quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Nas coisas criadas está impressa a imagem da Sabedoria


Dos Discursos contra os arianos, de Santo Atanásio, bispo

(Oratio 2,78.79: PG 26,311.314)(Séc. IV)

A forma da sabedoria foi criada em nós e está em tudo. É, portanto, muito justo que a verdadeira e criadora Sabedoria reivindique como própria sua forma em todas as coisas e diga: O Senhor me criou em suas obras (cf. Pr 8,22). Visto ser a sabedoria existente em nós quem fala, o Senhor a nomeia como bem próprio.

Não é, portanto, criado aquele que é o criador, mas por causa de sua imagem nas obras criadas, fala destas como de si mesmo. Do modo como o Senhor diz: Quem vos recebe a mim recebe (Mt 10,40), porque sua imagem está em nós, embora não incluído entre as coisas criadas, por ser sua forma e imagem criada nas obras, diz como de si mesmo: O Senhor no início de seus caminhos me criou (Pr 8,22).

A forma da sabedoria foi dada às criaturas para que o mundo nelas reconhecesse o Verbo, seu artífice, e pelo Verbo, o Pai. Na verdade é o mesmo que Paulo ensina: Porque o que se pode conhecer de Deus é manifesto para eles, Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo, através de suas criaturas as realidades invisíveis são contempladas pela inteligência (cf. Rm 1,19-20). Por conseguinte, o Verbo, por natureza, de modo algum é criado, mas este trecho deve ser entendido a respeito da sabedoria que se diz estar e ser verdadeiramente em nós.

Entretanto, se alguém não quiser acreditar nisto, responda-me: há ou não sabedoria nas coisas criadas? Se não há nenhuma, como é que o Apóstolo se queixa com as palavras: Pois que, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sabedoria? (1Cor 1,21). Ou se não existe sabedoria, por que se comemora na Escritura a multidão dos sábios? Pois o sábio atemorizado afasta-se do mal (Pr 14,16), e com sabedoria constrói a casa (Pr 24,3).

O Eclesiastes também diz: A sabedoria do homem iluminará seu rosto (Ecl 8,1); e censura os temerários com as palavras: Não digas: Por que é que os tempos passados foram melhores do que os presentes? Não foi com sabedoria que indagaste isto (Ecl 7,10).

Então, se nas coisas criadas há sabedoria, como o filho de Sirac atesta: Difundiu-a em todas as suas obras e em todos os mortais conforme seu dom, e concedeu-a aos que o amam (Eclo 1,7-8), esta efusão não foi absolutamente da Sabedoria em sua natureza que subsiste por si mesma e é unigênita, mas daquela que se expressa no mundo. Que há, pois, de incrível que a própria Sabedoria criadora e verdadeira diga a respeito da sabedoria e ciência, forma ou figura suas, difundidas no mundo, como se fosse de si mesma: O Senhor me criou em suas obras? A sabedoria existente no mundo não é criadora, mas foi criada nas coisas; por ela os céus narram a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos (Sl 18,2).

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Uma força saía dele


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 6,12-19

12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.

Palavra da Salvação.

Reflexão

Celebramos a Festa de São Judas e São Simão, dois apóstolos. 

A catequese colocada para nós hoje destaca uma característca de Jesus, a oração. Sempre antes de tomar uma decisão significativa, Jesus passava a noite em oração, recolhido. Fazendo o seu discernimento espiritual. 

A escolha dos 12 apóstolos era uma decisão muito importante. Normalmente, era o discípulo que escolhia o mestre. Aqui, é o mestre que escolhe os discípulos. Ser apóstolo é assumir a vida do próprio Cristo. É fazer como Jesus, é amar como Jesus, é ir contra toda lei e doutrina que oprime. Ser apóstolo não é uma tarefa fácil. E mais ainda, é não ter garantias de nada nessa vida. E despojar-se, é amar de todo o coração, de todo entendimento, de toda vontade. É colocar a vontade de Deus sobre todas as coisas e acolher e amar o próximo como a si mesmo. É deixar-se morrer, como o grão de trigo, para gerar vida, e vida em abundância. 

A missão que os apóstolos teriam não era fácil. Era uma missão de rejeição, de perseguição, de incompreensão. Uma missão que levaria à cruz. Antes de fazer essa escolha, Jesus deve ter experimentado cada um desses discípulos. Mas, por que está no início do evangelho a escolha dos 12? 

Encerrando, Jesus desce da montanha. Acabou sua oração. Partiu para missão. A multidão esperava para ouvir a palavra, ser curada.

A catequese de hoje nos convida a vivermos o chamado feito por Jesus dentro do processo de evangelização. Cada um tem uma missão específica. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela

Carta de São Paulo aos Efésios 5,21-33

Irmãos: 21Vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros. 22As mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor. 23Pois o marido é a cabeça da mulher, do mesmo modo que Cristo é a cabeça da Igreja, ele, o Salvador do seu Corpo. 24Mas como a Igreja é solícita por Cristo, sejam as mulheres solícitas em tudo pelos seus maridos. 25Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. 26Ele quis assim torná-la santa, purificando-a com o banho da água unida à Palavra. 27Ele quis apresentá-la a si mesmo esplêndida, sem mancha nem ruga, nem defeito algum, mas santa e irrepreensível. 28Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo. Aquele que ama a sua mulher ama-se a si mesmo. 29Ninguém jamais odiou a sua própria carne. Ao contrário, alimenta-a e cerca-a de cuidados, como o Cristo faz com a sua Igreja; 30e nós somos membros do seu corpo! 31Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. 32Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja. 33Em todo caso, cada um, no que lhe toca, deve amar a sua mulher como a si mesmo; e a mulher deve respeitar o seu marido. 

Palavra do Senhor.

Reflexão

Para o século XXI falar em submissão da mulher em relação ao homem soa como "politicamente incorreto". Sempre ficamos presos apenas na submissão da mulher. Entretanto, o texto é mais longo na relação do marido à sua esposa.

Paulo afirma, "maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela". E ainda acrescentou, "o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo". Pela ação do marido, assemelhando-se a Cristo, a mulher é tratada com carinho. 

Paulo convida os maridos que amem as suas esposas. E que as tratem com todo o carinho e cuidado com que tratam o seu próprio corpo.

Simples assim!

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 13,18-21


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 13,18-21

Naquele tempo: 18Jesus dizia: 'A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? 19Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore, e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos.' 20Jesus disse ainda: 'Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado.'

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Repetimos a catequese de Jesus sobre o Reino de Deus. Jesus compara o Reino ao grão de mostarda e ao fermento. O Reino de Deus não está presente na grandiosidade. O Reino de Deus não é o reino romano. O Reino de Deus não é igual ao reino de Herodes. 

O Reino de Deus é simples. Ele cresce e faz crescer, basta cuidar dele. Basta saber usar na medida certa. O Reino de Deus precisa ser cuidado diariamente. O Reino cresce conforme vamos nos aprofundando na oração, na meditação da palavra de Deus, no atendimento aos pobres, aos excluídos, aos que sofrem racismo, homofobia, misoginia. 

