Oito de março, dia internacional da mulher. Essa data foi instituída pela ONU em 1970. Civilmente, simboliza a luta das mulheres por direitos civis e sociais que lhes são negados.
Minha reflexão para hoje vai no sentido de dar uma visão que sempre fica esquecida dentro da Igreja, que por cultura, ainda é machista, e muitas vezes, misógina. A Igreja ainda tem aversão a presença nas mulheres em suas instâncias de poder e decisão. Apesar de o Papa Francisco ter ido no sentido contrário a esse pensamento, ainda é comum esse sentimento de afastamento das mulheres. Mas isso, é assunto para outro momento.
Hoje, vou destacar alguns encontros de Jesus com as mulheres: Cananéia, Samaritana, Aquela que ungiu seus pés, a chamada "adúltera", Madalena, As que estiveram aos pés da Cruz, e como estamos na quaresma, as que encontraram Jesus no caminho do calvário. Será um texto reflexivo, não teológico.
Primeiramente, destaco que Mateus, Lucas e João narram esses vários encontros. É recorrente. Cada um dentro de sua perspectiva teológica.
1° Jesus e a Cananeia (Mt 15,21-28). Um encontro interessante. Jesus está numa região distante. Aproxima-se dele uma mulher cananeia, isto é, não judia. E lhe pede uma ajuda. Aqui vemos duas situações estranhas para a época. Uma mulher, não judia, dirigir a palavra a um judeu, homem. É o primeiro consentimento que Jesus permite, rompe com a lei. Segundo, ela faz um pedido, pois, mesmo não pertencendo aquele povo "escolhido", vê naquele homem a única possibilidade de cura de sua filha. Entretanto, Jesus, num primeiro momento nega esse pedido. Usa até de uma expressão não muito condizente para os nossos dias, diz a ela que não é justo tirar o alimento dos filhos para dar aos cachorrinhos. Não precisa ser mito inteligente para perceber que ele chama a mulher e o povo a que pertence de "cachorrinhos". Mas ela insiste, pois sabia que a única maneira de salvar a filha estava ali, diante dela. E responde, "é verdade senhor, mas os cachorrinho comem as migalhas que as crianças deixam cair". Que fé. Que coragem. Que ousadia. Ela não precisava de muito, bastava uma migalha vindo de Jesus. Jesus cai em si. Percebe que aquela mulher, que aquele povo também precisava da misericórdia de Deus que estava a pregar. E lhe concede o que estava pedindo.
2° Jesus e a Samaritana (Jo 4). Aqui outro caso de um encontro de Jesus com outra estrangeira. E pior ainda, pois o evangelista João, que narra esse fato, ressalta que os judeus e os samaritanos não se davam.
Esse encontro se dá ao meio dia. Sol a pino. Calor excessivo. Jesus esta esperando os discípulos voltarem da cidade onde foram comprar comida. A mulher aparece. Jesus pede água. Dai em diante conhecemos a história. Quem não a conhece, ou não recorda, pode pegar sua bíblia e ler o texto.
Quero destacar o quanto Jesus foi aprofundando a conversa com ela a partir da água, da sede, do poço. A sede e a água foi pretexto para ele puxar conversa. E mais uma vez, ele rompe com a lei. Conversa com uma mulher; num lugar deserto, longe de tudo e de todos. Ele judeu, ela samaritana. Quanto escândalo embutido nessa cena. Mas também, acolhimento às necessidades humanas, necessidades espirituais e sociais. Aquela mulher e aquele povo precisavam provar dessa água nova que Jesus trazia. E ela é a porta para Jesus chegar ao coração do povo samaritano.
3° Jesus e a Mulher que lhe ungiu os pés (Lc. 7,36-50). Nesse encontro vemos a hipocrisia religiosa saltar aos olhos. O texto narra que Jesus havia ido a casa de um fariseu fazer refeição com ele. Existia todo um protocolo legal para receber uma visita em casa. Entretanto, aquele homem "justo", e "piedoso" não cumpriu nenhum deles. Mais uma vez, Jesus rompe com os protocolos legais. Entra uma mulher. Essa posta-se atrás dele, e começa a chorar. Com as lágrimas, molhava os pés dele, e com os cabelos secava, para em seguida beijá-los. E ungia com perfume. Mais uma cena que chocou aquela sociedade que se achava cumpridora das leis de Deus.
