbais. Executaram trabalhos forçados sem remuneração adequada. Que foram privados de moradia digna. De assistência médica. De alimentação adequada. 

Esse é um dia para relembrarmos isso! E ainda mais, para olharmos para nossas irmãs e irmãos negros que em pleno século XXI são agredidos/as em sua dignidade como pessoas. São abordados por forças polícias como se fossem criminosos. São violentados e violentas. São mortas e mortos. Ainda existe um grupo de pessoas brancas que se acham melhores e superiores aos outros grupos étnicos.

A Igreja Católica Apostólica Romana europeia nos trouxe, como devoção, uma série de santas e santos brancos e brancas. Europeizaram as figuras de Jesus e de Maria. E nós, como filhas e filhos do Deus que não faz acepção de pessoas, agimos na história da humanidade. E para isso, nossa Igreja faz memória a santas e santos negros. Nossa tradição católica revela que um dos "reis magos" era negro.

Hoje somos chamadas e chamados a olharmos a cultura negra como uma manifestação do amor de Deus entre nós. Valorizar suas expressões culturais. Sua forma de render culto a Deus. Devemos valorizar seus instrumentos musicais, valorizar seu modo de se vestir. Valorizar as danças. A comida.

O salmo 150 nos convida a louvarmos a Deus com tudo aquilo que possa emitir som. A manifestação da alegria humana diante de Deus faz com que o louvemos com todos os instrumentos que a humanidade produza. Esse salmo fala em címbalos sonoros, que são os instrumentos de percussão. 

Para que possamos ter sempre em mente que Deus é Pai de todas e todos, listo aqui, alguns santos e santas negros da história da Igreja.

Nossa Senhora Aparecida

São Benedito

Santo Agostinho de Hipona

São Martinho de Lima

Santa Josefina Bakhita

São Maurício 

Santa Efigênia 

Santo Antônio de Categeró

Beato Pe. Victor

Beata Nhá Chica

Todas a santos e santas negros e negras de Deus, rogai por nós.

Paz de Cristo. Axé. Saravá.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Sinodalidade


 As palavras, e seus derivados, fazem a gente se confundir. Nesses dias, estamos, na Igreja Católica Apostólica Romana, vivendo uma experiência estranha a nós, a Sinodalidade. E, confundimos com Sínodo.

Sínodo é uma reunião convocada pelo Papa para que os bispos possam debater sobre um determinado assunto, e que resposta eles darão aos crentes e não crentes.

O Sínodo convocado para 2023 tem um tema, a Sinodalidade. Essa palavra significa caminhar juntos. O Papa traz para a igreja uma nova forma de ver. Caminhar juntos significa criar espaços de escuta daquilo que pensar toda a comunidade cristã. E essa deveria ter sido uma prática da Igreja.

Jesus praticou a sinodalidade. Vamos lembrar?

Quando ele pergunta aos discípulos o que as pessoas dizem quem ele é, isso é sinodalidade. Quando Jesus tem que tomar uma decisão se aquela mulher seria apedrejada ou não, e ele ouve os argumentos dos algozes, é uma forma de sinodalidde. Reversa. Pois a ação dele é de libertação daquela pessoa.

A Igreja, desde o início, também viveu a sinodalidade. Quando da escolha dos 7 diáconos, os apóstolos ouviram a comunidade grega, e esta escolheu aqueles que a serviriam.

Não estamos acostumados a falar dentro da Igreja. Recebemos as coisas prontas. Estamos confusos no que devemos falar e fazer. Tenho observado que nossos irmãos e irmãs leigas sempre fazem referência ao clero, pois somos uma igreja clerical, e não ministerial. Não sabemos que a igreja deve caminhar junto com a humanidade, não só com os católicos. Somos fundamentalistas farisaicos. Queremos regras de conduta. Regras morais. E por isso, esperamos que o clero nos diga o que temos que fazer.

A sinodalidade é um novo jeito de a Igreja se ver. É um novo jeito de nos comunicarmos. Claro que não vamos mudar regras, mas podemos dizer como vamos viver com juntos. Como podemos "caminhar juntos".

Sempre que a Igreja precisa dar uma resposta a alguma questão vital, ela convoca um sínodo. Lembremos alguns: Juventude, Família, Amazônia. Existem outros. Evangelizar não é só anunciar o evangelho. É compreender as necessidades do momento histórico para dar a resposta adequada, à luz da evangelho, aos anseios da humanidade.

A sinodalidade é um jeito concreto de vivermos as Bem Aventurança. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

"Caminhar Juntos"!


O papa Francisco convocou um Sínodo dos Bispos para ano de 2023. 

O Documento que vai servir de base para esse sínodo será fruto de uma ampla escuta da comunidade humana. O Papa quer escutar todas e todos, católicos e não católicos, crentes e não crentes. É uma atitude evangélica, inspirada na prática de Jesus Cristo.

Ao lermos e meditarmos os evangelhos de Jesus, vemos que ele foi ao encontro de todas e todos que estavam longe por algum motivo. Fosse porque a lei (doutrina) os afastava da graça de Deus, seja porque não faziam parte do "povo de Deus", e por isso eram discriminados e rejeitados no seu jeito de ser e de viver,

A leitura do evangelho de hoje nos faz pensarmos como agimos diante daqueles e daquelas que não fazem parte de nosso grupinho religioso. 

Dez leprosos caminhavam. Quando avistaram Jesus, gritaram, "Mestre, tem compaixão de nós"! Hoje, muitas irmãs e muitos irmãos, se apresentam diante de nós, e gritam, "tem compaixão de nós". E, muitas vezes, viramos as costas. Viramos as costas porque não andam com a gente no mesmo grupo religioso. Porque não são católicos apostólicos romano. Porque não vão à missa. Porque não rezam o terço, e não tem outras práticas religiosas. 

O exemplo de inclusão que Jesus realiza é fantástico. Os 10 leprosos, a Samaritana, a mulher Cananeia, os cegos-coxos-aleijados, as mulheres em situação de prostituição, as mulheres que eram consideradas excluídas, e as crianças.

Jesus sempre caminhou junto com os que não estavam de acordo com a lei. Comia com os pecadores, frequentava a casa dos publicanos. Conversava com o chefe dos cobradores de impostos. Teve no seu grupo de apóstolos pecadores públicos, revolucionários, pescadores. 

Jesus é o exemplo de como a Palavra de Deus nos mostra que devemos caminhar juntos. Por isso, ele se auto proclamou "caminho, verdade e vida". Ele é o caminho da comunhão, da unidade, da aceitação. Ele é a verdade que nos faz ver do mesmo jeito que Deus, ou seja, o Pai Nosso. Ele é a vida, pois suas palavras, de inclusão, geram vida para a humanidade.