O fermento, na medida certa, faz a massa crescer. E o grão de mostarda, sendo bem tratado, faz a planta tornar-se uma grande hortaliça. Assim, não precisamos de grandes coisas para fazer o Reino de Deus, basta a nossa pequenez. Bastou a pequenez de Maria para que o Filho de Deus se fizesse homem e habitasse entre nós.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Hipócritas!


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 13,10-17

Naquele tempo: 10Jesus estava ensinando numa sinagoga, em dia de sábado. 11Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar. 12Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: 'Mulher, estás livre da tua doença.' 13Jesus colocou as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou, e começou a louvar a Deus. 14O chefe da sinagoga ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E, tomando a palavra, começou a dizer à multidão: 'Existem seis dias para trabalhar. Vinde, então, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado.' 15O Senhor lhe respondeu: 'Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? 16Esta filha de Abraão, que Satanás  amarrou durante dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?' 17Esta resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Um lugar, Sinagoga. Uma pessoa enferma há dezoito anos. Um Deus que liberta os oprimidos. Uma lei que tudo proíbe. Uma doutrina que subjuga as pessoas. Simples assim. 

Jesus subverte o que mandava a doutrina, a lei, o preceito, era proibido fazer qualquer coisa em dia de Sábado. Mas, Jesus conhecia bem as lideranças religiosas de seu tempo. Por incrível que pareça, a lei de nada fazer no sábado valia também para os animais. Entretanto, os fariseus soltavam seus bichos para que pudessem beber água no sábado. Mas, cobravam das pessoas nada fazerem.

Repito, Jesus subverteu a ordem. Para fazer o bem não há lei que proíba. Jesus foi contra o preceito, contra a doutrina. 

A leitura de hoje nos mostra que a vida tem mais valor do que preceitos, leis ou doutrinas que impedem o ser humano de ter acesso à vida. Simples assim. Não sejamos hipócritas. Defendamos a vida sempre. Amém.

sábado, 24 de outubro de 2020

"Amarás o teu próximo como a ti mesmo"


Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 22,34-40

Naquele tempo: 34Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, 35e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 36'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?' 37Jesus respondeu: '`Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!' 38Esse é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a esse: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. 40Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.

Palavra da Salvação

Reflexão.

"Naquele tempo, os fariseus". Essa frase é interessante. Olhando mais para a liturgia de hoje, vamos observar que a atitude farisaica de confrontar Jesus ainda está presente nos dia de hoje. Dentro da Igreja, pessoas que se prendem a doutrina mais ao que Deus quer de nós. 

Na primeira leitura, temos Deus dizendo como aqueles que creem nele devem agir com os que são perseguidos pela sociedade. Como deve ser nossas ações para os excluídos da sociedade. Como cuidar dos mais fracos. Além disso, Deus nos faz lembrar que não devemos acusar pois passamos pelas mesmas fraquezas que um pecador. Tal como o povo fora escravo no Egito, não devem agir de forma violenta com os escravos, nós devemos ter misericórdia dos pecadores. Estar ao lado dos excluídos, dos perseguidos, dos que sofrem racismo. Das mulheres violentadas. Da destruição do meio ambiente. 

No evangelho, queriam criar uma armadilha para Jesus. Pela "doutrina" queriam acusá-lo de crime. Antes de mais nada, devemos saber que para os fariseu o maior mandamento da Lei era a observância do sábado, pois até o próprio Deus havia respeitado o Sábado.

Jesus, sabendo o que ia no coração dos seus acusadores, e conhecendo a Lei de Deus, aquela do Sinai, afirma, "Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento" (Dt 6,5). Mas, dentro ainda do Pentateuco, no livro do Levíticos (19,18), a lei determinava que: "Amarás o teu próximo como  ti mesmo". E Jesus acrescentou, toda lei, toda ação dos profetas, "dependem desses dois mandamentos". 

Portanto, somos chamados a vivenciar isso em nossos dias. Amar os excluídos, os homossexuais, os irmãos e irmãs que vivem em segunda união, os que sofrem racismo. Acolher e defender as mulheres que sofrem violências. Fazer a opção preferencial pelos pobres e excluídos. Fazei isso, e vivereis. Fazei isso, e serás salvo. Fazei isso, e estarás sendo "imitadores de Jesus", pois foi assim que agiram os apóstolos, como afirmou Paulo na segunda leitura. Amém.

O Verbo, Sabedoria de Deus, se fez carne

Nesses dias, fiz a opção de publicar a segunda leitura do Ofício das Leituras, da Liturgia das Horas. Sempre é bom bebermos das fontes da Tradição da Igreja. O texto de hoje é de São Pedro Crisólogo, do século V. Trata-se da Encarnação.

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo

(Sermo 117: PL52,520-521) (Séc.V)

O santo Apóstolo refere que dois homens deram início ao gênero humano: Adão e Cristo. Dois homens, iguais quanto ao corpo, mas desiguais no valor. Com toda a verdade, inteiramente semelhantes na compleição física, mas, sem dúvida, diferentes por seu princípio. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, espírito vivificante (1Cor 15,45). 

O primeiro foi feito pelo último, de quem também recebeu a alma para poder viver. É ele figura de seu criador, que não espera de outro a vida, mas só ele a concede a todos. Aquele de limo vil é plasmado; este vem do precioso seio da Virgem. Naquele a terra se muda em carne; neste a carne é promovida a Deus. 

E que mais? É este o Adão que naquele primeiro pôs sua imagem ao criá-lo, e dele recebeu não só a personalidade, mas ainda o nome para que, tendo-o feito para si à sua imagem, não viesse a perecer. 

Primeiro Adão, último Adão. O primeiro tem começo, o último não conhece fim. Porque o último é na realidade o primeiro, conforme suas palavras: Eu, o primeiro, e eu, o último (Is 48,12). 

Eu sou o primeiro, isto é, sem começo. Eu, o último, absolutamente sem fim. Contudo, o que veio primeiro não foi o espiritual, mas o natural; em seguida, o espiritual (1Cor 15,46). Na verdade, primeiro a terra, depois o fruto; mas não tão preciosa a terra quanto o fruto. Ela exige gemidos e trabalhos; este oferece alimento e vida. 

Tem razão o Profeta de gloriar-se por tal fruto: Nossa terra deu seu fruto (cf.Sl 84,13). Que fruto? Aquele de que se fala em outro lugar: Do fruto de teu ventre porei sobre teu trono (Sl 131,11). O primeiro homem, diz o Apóstolo, vindo da terra, é terreno; o segundo, vindo do céu, é celeste. 

Qual o terreno, tais os terrenos; qual o celeste, tais os celestes (1Cor 15,47-48). Não nasceram assim. De que maneira então se transformaram, deixando seu ser do nascimento, permanecem agora no ser em que renasceram? Para isto, irmãos, o Espírito celeste fecunda por secreta infusão de sua luz a fonte do seio da Virgem, de sorte que aqueles que a origem da raça lamacenta produzira terrenos em mísera condição, sejam dados à luz celeste e elevados à semelhança de seu criador. Por conseguinte, já renascidos, já formados de novo à imagem de nosso Criador, realizemos a recomendação do Apóstolo: Portanto, como trouxemos a imagem do terrestre, traremos também a imagem do celeste (1Cor 15,49). 

