sábado, 25 de setembro de 2021

O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 9,43b-45

Naquele tempo: 43bTodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44'Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.' 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

Palavra da Salvação.

Breve palavra.

Enquanto as pessoas ficavam admiradas com as palavras de Jesus, Ele falava em ser entregue nas mãos dos homens para morrer. E os discípulos não compreendiam.

É interessante notar que o ensinamento de Jesus é um ensinamento que gera vida a partir da morte. É preciso regar o campo do mundo com o sangue que traz libertação, que faz ver o outro como pessoa humana também. Que não discrimina. Que acolhe. Que não faz distinção das pessoas pela cor da pele, pela religião que professa, pela opção de vida sexual que faça. 

Assim devem ser os discípulos de Jesus. Assumir o amor, o amor de Deus pela humanidade. E esse amor leva a doação da própria vida. Amém.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A fé é coroada pelo amor e a perseverança



Da última Exortação de Santo André Kim Taegón, presbítero e mártir

(Pro Corea. Documenta., ed. Mission Catholique Séoul, Séoul-Paris 1938, Vol. I, 74-75)

(Séc. XIX)

A fé é coroada pelo amor e a perseverança

Meus caríssimos irmãos e amigos, considerai como Deus no princípio dos tempos dispôs os céus, a terra e todas as coisas; meditai também com que especial intenção criou o ser humano à sua imagem e semelhança.

Se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador, de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos? Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e a sua graça; melhor seria não termos nascido do que, recebendo a sua graça, pecarmos contra ele.

Considerai o agricultor ao lançar a semente no campo: primeiro, prepara a terra com o suor do seu rosto e depois joga a preciosa semente; chegando o tempo da colheita, alegra-se de coração com as espigas cheias, esquecendo seu trabalho e suor, e dançando de alegria; se porém as espigas permanecem vazias não sendo mais que palha e casca, o agricultor deplora o duro labor com que suou, sentindo-se tanto mais desesperado quanto mais trabalhou.

De modo semelhante, cultiva o Senhor a terra como seu campo, sendo nós os grãos de arroz; rega-nos com o seu sangue na sua Encarnação e Redenção para que possamos crescer e amadurecer; quando, no dia do juízo, vier o tempo da colheita, quem pela graça for achado maduro gozará o reino dos céus como filho adotivo de Deus. Quanto aos outros, que não amadureceram, tornar-se-ão inimigos, punidos para sempre, embora também tenham se tornado filhos adotivos de Deus pelo batismo.

Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, ele a faz crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer: da Ascensão de Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no meio das tribulações.

Também nesta nossa terra da Coréia, durante os cinquenta ou sessenta anos em que a santa Igreja se estabeleceu aqui, os fiéis sempre sofreram perseguições. Hoje acendeu-se de novo a perseguição; muitos amigos são, como eu, lançados nos cárceres, enquanto também sofreis tribulações. Unidos num só corpo, como não ficarão tristes os nossos corações? Como, humanamente, não experimentarmos a dor da separação?

Deus, porém, como diz a Escritura, cuida de cada cabelo de nossa cabeça, e o faz com toda a sabedoria; portanto, como não considerar esta perseguição senão como permitida pelo Senhor, ou mesmo, seu prêmio ou, até, sua pena?

Abraçai, pois, a vontade de Deus, combatendo de todo o coração pelo vosso chefe Jesus e vencendo o demônio, já vencido por ele.

Eu vos peço: não deixeis de lado o amor fraterno, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.

Aqui somos vinte e, pela graça de Deus, todos ainda estão bem. Caso algum de nós venha a morrer, peço não negligenciardes a sua família. Muitas coisas teria ainda a dizer-vos, mas como posso exprimi-las em tinta e papel? Por isso vou terminar minha carta. Aproximando-se para nós a luta, peço-vos finalmente que caminheis com fidelidade, de modo que no céu nos possamos congratular. Deixo-vos aqui meu ósculo de amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

É necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna


 Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,13-17

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 13"Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele".

Palavra da Salvação.

Hoje festejamos a Exaltação da Santa Cruz. Não vou falar sobre a origem dessa festa que remonta ao século IV.

Quero convidar vocês a olharem para a cruz e meditar sobre ela. Lembremos que a cruz foi um instrumento de morte. Todo condenado a pena de morte, pelo império romano era sentenciado a morte de cruz. Essa condenação era reservada aos assassinos, aos opositores do império romano, e outros crimes considerados hediondos pela legislação romana. Para os judeus, o apedrejamento era a pena de morte para quem infligisse as leis. Portanto, somente os execrados pelo império romano eram crucificados. 

Jesus é condenado pelo poder religioso judaico. Entregue aos poder romano. Acusado de querer ser rei, e se fazer mais do que César. Por isso, fora julgado por ter cometido um crime hediondo.

Jesus tinha consciência de que iria ser morto na cruz. Em vários momentos nos evangelhos vemos ele fazendo essa previsão. Com certeza, Ele deve assistido várias execuções na cruz. Sabia da crueldade que era aquele martírio. 

Entretanto, sem a cruz, sem a passagem pela morte ignomínia de Cristo, não seria possível que a portas dos céus fossem abertas para nós. A entrada no Reino de Deus passa pela cruz. Lembremos, "quem quiser salvar a sua vida, tome a sua cruz e me siga". E esse seguir, é um seguir até na rejeição, na execração, na incompreensão.

A proposta de Jesus vai de encontro ao que prega o mundo. Lembremos das tentações narradas por Mateus. Jesus nunca negociou com o mal, com o pai da mentira. Jesus tinha consciência de que suas palavras e ações desafiavam as leis judaicas.