Através desse Sínodo, o Papa quer que aprendamos a sairmos de nós mesmos. Que possamos olhar para a humanidade com um olhar de misericórdia, e anunciar a Palavra de Deus como um novo jeito de ser. Um novo jeito de ser na Igreja, na sociedade, na família. Um jeito sem ódios ou rancores, um jeito de fraternidade e solidariedade. Não podemos ser disseminadores de ódios, ofensas. Não podemos ter atitudes racistas, misóginas, homofóbicas. Não podemos apoiar políticas públicas que gerem morte, que destruam a natureza, que façam as pessoas comerem ossos ao invés de carne.

"Caminhar Juntos", essa é a convocação do Papa Francisco para o Sínodo de 2023. E quem caminha junto não escolhe o companheiro ou companheira de viagem, mas se compadece de sua fraqueza, de suas angústias, de suas tristezas, de sua dores. 

Jesus se fez um com os outros. E por isso, devemos ser um com os outros também.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar.

 


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 15,1-10

Naquele tempo: 1Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.' 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 4'Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, 6e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: 'Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!' 7Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la? 9Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: 'Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!' 10Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.' 

Palavra da Salvação.

Temos um jeito meio narcisista de tratarmos a nossa fé. Sempre achamos que somos melhores porque vamos à missa, porque rezamos o terço, porque pagamos dízimo, porque fazemos adoração ao santíssimo, porque frequentamos os sacramentos, dentre outras manifestações religiosas exteriores.

Entretanto, muitas vezes, viramos as costas para as pessoas que necessitam fazer esse encontro com Deus, pois queremos que as pessoas façam a mesma experiência com Deus, como se houvesse um jeito único de Deus se revelar a cada um de nós.

O evangelho de hoje nos faz meditar sobre nossas práticas religiosas no dia-a-dia. Lucas destaca que os pecadores e os publicanos iam ter com Jesus para ouvi-lo. E Jesus aproveitando essa abertura, não se fez de rogado, e ia ao encontro deles fazendo refeição com eles. Interessante esse gesto. Jesus não esperou que os pecadores e publicanos fossem ao seu encontro apenas. Ele se fez um com eles. Participou da sua vida concretamente. Não é possível evangelizar sem conhecer a vida íntima daqueles e daquelas aos quais somos enviados/enviadas.

Fazer refeição é participar da intimidade. É colocar-se no lugar do outro para conhecer o que ele pensa, e para saber o que se deve dizer. Como anunciar Deus aos pecadores e publicanos?

Jesus contou duas histórias para ilustrar sua atitude. Jesus partiu da experiência religiosa dos mestre da lei para mostrar que Deus não veio buscar e resgatar os que já são puros e santos. Mas, Ele veio para buscar os que se desviaram do caminho. 

Aprendamos com Jesus a ir ao encontro daqueles e aquelas que estão fora do redil. 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O Senhor esteve ao meu lado, e me deu forças!


Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 4,10-17b

Caríssimo: 10Demas me abandonou por amor deste mundo, e foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, Tito para a Dalmácia. 11Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é útil para o ministério. 12Mandei Tíquico a Éfeso. 13Quando vieres, traze contigo a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. 14Alexandre, o ferreiro, tem-me causado muito dano; o Senhor lhe pagará segundo as suas obras! 15Evita-o também tu, pois ele fez forte oposição às nossas palavras. 16Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. 17Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações.

Palavra do Senhor.

Interessante esse texto. Observemos. Paulo faz um pedido a Tito, e, ao mesmo tempo, abre o coração ao amigo (faz um desabafo) falando daqueles que o abandonaram, ou que começaram a contestar sua pregação, seu ensinamento. Inclusive, diz que um dos discípulos, Demas, abandonou-o para se entregar aos prazeres do mundo. Interessante observar que os primeiros cristãos tinham como prática, romper com práticas mundanas. 

Em seguida, relata que Crescene foi para a Galácia. É Paulo enviando seus discípulos em missão. E que com ele, ficou somente Lucas. Por isso, ele pede a Timóteo que traga Marcos para lhe fazer companhia. E pede os pergaminhos. Paulo era um homem letrado. Passava o tempo lendo, estudando, rezando. 

Conclui nos alertando para tomarmos cuidado quando nos opomos às palavras ditas pelos papas e bispos. Podemos estar incorrendo em erros graves. Principalmente, quando eles falam com a convicção de quem vive a Palavra que gera vida, e vida em abundância. Principalmente, quando eles anunciam o Reino de Deus como paz, acolhimento, compreensão, aceitação do diferente. 

Deixemos as palavras de Paulo ecoar em nossos corações: "o Senhor esteve ao meu lado, e me deu forças...".

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

"Aqui está quem é maior do que..."


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 11,29-32

Naquele tempo: 29Quando as multidões se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: 'Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. 30Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. 31No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente com os homens desta geração, e os condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão. 32No dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas.'

Palavra da Salvação.

Interessante olhar a leitura de hoje.

Poderíamos ficar presos a sinais, pois é isso que nossa geração do século XXI busca também. Muitos buscam sinais extraordinários. Nos parece que isso faz parte da humanidade. Só creem se houver uma intervenção divina direta nas suas vidas.

Jesus nos alerta que mais do que intervenções extraordinárias, ouvir a palavra de Deus é o que importa. E mais ainda, aqueles que não estão no "grupinho", no grupo de pastoral, na Igreja, são aqueles que mais estão abertos à Palavra de Deus.

Leis, doutrinas, determinações devem estar subordinadas a Palavra de Deus. E Jesus ousou. Quem vai nos julgar serão aqueles que não fazem parte do redil. Eles ouvem a palavra e se convertem. E quantos nós temos tantas práticas religiosas e não nos convertemos? Frequentamos Igreja, vamos à missa, rezamos terços e rosários, e não nos convertemos. Nossa prática religiosa tem sido vazia de humanidade. De vida. A fé exige um compromisso social. Não podemos cruzar os braços porque temos práticas para aliviar a mente, a cabeça, para nos sentirmos bem.

Religião é prática social. É vivência humanitária. 

sábado, 9 de outubro de 2021

Meditação sobre o 28º Domingo do Tempo Comum.


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,17-30

Naquele tempo: 17Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: 'Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?' 18Jesus disse: 'Por que me chamas de bom?' Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás;  não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!' 20Ele respondeu: 'Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude'. 21Jesus olhou para ele com amor, e disse: 'Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!' 22Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. 23Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: 'Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!' 24Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: 'Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!' 26Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: 'Então, quem pode ser salvo?' 27Jesus olhou para eles e disse: 'Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível'. 28Pedro então começou a dizer-lhe: 'Eis que nós deixamos tudo e te seguimos'. 29Respondeu Jesus: 'Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida - casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições - e, no mundo futuro, a vida eterna.

Palavra da Salvação.

A sagrada escritura diz que a palavra de Deus é luz para o meu caminho, e lâmpada os meus pés. 

Essa ideia se encaixa muito bem no dia de hoje. 