Já renascidos, como dissemos, em conformidade com nosso Senhor, verdadeiramente adotados por Deus como filhos, traremos com plena semelhança a imagem perfeita de nosso Criador; não quanto à majestade em que é único, mas na inocência, simplicidade, mansidão, paciência, humildade, misericórdia, concórdia, em que, por condescendência, ele se fez tudo isto por nós e nos deu sua comunhão.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Súplica do povo arrependido


Partilho a leitura do livro do profeta Baruc tirado do Ofício da Leituras. 

Do Livro do Profeta Baruc 1,14—2,5; 3,1-8

1,14 Este livro, que vos enviamos para leitura pública, vós o fareis ler na casa do Senhor, nas solenidades e nos dias estabelecidos. 15Assim deveis dizer:

“Ao Senhor nosso Deus cabe j
ustiça; enquanto a nós, resta-nos corar de vergonha, como acontece no dia de hoje aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém, 16aos nossos reis, nossos príncipes e sacerdotes, aos nossos profetas e nossos antepassados: 17poispecamos diante do Senhor e lhe desobedecemos 18e não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, que nos exortava a viver de acordo com os mandamentos que ele pôs sob os nossos olhos. 19Desde o dia em que o Senhor tirou nossos pais do Egito, até hoje, temos sido desobedientes ao Senhor nosso Deus, procedemos inconsideradamente, deixando de ouvir sua voz; 20por isso perseguem-nos as calamidades e a maldição, que o Senhor nos lançou por meio de Moisés, seu servo, no dia em que tirou nossos pais do Egito, para nos dar uma terra que mana leite e mel, como de fato é hoje. 21Mas não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus, como vem nas palavras dos profetas que ele nos enviou, 22e entregamo-nos, cada qual, às inclinações do perverso coração, para servir a outros deuses e praticar o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus!

2,1 O Senhor cumpriu a ameaça que fez contra nós e nossos juízes, que julgavam Israel; contra nossos reis e nossos chefes e contra todos os habitantes de Israel e de Judá: 2de que traria sobre nós males enormes, que não tinham acontecido em nenhum lugar do mundo, como os que ele permitiu em Jerusalém, conforme estava prescrito no livro da Lei de Moisés, 3quando chegaram alguns de nós a comer as carnes do próprio filho ou da filha.4Deus entregou-os à submissão a todos os reinos em redor, para vergonha e maldição perante todos os povos vizinhos, por onde foram dispersos. 5Eles passaram de senhores a súditos, porque pecamos contra o nosso Deus, não obedecendo à sua voz.

3,1 Senhor todo-poderoso, Deus de Israel, a ti clama a alma angustiada, o espírito temeroso.2Ouve, Senhor, e tem piedade de nós porque pecamos contra ti; 3pois tu permaneces paras empre, e nós sempre perecemos. 4Senhor todo-poderoso, Deus de Israel, ouve agora a oração dos homens mortos de Israel, filhos daqueles que pecaram contra ti; não ouviram a voz do Senhor, seu Deus, e atraíram tantas desgraças sobre nós. 5Não leves em conta as iniquidades de nossos pais mas recorda-te da bondade de tua mão e do teu nome neste tempo, 6porque és o Senhor, nosso Deus; e nós te louvamos, Senhor, 7por teres infundido em nosso coração o teu temor, a fim de invocarmos o teu nome. Nós te louvamos em nosso cativeiro, porque afastamos de nosso coração toda a iniquidade de nossos pais que pecaram contra ti. 8Eis-nos hoje em cativeiro, para onde nos atiraste para sofrermos vergonha e maldição, e para expiarmos todas as iniquidades de nossos pais, que abandonaram o Senhor nosso Deus”.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A Paz Inquieta - Lucas 12,49-53


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12,49-53

Disse Jesus a seus discípulos: 49Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! 51Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'

Palavra da Salvação.

Reflexão

O texto que temos diante de nós é significativo e enigmático. Causa espanto. Eu poderia discorrer sobre muitas coisas desse texto. Mas, optei em compartilhar o poema Paz Inquieta e Dom Pedro Casaldáliga.


A Paz inquieta
(D. Pedro Casaldaliga)

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta
Que denuncia a PAZ dos cemitérios
E a PAZ dos lucros fartos.

A PAZ que nos sacode
Com a urgência do Reino.
Dá-nos a PAZ que luta pela PAZ!
A PAZ que nos invade,
Com o vento do Espírito,
A rotina e o medo,
O sossego das praias
E a oração de refúgio.

A PAZ das armas rotas
Na derrota das armas.
A PAZ do pão da fome de justiça,
A PAZ da liberdade conquistada,
A PAZ que se faz “nossa”
Sem cercas nem fronteiras,
Que é tanto “Shalom” como “Salam”,
Perdão, retorno, abraço…

Dá-nos a tua PAZ,
Essa PAZ marginal que soletra em Belém
E agoniza na Cruz
E triunfa na Páscoa.

Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta,
Que não nos deixa em PAZ!

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Nada encontrarás que não esteja contido na oração do Senhor


Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo

(Ep.130,12,22-13,24:CSEL44,65-68)         (Séc.V)

Nada encontrarás que não esteja contido na oração do Senhor

Quem diz, por exemplo: Sê glorificado em todos os povos, assim como foste glorificado em nós (Eclo 36,3) e: Sejam reconhecidos fiéis os teus profetas (Eclo 36,15), o que diz senão: Santificado seja o teu nome?  

Quem diz: Deus dos exércitos, converte-nos e mostra tua face e seremos salvos (Sl 79,4), o que diz senão: Venha o teu reino?  

Quem diz: Orienta meus caminhos segundo tua palavra e nenhuma iniquidade me dominará (Sl 118,133), o que diz senão: Seja feita tua vontade assim na terra como no céu?  

Quem diz: Não me dês indigência nem riquezas (Pr 30,8) o que diz senão: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje?  

Quem diz: Lembra-te, Senhor, de Davi e de sua mansidão (Sl 131,1) ou Senhor, se assim agi, se há iniquidade em minhas mãos, se paguei o bem com o mal (cf. Sl 7,14), o que diz senão: Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos a nossos devedores?  

Quem diz: Arrebata-me de meus inimigos, ó Deus, e dos que se levantam contra mim liberta-me (Sl 58,2), o que diz senão: Livra-nos do mal?  

E se percorreres todas as palavras das santas preces, em meu parecer, nada encontrarás que não esteja contido nesta oração dominical ou que ela não encerre. Por isto cada qual ao orar é livre de dizer estas ou aquelas palavras, mas não pode sentir-se livre de dizer coisa diferente.  

Sem a menor dúvida, é isso que devemos pedir na oração, por nós, pelos nossos, pelos estranhos e até pelos inimigos; uma coisa para este,outra para aquele, conforme o parentesco mais próximo ou mais afastado, segundo brote ou inspire o sentimento no coração do orante.  