Ao achar estranho aquela cena, os chamados homens bons pensam, esse homem não é um profeta, se não, saberia quem era aquela mulher. Jesus faz a catequese do acolhimento dos afastados. Reinsere aquela mulher no grupo daqueles que tem dignidade. Revela que a situação dela é provocada por todos aqueles que se acham melhores.
4° Jesus e a "Adúltera" (Jo 8, 1-11). Texto significativo. Nesse caso, Jesus está no meio dos seus compatriotas. Não há indicação que a mulher fosse estrangeira, era uma prostituta judia. O povo a acusa de adultério, e pela lei, deveria ser apedrejada, banida da convivência social. Mais uma vez, não olha o fato em si, mas o que aquilo representa. Ninguém comete adultério sozinha. Onde estava o homem com o qual a mulher estava deitada? Seria algum daqueles que estavam diante de Jesus? Por isso, a pergunta: quem não tiver pecados, atire a primeira pedra! E a mulher não foi apedrejada. E Jesus, mais uma vez, resgata uma mulher que serviria de chacota para o povo, e a recoloca em sua dignidade de ser humano.
5° Jesus e Madalena. Encontramos duas referências a Maria Madalena. A primeira, em Lucas 8,1-3. Nesse texto, o evangelista ressalta uma lista de mulheres que acompanhavam Jesus, dentre elas, Maria de Magdala, da qual ela havia expulsado sete demônios. E a segunda referência, em João 20,1-18, quando o autor destaca que Maria Madalena fora ao túmulo de Jesus ainda de madrugada. E que ela foi a primeira pessoa a dar a notícia da ressurreição de Jesus aos discípulos. Muita história ronda a vida dessa mulher. Ela tem um destaque muito grande na vida da Igreja. Sem ela, os discípulos ficariam escondidos até o dia de hoje. Ela é exemplo de anuncio, de coragem, de fé. Tanto que o Papa Francisco a proclamou Apóstola dos Apóstolos.
Ainda temos duas outras cenas da relação de Jesus com as mulheres. A que Jesus encontra as mulheres durante sua caminhada para o calvário. E as mulheres que estavam aos pés da cruz.
No caminho para o calvário, um grupo de mulheres ia pelo caminho chorando. Ao que parece, isso era comum. Entretanto, Jesus não quer uma piedade que seja fingimento. É preciso olhar para a vida, para frente. Não basta chorar por ele. É preciso olhar para dentro de si, para sua casa, para sua família.
Os discípulos, medrosos de morrerem, fugiram de todo o percurso da via-sacra. Somente as mulheres lá estavam. E mais uma vez, vemos várias mulheres sendo nomeadas até o fim com Jesus. Não tiveram medo de sofrerem as mesmas coisas que ele. O acompanharam até o fim na vida terrena, e depois, tiveram a sorte de serem as primeiras a verem Jesus.
Hoje fazemos memória a tantas mulheres que deram a vida pela inclusão feminina num mundo machista, numa sociedade patriarcal. Ainda estamos num processo de entender que homens e mulheres tem a mesma essência. São complementos. Não rivais.
Esse é um texto escrito por um homem. Com visão de homem. Mas que convive com mulheres que estão na vanguarda de seu tempo, e busca entender seus anseios.
Não é um texto teológico, como eu disse. É uma reflexão diante do que se dá aos nossos olhos.
Salve Margarida Maria Alves, Ir. Dorothy Stang, Marielle Franco e tantas outras.
Lembremos de Maria mãe de Jesus que em seu canto do Magnificat, reconheceu o braço poderoso de Deus que dispersa os ricos de mãos vazias, que alimenta os famintos, e que exalta os humildes.
Verdade! Infelizmente o mundo continua machista! A mulher é forte! A mulher é guerreira! Uma frase que li e simplifica tudo: "Lugar de mulher é onde ela quiser".
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