A primeira leitura nos leva a meditar sobre a Sabedoria. Segundo os exegetas e teólogos, a Sabedoria é o próprio Cristo. Pois ele nos é exemplo de quem olha para a vida com aquilo que Deus nos inspira. A sabedoria faz a gente ver tudo como Deus quer.

O autor do livro aos Hebreus, segunda leitura, nos mostra como é a força da Palavra de Deus. Ela não é vazia. Ela tem o poder de mudar pensamentos, ações, palavras. A Palavra de Deus é revolucionária em nossas vidas. Ele, se vivida corretamente, pode mudar as relações sociais. Ela cria a Nova Humanidade. 

O evangelho de hoje, nos conduz a uma situação corriqueira. Quem de nós não queremos viver eternamente?

Uma pessoa se aproxima de Jesus. Primeiramente, identifica nele a bondade. E Jesus lhe diz que todo aquele que é bom vem de Deus, pois só Deus é bom. Assim, se somos criados a imagem e semelhança de Deus, devemos ser bons. E mais do que isso, as pessoas devem ver esse reflexo da bondade de Deus em nós.

Segundo, a fórmula para se entrar no Reino de Deus é bem simples, basta viver uma relação com o próximo conforme a lei de Deus: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás;  não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe'! Não são práticas religiosas vazias que nos levarão à vida. Mas, a porta da vida está no outro, na relação que mantenho com ele. Na convivência e prática social que tenho. 

Pois bem, aquela pessoa, sendo uma boa pessoa, uma pessoa temente a Deus, retruca dizendo que já vive isso. E o que ainda lhe falta. 

Então, eis o grande pulo a ser dado, é preciso partilhar os bens que se possui na terra. Não basta, para quem quer ser mais, apenas seguir os mandamentos. É preciso "avançar para águas mais profundas". É preciso assumir um compromisso radical com Jesus.

Por isso, vende teus bens. Dá aos pobres. Quer dizer, assuma sua opção preferencial pelos pobres; toma a sua cruz, ou seja, assuma as minhas dores em sua vida, assuma toda a rejeição que implica em me seguir. "Tome a sua cruz, e siga-me".

O narrador do evangelho diz que a pessoa foi embora para a casa triste, pois era muito rico. Essa passagem de hoje, me faz lembrar o encontro de Santo Inácio de Loyola com São Francisco Xavier. Inácio dizia a Xavier uma frase do próprio evangelho, "do que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma"?

A palavra de hoje, nos chama a olharmos para dentro de cada um de nós. perguntarmos, o que temos feito para viver verdadeiramente a Palavra de Deus em minha vida? Tenho identificado Cristo nos irmãos e irmãs em situação de rua? Tenho me posicionado/posicionada contra toda forma de racismo, de misoginia, de homofobia? Trabalho para o diálogo com todas e todos, independentemente da religião que professam? Defendo a vida? Sou a favor da vacina para que todos possam ter vida, "e vida em abundância". 

Termino com o refrão do Salmo: "Sacia-nos, ó senhor, com o vosso amor, e exultaremos de alegria"!

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

"Vai e faze a mesma coisa"


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 10,25-37

Naquele tempo: 25Um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: 'Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?' 26Jesus lhe disse: 'O que está escrito na Lei? Como lês?' 27Ele então respondeu: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' 28Jesus lhe disse: 'Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás.' 29Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: 'E quem é o meu próximo?' 30Jesus respondeu: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto. 31Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. 33Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. 34Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. 35No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: 'Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais.' E Jesus perguntou: 36'Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?' 37Ele respondeu: 'Aquele que usou de misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai e faze a mesma coisa.'

Palavra da Salvação.

Hoje, o texto não nos demanda muita explicação ou meditação. É simples. Leis, doutrinas, determinações devem nos levar ao encontro de todas e todos que estão passando por alguma provação, ou necessidade, ou perseguição, ou exclusão social, 

A fé tem uma exigência social. A revolução social humana proposta por Jesus deve ser seguida pelos seus discípulos e discípulas. 

"Vai e faze a mesma coisa". Simples assim!

sábado, 25 de setembro de 2021

O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 9,43b-45

Naquele tempo: 43bTodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44'Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.' 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

Palavra da Salvação.

Breve palavra.

Enquanto as pessoas ficavam admiradas com as palavras de Jesus, Ele falava em ser entregue nas mãos dos homens para morrer. E os discípulos não compreendiam.

É interessante notar que o ensinamento de Jesus é um ensinamento que gera vida a partir da morte. É preciso regar o campo do mundo com o sangue que traz libertação, que faz ver o outro como pessoa humana também. Que não discrimina. Que acolhe. Que não faz distinção das pessoas pela cor da pele, pela religião que professa, pela opção de vida sexual que faça. 

Assim devem ser os discípulos de Jesus. Assumir o amor, o amor de Deus pela humanidade. E esse amor leva a doação da própria vida. Amém.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A fé é coroada pelo amor e a perseverança



Da última Exortação de Santo André Kim Taegón, presbítero e mártir

(Pro Corea. Documenta., ed. Mission Catholique Séoul, Séoul-Paris 1938, Vol. I, 74-75)

(Séc. XIX)

A fé é coroada pelo amor e a perseverança

Meus caríssimos irmãos e amigos, considerai como Deus no princípio dos tempos dispôs os céus, a terra e todas as coisas; meditai também com que especial intenção criou o ser humano à sua imagem e semelhança.

Se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador, de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos? Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e a sua graça; melhor seria não termos nascido do que, recebendo a sua graça, pecarmos contra ele.

Considerai o agricultor ao lançar a semente no campo: primeiro, prepara a terra com o suor do seu rosto e depois joga a preciosa semente; chegando o tempo da colheita, alegra-se de coração com as espigas cheias, esquecendo seu trabalho e suor, e dançando de alegria; se porém as espigas permanecem vazias não sendo mais que palha e casca, o agricultor deplora o duro labor com que suou, sentindo-se tanto mais desesperado quanto mais trabalhou.

De modo semelhante, cultiva o Senhor a terra como seu campo, sendo nós os grãos de arroz; rega-nos com o seu sangue na sua Encarnação e Redenção para que possamos crescer e amadurecer; quando, no dia do juízo, vier o tempo da colheita, quem pela graça for achado maduro gozará o reino dos céus como filho adotivo de Deus. Quanto aos outros, que não amadureceram, tornar-se-ão inimigos, punidos para sempre, embora também tenham se tornado filhos adotivos de Deus pelo batismo.

Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, ele a faz crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer: da Ascensão de Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no meio das tribulações.

Também nesta nossa terra da Coréia, durante os cinquenta ou sessenta anos em que a santa Igreja se estabeleceu aqui, os fiéis sempre sofreram perseguições. Hoje acendeu-se de novo a perseguição; muitos amigos são, como eu, lançados nos cárceres, enquanto também sofreis tribulações. Unidos num só corpo, como não ficarão tristes os nossos corações? Como, humanamente, não experimentarmos a dor da separação?