Sabes, agora, assim penso, não apenas como rezar, mas o que rezar; não fui eu o mestre, mas aquele que se dignou ensinar-nos a todos nós.  

A vida feliz, a ela temos de tender, temos de pedi-la ao Senhor Deus. O que seja ser feliz tem sido muito e por muitos discutido. Nós, porém, para que irmos atrás de muitos e de muitas coisas? Na Escritura de Deus, com toda a verdade e concisão, se diz: Feliz o povo que tem por Senhor o próprio Deus (Sl 143,15). Para sermos deste povo, chegar a contemplar a Deus e com ele viver sem fim, a meta do preceito é a caridade com um coração puro, consciência boa e fé sem hipocrisia (cf. 1Tm 1,5).  

Nestes três objetivos, a esperança corresponde à boa consciência. Portanto a fé, a esperança e a caridade levam a Deus o orante, aquele que crê, que espera, que deseja e que presta atenção ao que pede ao Senhor na oração dominical.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

A oração do Senhor


O oração do Pai Nosso é uma oração que transforma a vida do orante. Não baste repetir palavras. É preciso viver o que se reza. 


Da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo

(Ep. 130,11,21-12,22: CSEL 44,63-64)(Séc. V)

A oração do Senhor 

Temos necessidade de palavras para incitar-nos e ponderarmos o que pediremos, e não com a intenção de dá-lo a saber ao Senhor ou a comovê-lo.

Quando, pois, dizemos: Santificado seja o teu nome, exortamo-nos a desejar que seu nome, imutavelmente santo, seja também considerado santo pelos homens, isto é, não desprezado. O que é de proveito para os homens, não para Deus.

E ao dizermos: Venha teu reino que, queiramos ou não, virá sem falta, acendemos o desejo deste reino; que venha para nós e nele mereçamos reinar.

Ao dizermos: Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu, pedimos-lhe conceder-nos esta obediência de sorte que se faça em nós sua vontade do mesmo modo como é feita no céu por seus anjos.

Dizemos: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Pela palavra hoje se entende este nosso tempo. Ou, com a menção da parte principal, indicando o todo pela palavra pão, pedimos aquilo que nos basta. O sacramento dos fiéis, necessário agora, não, porém, para a felicidade deste tempo, mas para alcançarmos a felicidade eterna.

Dizendo: Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores, tomamos consciência do que pedimos e do que temos de fazer para merecer obtê-lo.

Ao dizer: Não nos leves à tentação, advertimo-nos a pedir que não aconteça que, privados de seu auxílio em alguma tentação, iludidos, consintamos nela, ou cedamos perturbados.

Dizer: Livra-nos do mal nos leva a pensar que ainda não estamos naquele Bem em que não padeceremos de mal algum. E este último pedido da oração dominical é tão amplo, que o cristão em qualquer tribulação em que se veja, por ele pode gemer, nele derramar lágrimas, daí começar, nele demorar-se, nele terminar a oração. É preciso guardar em nossa memória, por meio destas palavras, as realidades mesmas.

Pois quaisquer outras palavras que dissermos – tanto as formadas pelo afeto que as precede e esclarece, quanto as que o seguem e crescem pela atenção dele – não dirão nada que não se encontre nesta oração dominical, se orarmos como convém. Quem disser algo que não possa ser contido nesta prece evangélica, sua oração, embora não ilícita, é carnal; contudo não sei como não ser ilícita, uma vez que somente de modo espiritual devem orar os renascidos do Espírito.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Anunciamos Cristo crucificado


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12,13-21

13Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: 'Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.' 14Jesus respondeu: 'Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?' 15E disse-lhes: 'Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens.' 16E contou-lhes uma parábola: 'A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: 'O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. 18Então resolveu: 'Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: - Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!' 20Mas Deus lhe disse: 'Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?' 21Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.' 

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Hoje celebramos a memória de São Paulo da Cruz, fundador da Ordem da Paixão de Cristo, Passionistas. Para que possamos auri a graça da experiência religiosa desse santo de nossa Igreja, compartilho uma parte das Cartas de São Paulo da Cruz.


Das Cartas de São Paulo da Cruz, presbítero

(Epist. 1,43; 2,440.825) (Séc. XVIII)


Coisa excelente e muito santa é pensar e meditar sobre a Paixão do Senhor, pois por este caminho chegamos à união com Deus. Nesta escola tão santa aprende-se a verdadeira sabedoria. Foi aí que todos os santos a estudaram. Quando, pois, a cruz de nosso bom Jesus lançar raízes mais profundas em vosso coração, então cantareis: seja “Sofrer e não morrer”; seja “Ou sofrer ou morrer”, seja, ainda melhor, “Nem sofrer nem morrer, apenas a perfeita conversão à vontade de Deus”.

O amor é força de união e faz seus os tormentos do Bem muito amado. Este fogo vai até à medula, converte o que ama no amado. De modo mais profundo, o amor se mistura à dor, e a dor, ao amor. Há, então, uma mistura de amor e de dor tão estreita que não se pode separar o amor da dor, nem a dor, do amor. Por isto, quem ama se alegra com sua dor, e exulta em seu amor sofredor.

Sede, portanto, constantes na prática de todas as virtudes, imitando, de modo particular, o suave Jesus padecente, porque é isto o cume do puro amor. Procedei de modo que todos reconheçam que trazeis não só interior, mas ainda exteriormente, a imagem de Cristo crucificado, modelo de toda doçura e mansidão. Quem está interiormente unido ao Filho do Deus vivo, revela no exterior sua imagem pelo contínuo exercício da virtude heróica, principalmente pela paciência cheia de força que nem em segredo nem em público se queixa. Portanto, escondei-vos em Jesus crucificado, sem desejar coisa alguma a não ser que todos em tudo aceitem sua vontade.

Verdadeiros amigos do Crucificado, celebrareis sempre no templo interior a festa da cruz, suportando em silêncio, sem vos apoiar em criatura alguma. Uma festa deve ser celebrada na alegria; por isso os que amam o Crucificado irão à festa da cruz com rosto jovial e sereno, suportando calados, de forma que permaneça oculta aos homens, só conhecida pelo sumo Bem. Numa festa há sempre banquete; as iguarias são a vontade divina, a exemplo de nosso Amor crucificado.

Na cidade do Rio de Janeiro, os padres passionistas estão no Andaraí, Rua Barão de Mesquita, 763, Paróquia de São José e Nossa Senhora das Dores. Telefone: 3529-8710. Facebook: https://pt-br.facebook.com/PSJNSD/

domingo, 18 de outubro de 2020

O Senhor acompanha seus pregadores. "Eis-me aqui, envia-me"


Dia Mundial das Missões. Partilho com você dois textos. O primeiro, de São Gregório Magno, que fala dos pregadores. E o segundo, a mensagem do Papa Francisco para o dia hoje.


Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

(Hom. 17,1-3:PL76,1139) Séc.VI)

Nosso Senhor e Salvador, caríssimos irmãos, ora por palavras, ora por fatos nos adverte. Com efeito, até mesmo suas ações são preceitos, porque, ao fazer alguma coisa em silêncio, dá-nos a conhecer aquilo que devemos realizar. Eis que envia dois a dois seus discípulos a pregar, já que são dois os preceitos da caridade, o amor de Deus e do próximo. 