O texto do evangelho de hoje é travado com Nicodemus e Jesus. Lembremos que Nicodemus era um membro do sinédrio. E que reconhecia Jesus como vindo da parte de Deus. Um profeta.

O que nos interessa é que para se chegar ao céu, para que Jesus possa voltar de onde veio, é necessário ser elevado na cruz.

A cruz, para nós, deixou de ser instrumento de tortura e morte, e passou a ser altar de libertação e entrada no Reino de Deus.

Assumamos em nossas vidas as cruzes que são postas diante de nós. Lembremos que com Deus, mesmo na dor, ele está conosco. Tenhamos a coragem de vivermos a fé em Jesus, mesmo que passemos pela cruz.

Sem a cruz não há salvação. "É necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna".

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Não sou digno de que entres em minha casa

 


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 7,1-10

Naquele tempo: 1Quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. 3O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. 4Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: 'O oficial merece que lhe faças este favor, 5porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga.' 6Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: 'Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um : 'Vai!', ele vai; e a outro: 'Vem!', ele vem; e ao meu empregado 'Faze isto!', e ele o faz'.' 9Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: 'Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.' 10Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.

Palavra da Salvação.

Um oficial romano, pagão. O seu empregado. Anciãos dos judeus. Jesus, o filho do carpinteiro. 

Quatro personagens. Cada um com uma história de vida distinta. O oficial romano simbolizava o império opressor. Os Anciãos judeus, o poder religioso local. O doente, uma pessoa qualquer que estava a serviço do oficial romano. O texto na informa se era um empregado romano, ou judeu. Ou qual atividade ele exercia para esse oficial romano. E Jesus.

Esse oficial não se achava digno de ir ao encontro de Jesus, simplesmente, por ter outras pessoas sob o seu comando, além de ele mesmo obedecer ordens. E essas ordens, em algumas vezes, incluía perseguir, prender e condenar judeus. Os Anciãos eram os responsáveis pelas ações "litúrgicas" do povo judeu. Precisavam da sinagoga. E o oficial, seguindo o preceito do império romano, concedia aos hebreus o direito ao culto próprio. Sendo assim, ele financiou a construção da sinagoga de Cafarnaum. Neste sentido, esses Anciãos acharam importante interceder pelo doente do oficial romano.

Aqui, faço a primeira observação. Enquanto, em outros lugares, havia conflito dos religiosos judeus com Jesus, nesse caso, foram eles que se dirigiram a Jesus pedindo pelo doente.

A história se desenrola conforme lemos. Observemos, que Jesus não exige que o oficial romano se converta ao judaísmo. Jesus não pede nada a ele. Jesus vai ao encontro da pessoa que está doente. Ao saber disso, o oficial diz que não é digno de que Jesus entre em sua casa. Mas, que bastaria uma palavra e o servo ficaria curado. Jesus diz que nõ encontrou em Israel tamanha fé como aquela. 

Jesus realiza a cura à distância. Jesus não precisou estar do lado do doente. A fé do oficial foi suficiente para que o servo doente ficasse curado.

Uma história dessa para vermos o quanto criamos lugares para vivermos a nossa fé. A fé independe do lugar. O poder curativo de Jesus se dá em qualquer lugar.

Ir à sinagoga era importante. Mas crer em Jesus era fundamental para ser curado.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O que era antigo passou, eis que tudo se fez novo - Natividade de Nossa Senhora


 Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo

(Oratio 1:PG 97,806-810)            (Séc.VIII)

O que era antigo passou, eis que tudo se fez novo

O fim da lei é Cristo (Rm 10,4), que ao mesmo tempo separa da lei e eleva para o espírito. Nele está a consumação, pois o próprio legislador – tendo cumprido e terminado tudo – transfere a letra para o espírito. Assim tudo recapitula em si mesmo, vivendo a graça depois da lei. A lei, porém, submetida; a graça, harmoniosamente adaptada e unida. Não misturadas e confundidas as características de uma com as da outra, mas mudado de modo divino o que era pesado, servil e escravo, em leve e liberto, para que não mais estejamos reduzidos à servidão dos elementos do mundo (Gl 4,3), como diz o Apóstolo, nem sujeitos ao jugo da escravidão da letra da lei.

É este o resumo dos benefícios de Cristo para nós; é esta a manifestação do mistério; é o aniquilamento da natureza; é Deus e homem; é a deificação do homem assumido. Todavia era absolutamente necessário ao esplendor e à evidência da vinda de Deus aos homens uma introdução jubilosa, antecipando para nós o grande dom da salvação. Este é o sentido da solenidade de hoje que tem início na natividade da Mãe de Deus, cuja conclusão perfeita é a predestinada união do Verbo com a carne. Agora a Virgem nasce, é alimentada com leite, plasmada e preparada como mãe para o Deus e rei de todos os séculos.

Neste momento, foi-nos dado duplo proveito: um, a elevação à verdade; outro, a rejeição da servidão e da vida sob a letra da lei. De que modo, com que fim? Pelo desaparecimento da sombra com a chegada da luz; em lugar da letra, a graça que dá a liberdade. Nossa solenidade está na fronteira entre a letra e a graça, unindo a realidade que chega aos símbolos que a figuravam, substituindo o antigo pelo novo.

Portanto cante e exulte toda a criação e contribua com algo digno para a alegria deste dia. É um só o júbilo dos céus e da terra; juntos festejem tudo quanto está unido no mundo e acima do mundo. Pois hoje se construiu o templo criado do Criador de tudo, e pela criatura, de forma nova e bela, preparou-se nova morada para o seu Autor.