Deus, porém, como diz a Escritura, cuida de cada cabelo de nossa cabeça, e o faz com toda a sabedoria; portanto, como não considerar esta perseguição senão como permitida pelo Senhor, ou mesmo, seu prêmio ou, até, sua pena?

Abraçai, pois, a vontade de Deus, combatendo de todo o coração pelo vosso chefe Jesus e vencendo o demônio, já vencido por ele.

Eu vos peço: não deixeis de lado o amor fraterno, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.

Aqui somos vinte e, pela graça de Deus, todos ainda estão bem. Caso algum de nós venha a morrer, peço não negligenciardes a sua família. Muitas coisas teria ainda a dizer-vos, mas como posso exprimi-las em tinta e papel? Por isso vou terminar minha carta. Aproximando-se para nós a luta, peço-vos finalmente que caminheis com fidelidade, de modo que no céu nos possamos congratular. Deixo-vos aqui meu ósculo de amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

É necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna


 Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,13-17

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 13"Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele".

Palavra da Salvação.

Hoje festejamos a Exaltação da Santa Cruz. Não vou falar sobre a origem dessa festa que remonta ao século IV.

Quero convidar vocês a olharem para a cruz e meditar sobre ela. Lembremos que a cruz foi um instrumento de morte. Todo condenado a pena de morte, pelo império romano era sentenciado a morte de cruz. Essa condenação era reservada aos assassinos, aos opositores do império romano, e outros crimes considerados hediondos pela legislação romana. Para os judeus, o apedrejamento era a pena de morte para quem infligisse as leis. Portanto, somente os execrados pelo império romano eram crucificados. 

Jesus é condenado pelo poder religioso judaico. Entregue aos poder romano. Acusado de querer ser rei, e se fazer mais do que César. Por isso, fora julgado por ter cometido um crime hediondo.

Jesus tinha consciência de que iria ser morto na cruz. Em vários momentos nos evangelhos vemos ele fazendo essa previsão. Com certeza, Ele deve assistido várias execuções na cruz. Sabia da crueldade que era aquele martírio. 

Entretanto, sem a cruz, sem a passagem pela morte ignomínia de Cristo, não seria possível que a portas dos céus fossem abertas para nós. A entrada no Reino de Deus passa pela cruz. Lembremos, "quem quiser salvar a sua vida, tome a sua cruz e me siga". E esse seguir, é um seguir até na rejeição, na execração, na incompreensão.

A proposta de Jesus vai de encontro ao que prega o mundo. Lembremos das tentações narradas por Mateus. Jesus nunca negociou com o mal, com o pai da mentira. Jesus tinha consciência de que suas palavras e ações desafiavam as leis judaicas.

O texto do evangelho de hoje é travado com Nicodemus e Jesus. Lembremos que Nicodemus era um membro do sinédrio. E que reconhecia Jesus como vindo da parte de Deus. Um profeta.

O que nos interessa é que para se chegar ao céu, para que Jesus possa voltar de onde veio, é necessário ser elevado na cruz.

A cruz, para nós, deixou de ser instrumento de tortura e morte, e passou a ser altar de libertação e entrada no Reino de Deus.

Assumamos em nossas vidas as cruzes que são postas diante de nós. Lembremos que com Deus, mesmo na dor, ele está conosco. Tenhamos a coragem de vivermos a fé em Jesus, mesmo que passemos pela cruz.

Sem a cruz não há salvação. "É necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna".

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Não sou digno de que entres em minha casa

 


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 7,1-10

Naquele tempo: 1Quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. 3O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. 4Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: 'O oficial merece que lhe faças este favor, 5porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga.' 6Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: 'Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um : 'Vai!', ele vai; e a outro: 'Vem!', ele vem; e ao meu empregado 'Faze isto!', e ele o faz'.' 9Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: 'Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.' 10Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.

Palavra da Salvação.

Um oficial romano, pagão. O seu empregado. Anciãos dos judeus. Jesus, o filho do carpinteiro. 

Quatro personagens. Cada um com uma história de vida distinta. O oficial romano simbolizava o império opressor. Os Anciãos judeus, o poder religioso local. O doente, uma pessoa qualquer que estava a serviço do oficial romano. O texto na informa se era um empregado romano, ou judeu. Ou qual atividade ele exercia para esse oficial romano. E Jesus.

Esse oficial não se achava digno de ir ao encontro de Jesus, simplesmente, por ter outras pessoas sob o seu comando, além de ele mesmo obedecer ordens. E essas ordens, em algumas vezes, incluía perseguir, prender e condenar judeus. Os Anciãos eram os responsáveis pelas ações "litúrgicas" do povo judeu. Precisavam da sinagoga. E o oficial, seguindo o preceito do império romano, concedia aos hebreus o direito ao culto próprio. Sendo assim, ele financiou a construção da sinagoga de Cafarnaum. Neste sentido, esses Anciãos acharam importante interceder pelo doente do oficial romano.

Aqui, faço a primeira observação. Enquanto, em outros lugares, havia conflito dos religiosos judeus com Jesus, nesse caso, foram eles que se dirigiram a Jesus pedindo pelo doente.

A história se desenrola conforme lemos. Observemos, que Jesus não exige que o oficial romano se converta ao judaísmo. Jesus não pede nada a ele. Jesus vai ao encontro da pessoa que está doente. Ao saber disso, o oficial diz que não é digno de que Jesus entre em sua casa. Mas, que bastaria uma palavra e o servo ficaria curado. Jesus diz que nõ encontrou em Israel tamanha fé como aquela. 

Jesus realiza a cura à distância. Jesus não precisou estar do lado do doente. A fé do oficial foi suficiente para que o servo doente ficasse curado.

Uma história dessa para vermos o quanto criamos lugares para vivermos a nossa fé. A fé independe do lugar. O poder curativo de Jesus se dá em qualquer lugar.

Ir à sinagoga era importante. Mas crer em Jesus era fundamental para ser curado.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O que era antigo passou, eis que tudo se fez novo - Natividade de Nossa Senhora


 Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo

(Oratio 1:PG 97,806-810)            (Séc.VIII)

O que era antigo passou, eis que tudo se fez novo

O fim da lei é Cristo (Rm 10,4), que ao mesmo tempo separa da lei e eleva para o espírito. Nele está a consumação, pois o próprio legislador – tendo cumprido e terminado tudo – transfere a letra para o espírito. Assim tudo recapitula em si mesmo, vivendo a graça depois da lei. A lei, porém, submetida; a graça, harmoniosamente adaptada e unida. Não misturadas e confundidas as características de uma com as da outra, mas mudado de modo divino o que era pesado, servil e escravo, em leve e liberto, para que não mais estejamos reduzidos à servidão dos elementos do mundo (Gl 4,3), como diz o Apóstolo, nem sujeitos ao jugo da escravidão da letra da lei.

