Iniciamos a 3ª semana da Quaresma. Continuamos nosso caminho
rumo à Pascoa.
Estamos diante de três leituras significativas para nós nesse
itinerário.
A primeira leitura, tirada do livro do Êxodo, o livro que
narra a libertação da escravidão, nos mostra a legislação da nova humanidade.
A segunda leitura, tirada do livro aos Coríntios, narra quem é
Jesus. Paulo está diante de uma comunidade onde estão gregos e judeus. Cada um
como uma visão distinta da divindade. Paulo precisava unificar essas ideias de
Deus para que a comunidade pudesse seguir unida em Jesus.
No evangelho, temos uma cena que a muitos de nós descontrói a
figura do Jesus manso e humilde.
Vejamos.
Devemos lembrar que os livros do Pentateuco foram escritos após
o exílio da Babilônia. Período duro. O povo teve contato com uma nação
politeísta, que cultuava o rei como um deus, tal como no Egito. Era preciso
resgatar a fé dos hebreus no Deus único. Se Ele libertou o povo das mãos do
faraó, por analogia, ele liberta o povo dos babilônios.
Na nova terra, na nova humanidade, as relações sociais deverão
ser de outro tipo.
"Não matarás", nem defenderás nada que possa
provocar morte de alguém, ou do meio ambiente.
"Não cometerás adultério". Claro que se fala da
relação homem-mulher. Entretanto, existem tantas coisas que são adulteradas em
nossos dias. Pesos, medidas, palavras. Negar a vida de um povo, falando contra
vacina, é adulterar a verdade. As chamadas "fake news", ou notícias
falsas, é adulteração da verdade. Enganar, é adulterar.
"Não furtarás". A cada um de nós nos foi dada a
capacidade para viver. Não se precisa suprimir nada de ninguém. Portanto,
corrupção, dinheiros roubados em grandes quantidades, supressão de material
necessário em hospitais para vida, obras públicas paradas, desvalorização da
vida, são uma forma de roubo também. Apoiar pessoas e grupos que vivam assim, é
uma forma de roubar também.
"Não levantarás falso testemunho". Xiii. Quantas
vezes fizemos isso? Quantas vezes, reproduzimos mentiras de outrem sem saber se
aquilo é verdade? Jesus foi caluniado. Ele passou pelo falso testemunho. Os
primeiros cristãos eram caluniados. Sofriam com as mentiras que se falavam
deles. E nós hoje, como agimos? Como nos relacionamos diante disso?
"Não cobiçarás". E Deus faz uma lista do que vem a
ser a cobiça: casa, mulher, escrava, jumento, ou qualquer outra coisa. A cobiça
abre as portas para tudo o que veio antes: matar, cometer adultério, furtar,
levantar falso testemunho. A cobiça é a porta para nos afastarmos de Deus. Foi
pela cobiça de querer ser como Deus, que Adão e Eva cometeram o pecado
original. Cuidado com a cobiça.
Na segunda leitura, Paulo destaca a visão que tanto judeus
quanto gregos tem da vida. Os judeus querem sinais milagrosos. Estavam
acostumados a ver pragas, mar se abrir, curas no deserto. Os gregos, ligados a
sua racionalidade. E Paulo apresenta um Jesus crucificado. Um Deus rejeitado.
Um Deus que pregado numa cruz morreu; então não era todo poderoso. Para os
gregos, alguém que se entrega livremente à morte, não conseguem ver razão
nisso, pois o primeiro impulso humano é defender a própria vida.
Paulo, então, destaca que para os "que são chamados",
Cristo "é poder e sabedoria de Deus". Em Cristo estão reunidos judeus
e gregos. Pois Deus, em Cristo, revela que ao que aos olhos humanos possa
parecer insensatez, é "mais sábio do que os homens", e aquilo que
possa ser fraqueza de Deus, "é mais forte do que os homens".
Cristo não segue a lógica humana. Deus não se enquadra nos
padrões humanos. Por isso ele é poderoso ao vencer a dor da morte com a
Ressurreição de Jesus. Ao morremos com Cristo, com ele ressuscitamos e somos
mensageiros dessa esperança.
No evangelho, vemos um Jesus revoltado com o que ele encontra
no Templo, na casa de oração. Um fato, com certeza, fica em nossa cabeça nesse
texto, como poderia Jesus, manso e humilde, agir com tanta violência dentro do
Templo?
Primeiro, muitas vezes, fazemos da religião comércio (dízimo é
uma coisa, comércio é outra). Não devemos manipular a fé das pessoas para obter
alguma vantagem financeira. Fazer uma campanha de arrecadação para uma obra
social, um evento religioso de evangelização é uma coisa. Agora, tirar vantagem
financeira disso, é outra. Jesus se revoltou e se revolta contra isso. A casa
de Deus é casa de oração. A casa de Deus não é um mercado de negócios. Jesus
tem zelo pelas coisas do Pai. Por aquilo que representa a presença de Deus no
meio de nós. O templo deve ser conservado, mas não com o comércio que explora
os mais pobres.
Em segundo lugar, Jesus dá um salto. Aprofunda a relação do
templo com Ele. Ele é o templo. A nova Aliança.
E por último, Jesus sabia que as pessoas iam atrás dele não
para mudarem de vida, não para criarem uma nova humanidade, mas o seguiam pelos
sinais que ele realizava. Pelo pão que comiam, pelos doentes que eram curados.
E por conhecer o
coração humano, sabia que na primeira oportunidade de provação, essas pessoas
se afastavam de Deus. E o evangelista diz que "Jesus não lhes dava
crédito".
A liturgia pré-pascal de hoje nos convida a olharmos para nós
e refletirmos: como estamos vivendo a lei de Deus em nossas vidas? (1ª
leitura). Cristo é a fonte de tudo para mim, verdadeiramente? (2ª leitura). Como
vivemos a nossa fé em Jesus, de forma comercial, ou com o coração sincero de
quem se dispõem a assumir a proposta evangélica de Jesus no mundo de hoje,
buscando instaurar o Reino de Deus, que prega a nova humanidade? Um Deus do
diálogo que constrói pontes, ao invés de muros.
Aproveitemos esse período da Campanha da Fraternidade que nos convoca a sermos um em Cristo, e rezemos juntos.
Jesus mostra a todos que a fraternidade entre todos é o que reze a nossa essência. Podemos aprender, ensinar e compreender o bem maior que é de todos e para todos!
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