Toda evangelização tem um viés social implícito nela. Não podemos falar do evangelho sem falar em mudanças das estruturas sociais injusta. Não podemos falar de evangelização e voltarmos às costas para os irmãos e irmãs que passam necessidades nesse mundo. No próprio evangelho, vemos Jesus dizer: "Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia" (Mt 11,5). A evangelização passa, necessariamente, por um viés social. Em outro momento, Jesus afirmou, "Vocês é que têm de lhes dar de comer" (Mc 6,37). A ação solidária humana praticada pelos discípulos/discípulas de Jesus é uma ação evangelizadora. A ação social cristã é uma ação de evangelização. Resgatar a dignidade humana daqueles que veem seus direitos sendo desrespeitados, é uma ação evangelizadora. O respeito às instituições políticas democráticas, é uma ação evangelizadora.
O Ensinamento Social da Igreja (ou Doutrina Social da Igreja) nos alerta para o valor da Democracia. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no número 407, afirma: "Uma autêntica democracia não é somente o resultado de um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos: a dignidade da pessoa humana, o respeito dos direitos do homem, do fato de assumir o «bem comum» como fim e critério regulador da vida política. Se não há um consenso geral sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade". Defender a democracia é uma exigência de toda ação da Igreja, e de sua evangelização.
No parágrafo 408, afirma a DSI: "O Magistério reconhece a validade do princípio concernente à divisão dos poderes em um Estado: «é preferível que cada poder seja equilibrado por outros poderes e outras esferas de competência que o mantenham no seu justo limite. Este é o princípio do “Estado de direito”, no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens».
No sistema democrático, a autoridade política é responsável diante do povo. Os organismos representativos devem estar submetidos a um efetivo controle por parte do corpo social. Este controle é possível antes de tudo através de eleições livres, que permitem a escolha assim como a substituição dos representantes. A obrigação, por parte dos eleitos, de prestar contas acerca da sua atuação, garantida pelo respeito dos prazos do mandato eleitoral, é elemento constitutivo da representação democrática".
Outro princípio fundamental para a evangelização dentro do Ensinamento Social da Igreja, éq o Princípio do Bem Comum.
O Compêndio da Doutrina Social da Igreja afirma que "o conjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição". Lembremos que Jesus disse para que fôssemos perfeitos como o Pai é perfeito. E essa perfeição passa pelo valor da vida humana em todos os seus aspectos sociais.
Assim, afirma o documento que "bem comum não consiste na simples soma dos bens particulares de cada sujeito do corpo social. Sendo de todos e de cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo, também em vista do futuro. Assim como o agir moral do indivíduo se realiza em fazendo o bem, assim o agir social alcança a plenitude realizando o bem comum. O bem comum pode ser entendido como a dimensão social e comunitária do bem moral" (DSI 164, §2º).
O Catecismo da Igreja Católica apresenta oito parágrafo para falar do "bem comum". Citando a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, afirma que o bem comum é o "conjunto daquelas condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais completa e desembaraçadamente a própria perfeição" (1906).
Continua o Catecismo dizendo que o bem comum comporta "três elementos sociais", a saber, "respeito pela pessoa como tal", "o bem estar social e o desenvolvimento do próprio grupo", "a paz".
Quanto ao "respeito pela pessoa como tal", afirma o catecismo que "em nome do bem comum, os poderes públicos são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana". E continua afirmando que o "bem comum consiste nas condições para exercer as liberdade naturais indispensáveis ao desabrochar da vocação humana".
Ao falar do "bem estar social e do desenvolvimento", afirma o Catecismo que a autoridade política deve "tornar acessível a cada um aquilo de que precisa para levar uma vida verdadeiramente humana: alimento, vestuário, saúde, trabalho, educação e cultura, informação conveniente, direito de fundar um lar etc." (1908).
E por fim, a Paz. E diz que a Paz é uma "ordem justa, duradoura e segura." E conclui afirmando que "o bem comum está sempre orientado ao progresso das pessoas" (1912).
No momento em que passamos no Brasil por uma crise entre os poderes do Estado, onde a democracia tem sido vilipendiada a todo momento, onde o bem comum parece subordinar-se a interesses escusos de grupos econômicos que desvalorizam a vida humana, nós, cristãos católicos somos convocados a nos unirmos a todos os homens de boa vontade, a todas e todos que buscam construir uma nova civilização, a civilização do amor.
E assim, somos chamados e chamadas a sermos propagadores da "civilização do amor". Esse princípio está "iluminado pelo primado da caridade" que tem como "sinal distintivo dos discípulos de Cristo (DSI 580)".
"Jesus nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana e da transformação do mundo é o mandamento novo do amor" (DSI 580).
Portanto, "é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictas e saibam mostrar, com a sua vida, como o amor é a única força que pode guiar à perfeição pessoal e social e mover a história rumo ao bem" (DSI 580).