É este o resumo dos benefícios de Cristo para nós; é esta a manifestação do mistério; é o aniquilamento da natureza; é Deus e homem; é a deificação do homem assumido. Todavia era absolutamente necessário ao esplendor e à evidência da vinda de Deus aos homens uma introdução jubilosa, antecipando para nós o grande dom da salvação. Este é o sentido da solenidade de hoje que tem início na natividade da Mãe de Deus, cuja conclusão perfeita é a predestinada união do Verbo com a carne. Agora a Virgem nasce, é alimentada com leite, plasmada e preparada como mãe para o Deus e rei de todos os séculos.

Neste momento, foi-nos dado duplo proveito: um, a elevação à verdade; outro, a rejeição da servidão e da vida sob a letra da lei. De que modo, com que fim? Pelo desaparecimento da sombra com a chegada da luz; em lugar da letra, a graça que dá a liberdade. Nossa solenidade está na fronteira entre a letra e a graça, unindo a realidade que chega aos símbolos que a figuravam, substituindo o antigo pelo novo.

Portanto cante e exulte toda a criação e contribua com algo digno para a alegria deste dia. É um só o júbilo dos céus e da terra; juntos festejem tudo quanto está unido no mundo e acima do mundo. Pois hoje se construiu o templo criado do Criador de tudo, e pela criatura, de forma nova e bela, preparou-se nova morada para o seu Autor.

domingo, 29 de agosto de 2021

22º Domingo do Tempo Comum - 29-08 Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem


Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7,1-8.14-15.21-23

Naquele tempo: 1Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: 'Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?' 6Jesus respondeu: 'Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: 'Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos'. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens'. 14Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: 'Escutai todos e compreendei: 15o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. 21Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, 22adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. 23Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem'. 

Palavra da Salvação.

Ouvir e viver a Palavra de Deus, eis nossa reflexão de hoje. 

Na primeira leitura, ouvimos Moisés dando as diretrizes para que o povo pudesse viver feliz na terra prometida. E alertou para que não mudassem nada das leis de Deus.

A segunda leitura de hoje, tirada do livro de Tiago, é um alerta para nós de como estamos vivendo a nossa fé. Ele diz que não basta apenas ouvir Palavra, mas que se deve colocar em prática. E afirma que a religião pura é aquela que, movida pela Palavra de Deus, vai ao encontro dos que estão em sofrimento diante de nós. Não somos fieis de uma religião intimista ou individualista, toda nossa viva ascética deve nos levar ao encontro das dores do mundo.

No evangelho, vemos um embate entre Jesus e os fariseus. Estes estão mais preocupados com práticas vazias do que com a fé que nos move a fazer o bem. Os fariseus são mais cumpridores de preceitos religiosos do que viverem a fé verdadeira.

Jesus nos convida a olharmos para nós e nos conhecermos. As impurezas humanas são forjadas dentro do próprio ser humano. 

"Más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro do homem, e são elas que tornam impuro o homem". Essa é a realidade humana. Jesus nos chama a olharmos para dentro de nós mesmos, e evangelizarmos nossas gestos e ações.

Lembro-me de que a algum tempo atrás, na missa, rezávamos assim, "confesso a Deus, e a vós irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes, por palavras, atos e omissões". É disso que Jesus fala. 

As leituras de hoje nos convidam a uma mudança de vida, vivendo e acolhendo a Palavra de Deus que me impulsiona a mudar as estruturas injustas de nossa sociedade.

Deus lhe abençoe. Bom Domingo. Até semana que vem!

sábado, 28 de agosto de 2021

Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade!

Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo

 (Lib. 7,10.18;10,27: CSEL 33,157-163.255)
(Séc.V)

Instigado a voltar a mim mesmo, entrei em meu íntimo, sob tua guia e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio (cf. Sl 29,11). Entrei e com certo olhar da alma, acima do olhar comum da alma, acima de minha mente, vi a luz imutável. Não era como a luz terrena e evidente para todo ser humano. Diria muito pouco se afirmasse que era apenas uma luz muito, muito mais brilhante do que a comum, ou tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era assim, mas outra coisa, inteiramente diferente de tudo isto. Também não estava acima de minha mente como óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, mas mais alta, porque ela me fez, e eu, mais baixo, porque feito por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta luz.

  Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade! Tu és o meu Deus, por ti suspiro dia e noite. Desde que te conheci, tu me elevaste para ver que quem eu via, era, e eu, que via, ainda não era. E reverberaste sobre a mesquinhez de minha pessoa, irradiando sobre mim com toda a força. E eu tremia de amor e de horror. Vi-me longe de ti, no país da dessemelhança, como que ouvindo tua voz lá do alto: “Eu sou o alimento dos grandes. Cresce e me comerás. Não me mudarás em ti como o alimento de teu corpo, mas tu te mudarás em mim”.

 E eu procurava o meio de obter forças, para tornar-me idôneo a te degustar e não o encontrava até que abracei o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5), que é Deus acima de tudo, bendito pelos séculos (Rm 9,5). Ele me chamava e dizia: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). E o alimento que eu não era capaz de tomar se uniu à minha carne, pois o Verbo se fez carne (Jo 1,14), para dar à nossa infância o leite de tua sabedoria, pela qual tudo criaste.

 Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Vem Ver!


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 1,45-51

45Filipe encontrou-se com Natanael e lhe disse: "Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e também os profetas: Jesus de Nazaré, o filho de José". 46Natanael disse: "De Nazaré pode sair coisa boa?" Filipe respondeu: "Vem ver!" 47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: "Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade". 48Natanael perguntou: "De onde me conheces?" Jesus respondeu: "Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi". 49Natanael respondeu: "Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel". 50Jesus disse: "Tu crês porque te disse: Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!" 51E Jesus continuou: "Em verdade, em verdade, eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem".

Palavra da Salvação.

O encontro de Filipe com Natanael nos revela algumas coisas. Primeiro, para os discípulos não havia problema algum que "aquele de quem Moisés escreveu na Lei" fosse o filho de José. A humanidade do Filho do Homem não atrapalhou em nada.

Segundo, vemos Natanael, ou Bartolomeu, agindo com toda a sinceridade possível. Mas, uma pessoa aberta ao convite dos amigos e pronto a fazer uma nova experiência. Mesmo não acreditando que de Nazaré, que ficava na Galileia, pudesse vir algo de bom, aceita o convite de Filipe para ir até Jesus.

Terceiro, o encontro de Natanael com Jesus. Esse, logo ao ver, diz que ali, diante dele, está um "israelita de verdade, um homem sem falsidade". Muito interessante essa fala. Hoje vemos tantas pessoas que dizem acreditar em Jesus são falsas em sua fé. 