O Senhor envia a pregar os discípulos dois a dois, indicando-nos com isso, sem palavras, que quem não tem caridade para como próximo de modo algum deverá receber o ofício da pregação. 

Muito bem se diz que os enviou diante de sua face a toda cidade e local aonde ele iria(Lc 10,1). O Senhor vai atrás de seus pregadores, porque a pregação vai à frente e depois chega o Senhor à morada de nosso espírito, quando as palavras de exortação o precedem e, por elas, o espírito acolhe a verdade. Por este motivo Isaías fala a esses pregadores: Preparai o caminho do Senhor, aplanai as veredas de nosso Deus (Is 40,3). E o Salmista: Abri caminho para aquele que sobe do ocaso (Sl 67,5 Vulg.). Sobe do ocaso o Senhor porque onde morreu na paixão, ali mesmo, ao ressurgir, manifestou sua maior glória. Sobe do ocaso, porque a morte que aceitou, ressurgindo, calcou-a aos pés. Portanto abrimos caminho ao que sobe do ocaso, quando nós vos pregamos sua glória para que, vindo ele próprio depois, vos ilumine com a presença de seu amor. 

Ouçamos o que ele diz quando envia pregadores: A messe é grande, são poucos os operários. Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo (Mt 9,37-38). Para grande messe, poucos operários, coisa que não sem imensa tristeza podemos repetir; pois embora haja quem escute as palavras boas, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes, todavia, raramente se vê um operário na messe de Deus; porque aceitamos, sim, o ofício sacerdotal, mas não cumprimos o dever do ofício. 

Mas pensai, irmãos caríssimos, pensai no que foi dito: Rogai ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. Pedi vós por nós, para que possamos fazer coisas dignas de vós; que a língua não se entorpeça por não querer exortar; tendo recebido o encargo de pregar, não vá nosso silêncio condenar-nos diante do justo Juiz.


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO

PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020


[18 de outubro de 2020]

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8)

Queridos irmãos e irmãs!

Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».

Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que, nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar.

A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11).

Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco

sábado, 17 de outubro de 2020

Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 12,8-12

Disse Jesus aos seus discípulos: 8Todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, o Filho do Homem também dará testemunho dele diante dos anjos de Deus. 9Mas aquele que me renegar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. 10Todo aquele que disser alguma coisa contra o Filho do Homem será perdoado. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado. 11Quando vos conduzirem diante das sinagogas, magistrados e autoridades, não fiqueis preocupados como ou com que vos defendereis, ou com o que direis. 12Pois nessa hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer.'

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Hoje celebramos a memória de Santo Inácio de Antioquia, um dos sucessores do apóstolo Pedro na condução da Igreja. Compartilho um dos seus escritos para nossa reflexão.

Da Carta aos romanos, de Santo Inácio, bispo e mártir

(Cap.4,1-2;6,1-8,3: Funk 1,217-223) (Séc. I)

Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que morro por Deus com alegria, desde que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser alimento das feras; por elas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus. 

Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres são vantagens para mim. Mais me aproveita morrer em Cristo Jesus do que imperar até os confins da terra. Procuro-o, a ele que morreu por nós; quero-o, a ele que por nossa causa ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai-me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, eu, que tanto desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a luz pura; quando lá chegar, serei homem. Concedei-me ser imitador da paixão de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo quais os meus impedimentos. 

O príncipe deste mundo deseja arrebatar-me e corromper meu amor para com Deus. Nenhum de vós, aí presentes, o ajude! Ponde-vos de meu lado, ou melhor, do lado de Deus. Não podeis dizer o nome de Jesus Cristo, enquanto cobiçais o mundo. Que a inveja não more em vós! Mesmo que eu em pessoa vos rogue, não me acrediteis; crede antes no que vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz em segredo: “Vem para o Pai”. Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi; e quero a bebida, o seu sangue, que é a caridade incorruptível. 

Não quero mais viver segundo os homens. Isto acontecerá se vós quiserdes. Rogo-vos que o queirais para alcançardes também vós a misericórdia. Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditai em mim! Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou. Pedi vós por mim, para que o consiga. Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me quisestes bem; se rejeitado, vós me odiastes.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Tendia sempre para Deus

Da Vida de Santa Edviges, escrita por um contemporâneo

(Acta Sanctorum Octobris 8[1853],201-202)
(Séc.XIII)

A serva de Deus sabia que as pedras vivas, empregadas na construção da celeste Jerusalém, devem ser polidas neste mundo pelos golpes e aflições e que as muitas tribulações são necessárias para se passar para a suprema glória e a pátria esplêndida. Expôs-se com total generosidade a muitos padecimentos e, sem piedade, maltratou o corpo por muitas e freqüentes flagelações. Macerava-se com jejuns e abstinências diárias tão severas que muitos se admiravam como uma mulher tão fraca e delicada pudesse agüentar tais tormentos.
Quanto mais atentamente se entregava à assídua mortificação da carne, feita, porém, com discernimento, tanto mais crescia no vigor do espírito e no desabrochar da graça, e nela se alimentava mais fortemente o incêndio da devoção e do amor divino. Não poucas vezes era arrastada ao alto e levada a Deus por tão ardente desejo, que ficava insensível e sem se dar conta do que se passava ao redor.
Da mesma forma como a devoção do espírito tendia sempre para Deus, sua piedade benfazeja inclinava-se para o próximo, distribuindo com liberalidade esmolas aos indigentes, aos conventos e religiosos, que moravam dentro ou fora dos mosteiros, às viúvas e aos órfãos, aos doentes e fracos, aos leprosos, aos presos nas cadeias ou nos cárceres, aos peregrinos, às mulheres pobres que amamentavam os filhinhos. Assim a todos socorria com seus benefícios; e absolutamente a ninguém que viesse em busca de auxílio permitia sair sem conforto.
E porque esta serva de Deus nunca descuidou de exercer todas as boas obras a seu alcance, Deus lhe concedeu também esta graça: mesmo humanamente impossibilitada de agir, sem nada poder fazer com as próprias forças, por virtude divina da paixão de Cristo, conseguia realizar aquilo que as súplicas do próximo em necessidade lhe pediam. Por isto, aos que a ela recorriam tanto nas dificuldades do corpo quanto do espírito, teve o poder de ajudar, segundo a vontade do bem-querer divino.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Lembremo-nos sempre do amor de Cristo


Hoje celebramos Santa Teresa de Jesus, a de Ávila. Para que possamos beber nas fontes de sua experiência mística, posto aqui uma parte de seus escritos. Boa leitura.

Das Obras de Santa Teresa de Jesus, virgem (Opusc. De libro vitae, cap.22,6-7.14)            (Séc.XVI)

Lembremo-nos sempre do amor de Cristo

Com tão bom amigo presente, com tão esforçado chefe, tudo se pode sofrer. Serve de ajuda e dá reforço; a ninguém falta. É amigo verdadeiro. Sempre tenho visto claramente que, para contentarmos a Deus e para que nos faça ele mercês, quer que seja por intermédio desta humanidade sacratíssima, na qual declarou Sua Majestade ter posto suas complacências. 