Jesus revela que havia visto o homem em questão. E, a partir dai, Bartolomeu crê em Jesus. E esse anuncia que Jesus é o Filho de Deus. E Jesus revela que coisas maiores eles verão ainda. 

"Vem ver"! Venha ver. Nunca deixe a oportunidade do encontro com Jesus acontecer.

sábado, 21 de agosto de 2021

Evangelização-Bem Comum-Democracia exigências do cristão.


Toda evangelização tem um viés social implícito nela. Não podemos falar do evangelho sem falar em mudanças das estruturas sociais injusta. Não podemos falar de evangelização e voltarmos às costas para os irmãos e irmãs que passam necessidades nesse mundo. 

No próprio evangelho, vemos Jesus dizer: "Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia" (Mt 11,5). A evangelização passa, necessariamente, por um viés social. Em outro momento, Jesus afirmou, "Vocês é que têm de lhes dar de comer" (Mc 6,37). A ação solidária humana praticada pelos discípulos/discípulas de Jesus é uma ação evangelizadora. A ação social cristã é uma ação de evangelização. Resgatar a dignidade humana daqueles que veem seus direitos sendo desrespeitados, é uma ação evangelizadora. O respeito às instituições políticas democráticas, é uma ação evangelizadora. 

O Ensinamento Social da Igreja (ou Doutrina Social da Igreja) nos alerta para o valor da Democracia. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no número 407, afirma: "Uma autêntica democracia não é somente o resultado de um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos: a dignidade da pessoa humana, o respeito dos direitos do homem, do fato de assumir o «bem comum» como fim e critério regulador da vida política. Se não há um consenso geral sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade". Defender a democracia é uma exigência de toda ação da Igreja, e de sua evangelização.

No parágrafo 408, afirma a DSI: "O Magistério reconhece a validade do princípio concernente à divisão dos poderes em um Estado: «é preferível que cada poder seja equilibrado por outros poderes e outras esferas de competência que o mantenham no seu justo limite. Este é o princípio do “Estado de direito”, no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens».

No sistema democrático, a autoridade política é responsável diante do povo. Os organismos representativos devem estar submetidos a um efetivo controle por parte do corpo social. Este controle é possível antes de tudo através de eleições livres, que permitem a escolha assim como a substituição dos representantes. A obrigação, por parte dos eleitos, de prestar contas acerca da sua atuação, garantida pelo respeito dos prazos do mandato eleitoral, é elemento constitutivo da representação democrática".

Outro princípio fundamental para a evangelização dentro do Ensinamento Social da Igreja, éq o Princípio do Bem Comum.

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja afirma que "o conjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição". Lembremos que Jesus disse para que fôssemos perfeitos como o Pai é perfeito. E essa perfeição passa pelo valor da vida humana em todos os seus aspectos sociais. 

Assim, afirma o documento que "bem comum não consiste na simples soma dos bens particulares de cada sujeito do corpo social. Sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo, também em vista do futuro. Assim como o agir moral do indivíduo se realiza em fazendo o bem, assim o agir social alcança a plenitude realizando o bem comum. O bem comum pode ser entendido como a dimensão social e comunitária do bem moral" (DSI 164, §2º).

O Catecismo da Igreja Católica apresenta oito parágrafo para falar do "bem comum". Citando a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, afirma que o bem comum é o "conjunto daquelas condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais completa e desembaraçadamente a própria perfeição" (1906).

Continua o Catecismo dizendo que o bem comum comporta "três elementos sociais", a saber, "respeito pela pessoa como tal", "o bem estar social e o desenvolvimento do próprio grupo", "a paz".

Quanto ao "respeito pela pessoa como tal", afirma o catecismo que "em nome do bem comum, os poderes públicos são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana". E continua afirmando que o "bem comum consiste nas condições para exercer as liberdade naturais indispensáveis ao desabrochar da vocação humana". 

Ao falar do "bem estar social e do desenvolvimento", afirma o Catecismo que a autoridade política deve "tornar acessível a cada um aquilo de que precisa para levar uma vida verdadeiramente humana: alimento, vestuário, saúde, trabalho, educação e cultura, informação conveniente, direito de fundar um lar etc." (1908). 

E por fim, a Paz. E diz que a Paz  é uma "ordem justa, duradoura e segura." E conclui afirmando que "o bem comum está sempre orientado ao progresso das pessoas" (1912).

No momento em que passamos no Brasil por uma crise entre os poderes do Estado, onde a democracia tem sido vilipendiada a todo momento, onde o bem comum parece subordinar-se a interesses escusos de grupos econômicos que desvalorizam a vida humana, nós, cristãos católicos somos convocados a nos unirmos a todos os homens de boa vontade, a todas e todos que buscam construir uma nova civilização, a civilização do amor.

E assim, somos chamados e chamadas a sermos propagadores da "civilização do amor". Esse princípio está "iluminado pelo primado da caridade" que tem como "sinal distintivo dos discípulos de Cristo (DSI 580)".

"Jesus nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana e da transformação do mundo é o mandamento novo do amor" (DSI 580).

Portanto, "é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictas e saibam mostrar, com a sua vida, como o amor é a única força que pode guiar à perfeição pessoal e social e mover a história rumo ao bem" (DSI 580).

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

"Amarás ao teu próximo como a ti mesmo"


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 22,34-40

Naquele tempo: 34Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, 35e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 36'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?' 37Jesus respondeu: '`Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!' 38Esse é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a esse: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. 40Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.

Palavra da Salvação

"Queres ser perfeito, vai vende teus bens, dá os dinheiros aos pobres, depois vem e segue-me". Foi assim que Jesus falou ao homem rico. E, acrescentou, o quanto é difícil um rico entrar no Reino dos Céus.

Hoje, Jesus fala aos fariseus. Podemos identificar esse grupo religioso com aqueles que tinham uma observância da lei de uma forma fundamentalista, ou seja, deixavam de lado a relação entre Deus e a humanidade.

Para um judeu fariseu o mais importante era a lei. E eles tinham muitas leis, além do decálogo. Faziam interpretações das Leis de Deus e criavam outras, e as faziam como mais importantes que o que Deus havia dado a Moisés, apesar de saber que a lei de Deus é importantíssima para as relações sociais humana.

Ao perguntarem qual era o maior mandamento, queriam testar Jesus. Lembremos que Jesus é Filho de Deus. E como tal, não poderia negar o amor do Filho pelo Pai. Por isso, afirma categoricamente que o maior mandamento é "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento". Vejam, amar a Deus é uma ação de toda a pessoa humana. O todo humano está relacionado diretamente a Deus. Nada pode ficar de fora. O coração, sede do sentimento; a alma, sede da vida; o entendimento, sede da razão. Jesus está afirmando que devemos amar a Deus com nosso querer (coração); com nossa vida (alma); com nosso entendimento (razão). 

Entretanto, eles poderiam alegar que faziam isso. E Jesus dá um passo a mais. É preciso que esse amor a Deus se transforme em ação a favor do próximo. Por isso, acrescenta que o o segundo mandamento está diretamente relacionado ao relacionamento social entre os filhos e filhas de Deus. E acrescentou, que "o segundo é semelhante a esse: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". 

Para Jesus não há amor a Deus se não houver amor ao próximo. E devemos amar ao próximo como amamos a nós mesmos. O mesmo amor que queremos que Deus nos dê, deve ser o mesmo amor com o qual amamos os outros. Amor que gera vida, que amor que abomina a discriminação, o racismo, a homofobia, a misoginia. Amor que acolhe as pessoas de todas as raças, sexos, religiões. Amor que impulsiona ao serviço solidário aos homens e mulheres.

Amar a Deus sobre todas as coisa deve nos impulsionar ao amor ao próximo. Amar a Deus implica numa ação social em amor ao próximo. A própria palavra de Deus, revelada através dos escritos do segundo testamento, nos dá outras demonstrações dessa implicação social do amor a Deus. 

Na carta de São Tiago, lemos, "a fé: sem as obras, ela está completamente morta" (Tg 2,17). Na primeira carta de São João temos, "Se alguém diz: «Eu amo a Deus», e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão (1 Jo 4,20-21).

Lembremos o que nos disse Jesus, "Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu". (Mt 7,21). E, nesse caso, fazer a vontade o Pai é "amar ao próximo como a si mesmo".

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Não renunciar ao chamado de Deus.


 Leitura do Livro dos Juízes 9,6-15

Naquele tempo: 6Todos os habitantes de Siquém e os de Bet-Melo se reuniram junto a um carvalho que havia em Siquém e proclamaram rei a Abimelec. 7Informado disso, Joatão foi postar-se no cume do monte Garizim e se pôs a gritar em alta voz, dizendo: 'Ouvi-me, moradores de Siquém, e que Deus vos ouça. 8Certa vez, as árvores resolveram ungir um rei para reinar sobre elas, e disseram à oliveira: 'Reina sobre nós`. 9Mas ela respondeu: 'Iria eu renunciar ao meu azeite,
com que se honram os deuses e os homens, para me balançar acima das árvores?' 10Então as árvores disseram à figueira: 'Vem e reina sobre nós'. 11E ela lhes respondeu: 'Iria eu renunciar à minha doçura e aos saborosos frutos', 12As árvores disseram então à videira: 'Vem e reina sobre nós'. 13E ela lhes respondeu: 'Iria eu renunciar ao meu vinho, que alegra os deuses e os homens, para me balançar acima das outras árvores?' 14Por fim, todas as árvores disseram ao espinheiro: 'Vem tu reinar sobre nós'. 15O espinheiro respondeu-lhes: 'Se deveras me constituís vosso rei, vinde e repousai à minha sombra; mas se não o quereis, saia fogo do espinheiro e devore os cedros do Líbano!'.

Palavra do Senhor.

É impressionante como a Palavra de Deus ilumina as ações de nossa vida. Basta ter a coragem de ler, meditar, orar, e procurar viver.

Da mesma forma que Jesus comparou as pessoas aos vários tipos de terreno, o autor do livro dos Juízes compara as pessoas a quatro tipos de árvore: oliveira, figueira, parreira, espinheiro.

Cada tipo de árvore, revela o coração de cada um de nós. Existe um livro que se chama a Revolução dos Bichos. Vale a leitura.

O povo eleito queria um rei. E escolheram alguém que, aparentemente, não era bem vista por Joatão. Então, ele proferiu o discurso que lemos anteriormente.

Vejamos. As árvores viviam bem sem uma árvore com plenos poderes sobre as demais. Entretanto, elas queriam uma que estivesse à frente de todas.

Escolheram a oliveira, inicialmente. a oliveira. Responsável por dar o óleo necessário à vida. Ela se vale de sua importância para os deuses e para os homens para recusar o convite. Se vale de sua importância.

Diante da negativa, foram ao encontro da figueira. Essa, diante de sua nobreza de doçura e dos frutos saborosos.

Foram, então, à videira. Essa se valeu de sua nobreza juntos aos deuses e aos homens para declinar do convite.

Por último, foram ao espinheiro. Uma das árvores mais abomináveis. Sem nada a oferecer. Nem mesmo uma sombra poderia oferecer. Mas, foi essa que aceitou o ofício. E, como o que oferecer, deu-lhes fogo. Deu-lhes a destruição. 

Devemos tomar cuidado a quem vamos colocar como nossos líderes. A quem vamos seguir. Além disso, não devemos achar que nossas doçuras, nobreza de vida nos afastem do serviço.

Deus nos mostra que tudo aquilo que temos de bom deve ser colocado à serviço da comunidade.

Os últimos serão os primeiros.


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 20,1-16a

Naquele tempo: Jesus contou esta parábola a seus discípulos: 1'O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. 3Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e lhes disse: 'Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo'. 5E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. 6Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: `Por que estais aí o dia inteiro desocupados?' 7Eles responderam: `Porque ninguém nos contratou'. O patrão lhes disse: `Ide vós também para a minha vinha'. 8Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a  todos, começando pelos últimos até os primeiros!' 9Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. 10Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu uma moeda de prata. 11Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 12`Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro'. 13Então o patrão disse a um deles: `Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? 14Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. 15Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?' 16aAssim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.'

Palavra da Salvação.

Texto bem simples. De fácil compreensão. Não há nada escondido. Ciúmes, esse é o tema. Achar-se melhor que os outros porque se está mais tempo na caminhada. 

Jesus nos ensina que não depende do tempo em que estamos no caminhada junto de Deus. Isso não nos dá vantagens e prestígio diante dos outros. Não importa o tempo de caminhada. O que conta é a intensidade da oração, do trabalho, e da confiança em Deus. 

Cada um de nós é chamado em determinado momento da vida. E não importa o tempo que estamos caminhando. Todos teremos a mesma recompensa. 

Medite!


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Vem e segue-me!


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 19,16-22

16Alguém aproximou-se de Jesus e disse: 'Mestre, o que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?' 17Jesus respondeu: 'Por que tu me perguntas sobre o que é bom? Um só é o Bom. Se tu queres entrar na vida, observa os mandamentos.' 18O homem perguntou: 'Quais mandamentos?' Jesus respondeu: 'Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, 19honra teu pai e tua mãe, e ama teu próximo como a ti mesmo.' 20O jovem disse a Jesus: 'Tenho observado todas essas coisas. O que ainda me falta?' 21Jesus respondeu: 'Se tu queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.' 22Quando ouviu isso, o jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.

Palavra da Salvação.

"Alguém aproximou-se". Mateus não identifica a pessoa. Poderia ser qualquer um. Poderia ser eu, ser você. Essa pessoa deseja possuir a vida eterna. Como todos nós. 