É o que muitíssimas vezes e muito bem tenho visto por experiência, e também mo disse o Senhor. Tenho compreendido claramente que por esta porta havemos de entrar, se quisermos que nos mostre grandes segredos a soberana Majestade. De modo que não se queira outro caminho, ainda que se esteja no cume da contemplação. Por aqui se vai seguro. É por meio deste Senhor nosso que nos vêm todos os bens. Ele ensinará o caminho: contemplemos sua vida, porque não há modelo melhor. 

O que mais queremos, do que ter a nosso lado tão bom amigo, que não nos deixará nos trabalhos e nas tribulações, como fazem os amigos deste mundo? Bem-aventurado quem o amar de verdade e sempre o trouxer junto de si. Olhemos o glorioso São Paulo de cujos lábios, por assim dizer, não saía senão o nome de Jesus, tão bem gravado o tinha no coração. Desde que entendi isto, tenho considerado atentamente alguns santos, grandes contemplativos, tais como São Francisco, Santo Antônio de Pádua, São Bernardo, Santa Catarina de Sena. Com liberdade havemos de andar neste caminho, entregues às mãos de Deus. Se Sua Majestade quiser elevar-nos à categoria de seus íntimos e confidentes dos seus segredos, vamos de boa vontade. 

Quando pensarmos em Cristo, sempre nos lembremos do amor com que nos concedeu tantas graças e da grande ternura que nos testemunhou em nos dar tal penhor do muito que nos ama, pois amor pede amor. Procuremos sempre ir considerando estas verdades e estimulando-nos a amar. Porque, uma vez que nos conceda o Senhor a graça de que este amor nos seja impresso no coração, tudo nos será mais fácil: faremos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho.

Carta de São Paulo aos Efésios 1,1-10

1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus: 2a vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. 4Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. 5Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, 6para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. 7Pelo seu sangue, nós somos libertados. Nele, as nossas faltas são perdoadas, segundo a riqueza da sua graça, 8que Deus derramou profusamente sobre nós, abrindo-nos a toda a sabedoria e prudência. 9Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, 10para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra. 

Palavra do Senhor.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Aí de vós!


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 11,42-46

Disse o Senhor: 42Aí de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo. 43Aí de vós, fariseus, porque gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas praças públicas. 44Aí de vós, porque sois como túmulos que não se vêem, sobre os quais os homens andam sem saber.' 45Um mestre da Lei tomou a palavra e disse: 'Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!' 46Jesus respondeu: 'Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo.

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Mais, um texto de fácil compreensão para nós. Não bastam regras, é preciso agir com misericórdia. Não basta cumprir preceitos, é preciso ir ao encontro dos que abandonaram a fé. Uma prática baseada em ocupar lugar de destaque, é uma fé morta, escondida dentro de sepulcros disfarçados. 

As práticas religiosas devem nos levar à caridade. E essas estão descritas nas obras de misericórdia, sejam elas espirituais ou corporais.

Obras de misericórdia corporais: 1) Dar de comer a que tem fome, 2) Dar de beber a quem tem sede, 3) Dar pousada aos peregrinos, 4) Vestir os nus, 5) Visitar os enfermos, 6) Visitar os presos, 7) Enterrar os mortos.

Obras de misericórdia espirituais: 1)Ensinar os ignorantes, 2) Dar bom conselho, 3) Corrigir os que erram, 4) Perdoar as injúrias, 5) Consolar os tristes, 6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo, 7) Rezar a Deus por vivos e defuntos.

Ouçamos Jesus que diz, ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’(Mt 9,13).

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós.


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 11,37-41

37Enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus entrou e pôs-se à mesa. 38O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tivesse lavado as mãos antes da refeição. 39O Senhor disse ao fariseu: 'Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. 40Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós.

Palavra da Salvação.

Reflexão.

O texto de hoje me remeteu a dois outros, que nos ajudam na meditação do que está diante de nós.

Na primeira leitura lemos, "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1). E o segundo, é tirado dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. No número 23, Princípio e Fundamento, ele diz que "o ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir da Deus nosso Senhor e, assim, salvar-se". Em seguida, acrescenta que devemos "usar das coisas tanto quanto para atingir o seu fim, e deve provar-se delas tanto quanto o impedem".

Jesus foi à casa de um fariseu, homem observante da lei. De práticas religiosas rígidas. Observantes de práticas individualistas. Poderíamos dizer, hoje, que são as pessoas que vão à Missa por preceito. Que tem práticas religiosas porque a lei manda. Que se preocupam em cumprir ordens pessoais.

Jesus, na sua proposta de uma nova humanidade, em mostrar como é no Reino de Deus, diz que e o que torna o ser humano impuro não é o que ele faz no exterior, mas aquilo que vai no seu coração. Do que adiante práticas legais se há pessoas passando fome? Do que adianta participar de tantas Missas se se vota em pessoas que defendem a pena de morte, a agressão a natureza, a violência contra mulheres e homossexuais? Reza-se terços e rosários, mas a situação de tantos irmãos e irmãs que sofrem racismo e preconceito por conta da cor da pele. 

Hoje a catequese de Jesus nos indica de como devemos viver nossas práticas religiosas. Não basta "purificar-se" externamente, é preciso ter um coração novo, misericordioso, acolhedor, que vai ao encontro do outro. Amém.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Fazei o que ele vos disser


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2,1-11

1Houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". 4"Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou." 5Sua mãe disse aos que estavam servindo: "Fazei o que ele vos disser". 6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7Jesus disse aos que estavam servindo: "Enchei as talhas de água". Encheram-nas até a boca. 8Jesus disse: "Agora tirai e levai ao mestre-sala". E eles levaram. 9O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: "Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!" 11Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.

Palavra da Salvação.

Reflexão.

"Fazei o que ele vos disser". Essa é a frase que precede a leitura do evangelho na festa de hoje. Ao lermos essa leitura, normalmente, nos atemos ao milagre da água que se transforma em vinho, no caminho até o mestre sala. E, deixamos de lado o "fazei o que ele vos disser".

Maria pede uma intervenção do filho na vida daquele casal. Ficar sem vinho naquele momento da festa seria uma vergonha. Ela se dirige ao Filho e ao serventes (diáconos). A intervenção de Jesus depende da ação daqueles que se colocam à serviço. 

"Fazei o que ele vos disser", significa, se colocares em prática as palavras Deles, vós tereis a alegria, a felicidade, as bênçãos e graças que vem da parte de Deus. Jesus diz para dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, visitar os doentes e encarcerados, acolher os refugiados. Ao se dirigir à samaritana, ele nos mostra que devemos ser contra toda forma de preconceito. Ao acolher Mateus no grupo dos discípulos, nos indica que os pecadores são os destinatários da salvação que vem de Deus. Ao perdoar a "mulher pecadora", nos indica que devemos ser misericordiosos. Jesus nos indica como deve ser a nova humanidade. Como deve ser o relacionamento novo entre as pessoas. Que devemos ser contra todo racismo, toda discriminação pela opção sexual das pessoas. Que devemos conservar o meio ambiente, nossa casa comum. Que todos somos irmãs e irmãos. 