Incialmente, ele pergunta o que deveria fazer, de bom, para ter a vida eterna. Jesus afirma que só Deus é bom. Então, se somos criados à imagem e semelhança de Deus, devemos ser bons. Essa é a primeira resposta de Jesus, não direta, mas implícita.

A segunda resposta fala da vida cotidiana. Jesus diz, "se tu queres entrar na vida, observa os mandamentos". Mas, a pessoa, conhecedora de todos os mandamentos da lei mosaica, e da lei dos fariseus, fica confuso, e pergunta: "quais mandamentos?" Então, Jesus responde, "não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, ama o próximo como a ti mesmo". Tudo o que está no decálogo relacionado com o outro. Jesus mostra que mais do que as leis que falam do nosso relacionamento com Deus, a que nos impele de irmos ao encontro do outro são as leis que nos farão termos a vida eterna. Basta isso.

Mas, a pessoa quer mais. Deseja avançar para águas, mais profundas. Tem uma sede de infinito. A resposta, de quem procura a vida, é direta, "tenho observado todas essas coisas. O que me falta"? Quer dizer, preciso de mais. 

Então, Jesus responde, "vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me". Quem quer mais do que a simples observância da lei, deve comprometer-se com os pobres. Deve desfazer-se de seus bens. Distribuir aos necessitados. Em seguida, seguir Jesus, ou seja, assumir a mesma vida que Jesus teve. Não se preocupar com os bens materiais. Doar a própria vida. Assumir a cruz de Jesus.

"Quando ouviu isso, o jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico". Interessante, no fim da perícope, Mateus identifica a pessoa como um jovem. Mas, não pensemos nos jovens em idade. Uma pessoa ainda não amadurecida pelos anos da vida. Ser jovem, nesse caso, é uma pessoa que está iniciando a vida adulta, por isso, tinha bens, riquezas. 

Para entrar na vida eterna basta viver os mandamentos. Para ser perfeito, deve-se assumir a opção preferenciai pelos pobres, excluídos, marginalizados, sem terra, sem teto, sem emprego. Ser perfeito é comprometer-se com a vida, com a saúde, com o desprezo que os encarcerados sofrem. Para ser perfeito é preciso despir-se de todo preconceito e assumir a vida de Jesus (segui-lo). Esse exemplo nos foi deixado por alguns santos, sejam eles atuais ou do passado. Só para lembrar alguns e algumas, Dom Oscar Romero, Teresa de Calcutá, Dulce dos Pobres, Dorothy Stangy, Pedro Casaldáliga, Hélder Câmara, Francisco.

Hoje somos chamados a  sermos sinais e testemunhas perfeitas da entrega a Deus e ao projeto de Jesus. "Coragem", disse Jesus.

domingo, 15 de agosto de 2021

O Poderoso fez por mim maravilhas!


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1,39-56

39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu". 46Maria disse: "A minha alma engrandece o Senhor, 47e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, 48pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. 49O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome! 50Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam. 51Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos. 52Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou. 53De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos. 54Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, 55como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre". 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

Palavra da Salvação.

Hoje celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Depois de Jesus, Maria é a primeira mortal que é elevada aos céus em corpo.

A oração da Coleta, que abre a Missa de hoje, nos pede que vivamos "atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória". E a leitura do evangelho nos remete à visita que Maria faz a Isabel logo após saber que ela estava grávida.

Maria partiu apressadamente para uma região da Judeia. Ao saudar Isabel, a criança que estava em seu ventre estremeceu. E Isabel fez uma oração de louvor e agradecimento a Deus pelo sim de Maria.

Então, Maria exultou no Espírito e fez a belíssima oração do Magnificat. Essa oração nos coloca de volta na vida. Nos faz ver que Deus age na história, na pequenez. Nos humildes, nos fracos, nos sem teto, nos que passam fome pelas ruas de nossas cidades. Nos que moram nas ruas. Nos que morreram por negligência política de não ter dado vacina a todas e a todos no momento certo. 

Maria nos mostrou o poder de Deus que com seu braço "dispersou os orgulhosos". Um Deus que "derrubou do trono os poderosos", e que "exaltou os humildes". Um Deus que "saciou os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias". Um Deus que acolheu a todos e todas que foram fieis à sua promessa, e que creem em Jesus como enviado de Deus.

Celebrar a Assunção é olhar para Maria como aquela que, cumprindo a missão dada por Deus, é encaminhada ao Reino diretamente. Esse é o nosso destino, o Reino dos Céus, vivamos uma vida plena do evangelho, inspirada pelo Espírito Santo, e, mesmo sendo pecadores, chegaremos aos Reino de Deus. Amém.

sábado, 14 de agosto de 2021

A cidade de Deus espera a salvação e o perdão dos pecados

Livro do Profeta Miquéias 7,7-20

A cidade de Deus espera a salvação e o perdão dos pecados


7
Eu, porém, olharei para o Senhor, à espera de Deus, meu Salvador; meu Deus me ouvirá.8 Não te alegres, minha inimiga, por eu ter caído, pois me levantarei; se estou na escuridão, o Senhor é a minha luz.9Sofrerei a ira do Senhor, – pois pequei contra ele – enquanto ele não decidir minha causa e não fizer o meu julgamento; ele me conduzirá para a luz e eu verei a santidade de suas obras.10 Minha inimiga olhará e se cobrirá de vergonha; ela que me diz: "Onde está o Senhor, teu Deus? Volto os olhos para ela; agora será pisada aos pés, como lama do caminho.11 Virá o dia em que serão edificados teus muros; naquele dia, se ampliarão tuas fronteiras.12 Naquele dia, virão a ti habitantes da Assíria ao Egito, desde o Egito até ao rio, desde um mar a outro mar e desde uma montanha à outra.13 A terra, porém, será devastada, por culpa de seus habitantes, em razão de suas obras.14 Apascenta o teu povo com o cajado da autoridade, o rebanho de tua propriedade, os habitantes dispersos pela mata e pelos campos cultivados; que eles desfrutem a terra de Basã e Galaad, como nos velhos tempos.15 E, como foi nos dia sem que nos fizeste sair do Egito, faze-nos ver novos prodígios.16 As nações verão e se envergonharão, apesar de todo o seu poderio; hão de pôr a mão sobre a boca, seus ouvidos estarão surdos;17 hão de lamber o chão, como serpentes, e outros répteis da terra. Hão de sair de suas casas tremendo diante do Senhor nosso Deus: dele sentirão um grande medo.18 Qual Deus existe, como tu, que apagas a iniquidade e esqueces o pecado daqueles que são resto de tua propriedade? Ele não guarda rancor para sempre, o que ama é a misericórdia.19 Voltará a compadecer-se de nós, esquecerá nossas iniquidades e lançará ao fundo do mar todos os nossos pecados.20 Tu manterás fidelidade a Jacó e terás compaixão de Abraão, como juraste a nossos pais, desde tempos remotos.