Ao celebrarmos a Festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, acolhamos a mãe nos dada pelo próprio Jesus, "filho, eis ai a sua mãe", e sigamos a ordem de Maria, "fazei o que ele vos disser". Amém.

domingo, 11 de outubro de 2020

Um homem que não estava usando traje de festa

XXVIII Domingo do Tempo Comum

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 22,1-14

Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, 2dizendo: 'O Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. 3E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir. 4O rei mandou outros empregados, dizendo: `Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!' 5Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, 6outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. 7O rei ficou indignado e mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles. 8Em seguida, o rei disse aos empregados: `A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. 9Portanto, ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes.' 10Então os empregados saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados. 11Quando o rei entrou para ver os convidados, observou ali um homem que não estava usando traje de festa 12e perguntou-lhe: `Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?' Mas o homem nada respondeu. 13Então o rei disse aos que serviam: `Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Ali haverá choro e ranger de dentes'. 14Por que muitos são chamados, e poucos são escolhidos.'

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Jesus ainda está falando para os sacerdotes e anciãos do povo. Ele está no templo. Nos últimos dois domingos, Jesus comparou o Reino de Deus a uma vinha. Hoje, ele fala de um banquete de núpcias. Duas realidades bem presentes na vida do povo. 

Um Rei preparou a festa de casamento de seu filho. Depois de tudo pronto, enviou os empregados para chamar os convidados. Entretanto, esses recusaram o convite.  Cada um deu uma desculpa. Algumas até convincente. 

Diante da recusa, o rei fica indignado. Por outro lado, a festa tinha que acontecer. Então o rei manda chamar aqueles que estivessem pelo caminho, fosse bons ou maus. Esses, aceitaram o chamado, e ocuparam a sala da festa. Mas um convidado não tinha o traje adequado, e foi retirado pelo rei.

O rei é Deus. A festa, é para o Filho, Jesus. Os primeiros convidados são os judeus, povo da primeira aliança. Os empregados, os profetas. Entretanto, os sacerdotes e anciãos do povo não deram ouvido ao convite do rei. Rejeitaram a festa do Filho. Não acolheram sua palavra.

Então, a festa é estendida a todas e todos que não pertencem ao povo escolhido. Aos que estavam fora da primeira aliança. Esses são acolhidos na festa. São admitidos ao salão da festa. Usam a veste de festa. Mas, um convidado não está dignamente trajado para a festa. Isso nos chama atenção. Aqui acontece algo interessante. O traje da festa é a Palavra de Deus, acolhida e vivida pela comunidade. Todas e todos que se revestem da palavra que forja uma nova humanidade, são admitidos à festa do Reino. Mas, uma pessoa não está trajada dignamente. Quer dizer, apesar de estar no salão, não assumiu em sua vida a opção pela nova forma de viver. Não rompeu com os preconceitos, com as várias formas de racimos, com a homofobia, com a misoginia, com a destruição do meio ambiente.

Para fazer parte da festa do Filho do Rei é preciso mudar de atitudes. Revestir-se com uma roupa nova. Assumir a opção por Jesus. Todos e todas que rejeitam a opção pelo Reino de Deus serão lançados fora. Deus nos quer todos na festa do Reino, mas é preciso assumir um novo jeito de ser, revestir-se da nova proposta apresenta por Jesus. 

Bom domingo. Deus vos abençoe. Amém

sábado, 10 de outubro de 2020

Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 11,27-28

27Enquanto Jesus falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: 'Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram.' 28Jesus respondeu: 'Muito mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.'

Palavra da Salvação.

Reflexão

Pronto. Simples. Direto. "No meio da multidão", "uma mulher", "levantou a voz". A mulher se admira com a profundidade da humanidade de Jesus. Esse homem que está falando, que fala do Reino de Deus, que apresenta uma proposta nova de humanidade, uma nova forma de relações sociais, deve ter aprendido isso dentro de casa, gerado e alimentado por uma pessoa que vive as dificuldades do povo.

Essa pessoa que gerou e alimentou Jesus é bem aventurada. Mas, os que ouvem a palavra de Deus e as põem em prática são "muito mais felizes". 

Então, se queres ser feliz, ouve e pratica a palavra de Deus. Amém.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 11,15-26

Jesus estava expulsando um demônio: 15Mas alguns disseram: 'É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.'  16Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. 18Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. 21Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. 22Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. 23Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. 24Quando o espírito mau sai de um homem, fica vagando em lugares desertos, à procura de repouso; não o encontrando, ele diz: 'Vou voltar para minha casa de onde saí'. 25Quando ele chega, encontra a casa varrida e arrumada. 26Então ele vai, e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. E, entrando, instalam-se aí. No fim, esse homem fica em condição pior do que antes.'

Palavra da Salvação.

Reflexão.

A simplicidade das palavras de Jesus causa espanto por sua profundidade. As pessoas atribuíam os milagres de Jesus a forças que veriam do maligno. Ledo engano. Queriam desqualificar a mensagem e as ações que Deus realiza no meio do povo através de Jesus. É óbvio que dizer que era pelo poder do mal que Jesus libertava as pessoas é levantar falso testemunho.

Então, a catequese de Jesus nos ensina que um reino divido entre si não pode subsistir. Então, olhamos para nós no dias de hoje. Quando clérigos se posicionam contra as palavras e ações do Papa Francisco, estão querendo dividir a Igreja. Quando leigos fazem "lives" para difamar pessoas da Igreja que estão ao lado dos pobres, e junto de suas lutas por conquistas sociais, estão querendo dividir o Reino. Dividir não é uma ação do Espírito Santo. O Espírito unifica criatura e criador. E Jesus faz o alerta: "Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa". Ficar alertas, é isso que Jesus nos chama.

Valorizamos tanto os nossos sacramentos (para nós católicos). Eucaristia e Penitência são dois sacramentos que hoje estão muito em evidência, principalmente por causa da pandemia. Entretanto, devemos ficar alertas. Ao sermos purificados pelo sacramento da Penitência, que nos impulsiona para a mesa do pão eucarístico, devemos lembrar que no lugar onde havia o pecado confessado devemos preencher esse espaço pela Palavra de Deus, pela Oração, pela Caridade, pela Misericórdia. Quando confessamos nossos pecados, nos comprometemos em arrumar a casa; em nos libertamos de toda sujeira da divisão, da discriminação, da misoginia, da homofobia, da destruição do meio ambiente. Mas, para que esses pecados não retornem com mais força, devemos colocar no lugar deles a solidariedade, a humanidade, a meditação da palavra de Deu; o ir ao encontro dos famintos, dos sedentos, dos doentes e encarcerados, de vestir os nus, e de acolher os que estão em situação de rua ou refugiados pelo mundo.

Busquemos o Reino de Deus. Busquemos uma vida santa e agradável a Deus. Uma vida de solidariedade. Uma vida que escolhe pessoas para ocupar cargos públicos que valorizem a vida das pessoas, que executem políticas públicas que gerem renda, saúde, previdência, salário digno, e muitas outras coisas que nossos irmãos e irmãs pobres são desprovidos e desprovidas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 11,5-13

Disse Jesus aos seus discípulos: 5E Jesus acrescentou: 'Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: 'Amigo, empresta-me três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer', 7e se o outro responder lá de dentro: 'Não me incomoda! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães'; 8eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. 

9Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. 10Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá. 11Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem! '

Palavra da Salvação.

Reflexão.

A história que Jesus conta deveria ser alguma coisa corriqueira no seu tempo. A ajuda mútua entre irmãos e amigos.

Mas, a história narra um fato de alguém importunar o outro tarde da noite. E Jesus insiste que a ajuda virá mais por conta da insistência de quem pede, do que pela relação de amizade. Não tem como imaginarmos uma casa no tempo de Jesus igual as nossas. Com espaços bem definidos. Além disso, ao se recolher para dormir, as pessoas ocupavam os espaços da casa, até a entrada de dispensa. 

Então, Jesus entra na sua catequese evangelizadora. Ele nos ensina como devemos pedir o Espírito Santo. E faz essa comparação de uma forma meio que estranha para nós. Ele diz que se os maus sabem dar coisas boas para seus filhos, quanto mais Deus nos daria o Espírito Santo. E aí está a chave da leitura de hoje.

Esse Espírito Santo é que nos anima nos momentos de fraqueza, de desânimo, de perseguição. É o Espírito Santo que nos impulsiona para ir ao encontro dos sofredores, dos perseguidos, dos que sofrem racismos, dos que são discriminados pela opção sexual que fizeram. Esse mesmo Espírito nos impele a alimentarmos os famintos, saciarmos os sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, visitar os doentes e presos. O Espírito Santo gera solidariedade. O Espírito Santo nos ensina a sermos comunidade. A olharmos para nossas irmãs e irmãos que estão sujeitos a situações de desumanidade. 

Peçamos a Deus o Espírito Santo que nos faça ir ao encontro dos necessitados. Lembremos, se somos animados pelo Espírito de Deus, não podemos apoiar políticas públicas que destroem a vida, que agride as pessoas, que destrói a natureza.

Que Deus derrame sobre todas as pessoas de boa vontade o seu Espírito Santo para que tenhamos uma nova humanidade. Amém.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Todos eles perseveravam na oração em comum


 

Atos dos Apóstolos 1,12-14

Depois que Jesus foi elevado ao céu, 12os apóstolos voltaram para Jerusalém, vindo do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, a mais ou menos um quilômetro. 13Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. 14Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Palavra do Senhor.

Reflexão.

Essa cena está descrita bem no início dos Atos dos "Apóstolos". Se observaram, coloquei a palavra apóstolos entre aspas. Pois, depois de certa altura desse livro, me parece que Lucas mais fala dos feitos de Paulo do que dos outros apóstolos. Apesar de em alguns momentos aparecer a figura de Pedro, Tiago, Bartolomeu. Além disso, o texto fala de "algumas mulheres", e nomeia Maria, a mãe de Jesus.

Existiam mulheres apóstolas também? Maria, mãe de Jesus, seria uma dessas apóstolas? E Maria Madalena? E as outras mulheres que acompanhavam o grupo de Jesus, seriam apóstolas? 

Se levarmos em consideração que um homem judeu não podia conversar com mulheres de fora do seu círculo familiar, podemos depreender que havia algumas mulheres que seriam apóstolas de outras mulheres, mesmo que o texto não as cite como tal.  E a mãe de Jesus seria o modelo de apóstola para as mulheres. 

Maria era uma mulher que compreendia bem o que era fazer a vontade de Deus, "eis aqui a serva do Senhor". Ela soube assumir, em sua vida, a vontade de Deus, "faça-se em mim segundo a vossa palavra". Foi a primeira a fazer "apostolado", foi à casa de Isabel. A primeira oração de louvor foi feita por ela, o Magnificat. Aprendeu a lidar com a dor da rejeição, da tortura, da morte de um inocente. Alegrou-se com a ressurreição do Filho (Santo Inácio de Loyola, nos Exercícios Espirituais, diz que Jesus apareceu primeiro a sua mãe, pois era um bom filho, mesmo que as escrituras não registrem isso).

Apesar de o texto não dar o devido destaque à mãe de Jesus, colocando os "apóstolos" em evidência, não é de se estranhar que ela ocupasse o mesmo espaço que eles na casa. Junto com outras mulheres. Assim, a nova comunidade formada por Jesus não poderia fazer distinção de pessoas. Todos são anunciadores, todos/todas são enviados/enviadas. Na comunidade cristã já não se faz distinção de pessoas, nem de sexo. Tanto que o Papa Francisco proclamou Maria Madalena a apóstola dos apóstolos. Ou seja, pela boca de uma mulher foi anunciado aos "apóstolos" que Jesus havia ressuscitado.

Hoje fazemos memória a Nossa Senhora do Rosário. E essa forma de oração e devoção popular nos é muito significativa. O rosário perpassa todo o mistério da vida de Jesus, do seu nascimento até a ressurreição. E Maria esteve presente em todos esses momentos de forma muito significativa, acompanhando o Filho. 

Rezar o Rosário não é uma mera repetição de palavras. O Rosário deve ser a oração do missionário/missionária. A missão confiada a nós é um prolongamento do mistério da vida de Jesus. O Rosário não pode nos enclausurar em nossas Igrejas, ou em nós mesmos. Meditar a vida Jesus através do Rosário é um alimentar-se para partir e anunciar o Evangelho. É a força dos apóstolos/apóstolas. 

Ser mariano é saber dizer, "faça-se em mim segundo a vossa vontade" e acrescentar, "eis aqui a serva (servo)  do Senhor". Amém.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 10,38-42.

38Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. 40Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!' 41O Senhor, porém, lhe respondeu: 'Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.'

Palavra da Salvação.

Reflexão.

Jesus está numa "visita pastoral". Aqui não nos importa se Ele conhecia ou não a família. Lembro que essa era a família de Lázaro. 

A história de hoje nos mostra como devemos aproveitar os momentos em que podemos estar com Jesus, ouvindo sua palavra, e desfrutando de sua companhia. Algumas pessoas poderiam falar que é por isso que sentem falta da missa. Ou de momentos de adoração ao Santíssimo. Entretanto, essa é uma das maneiras de estarmos com Jesus. Ele se faz presente em nossas casas. Ele não está exclusivamente dentro da igreja. O templo é um espaço onde ele se faz presente também. Mas não é exclusivo. 

São Jerônimo dizia que "desconhecer as Escrituras é desconhecer o próprio Cristo". Em tempos de isolamento social, ler, meditar e refletir a palavra de Deus é uma forma de estar próximo de Jesus. 

Maria nos ensina que não devemos perder essa oportunidade de estar com Jesus. A Liturgia das Horas, que marca nosso dia, é uma excelente oportunidade de estarmos com Jesus. 

Aproveite essa leitura e comece a desfrutar da presença de Jesus em sua vida através da Palavra de Deus. Amém.