sábado, 31 de julho de 2021

"Tomai Senhor, e recebei toda a minha liberdade, memória, entendimento"!


 Hoje celebramos Santo Inácio de Loyola. Padroeiro dos Exercícios Espirituais. Idealizador da Companhia de Jesus. Missionário.

Junto com São Francisco de Assis, e São Bento, para mim é um dos maiores santos que Deus suscitou para a humanidade. Sem desmerecer os outros, me explico.

Francisco de Assis ao descobrir que sua riqueza era fruto da exploração que seu pai fazia dos mais necessitados de seu tempo, decidiu despojar-se de tudo e buscar Deus em tudo e em todos. 

São Bento, o homem da regra. Mas, não de uma regra que aprisiona. Mas que liberta o espírito para um encontro com o Pai de todas as coisas. As Regras de São Bento são uma diretriz para uma vida livre de vaidades, e de se colocar à serviço do outro.

Inácio de Loyola foi um homem fruto do seu tempo. Viveu um período de mudanças políticas, científicas, culturais e religiosas. Ele viveu no início da chamada Idade Moderna. Onde toda ordem social, política, religiosa e cultural foi colocada em cheque. Era preciso que houvesse uma resposta profunda para Inácio. E Deus suscitou Inácio para isso.

Inácio foi homem de cultura. De estudo. De letras, como se diz. Após sua conversão, e depois de passar pelo período de viver e escrever os Exercícios Espirituais, sentiu a necessidade de estudar, de aprofundar sua cultura. De buscar a Deus em todas as coisas, até mesmo nos estudos.

Inácio de Loyola deixou um legado para a Igreja e para a humanidade, os Exercícios Espirituais. Um jeito novo de buscar e encontrar a Deus em todas as coisas. Um jeito novo de encontrar a vontade de Deus para a própria vida. Um jeito novo de ler, rezar e meditar a palavra de Deus. Um jeito único e pessoal, onde o ritmo de cada pessoa deve ser respeitado. 

Os Exercícios Espirituais são um método de oração que nos leva a um autoconhecimento. E todas e todos que querem se entregar a Deus, independentemente, do estado de vida que abraçaram, encontram aí um jeito de responder a três perguntas que, para Inácio, são fundamentais: "O que fiz por Cristo? O que faço por Cristo? O que farei por Cristo"? Mais do que uma método de autoconhecimento, os Exercícios Espirituais são um caminho de mudança de vida.

Hoje, celebrando Inácio de Loyola, tenhamos a coragem de buscarmos Deus em todas as coisas. Tenhamos a coragem de nos despojarmos do homem e mulher velhos, e deixarmos modificar pela por aquilo que Deus quer para a nossa vida. Os Exercícios Espirituais não são um método de enquadramento. Ele leva em consideração a vida de cada um, e o que Deus nos pede.

A liberdade interior que os Exercícios Espirituais deram a Santo Inácio de Loyola foi tão grande, que ele pode dizer:

Tomai, Senhor, e recebei toda minha liberdade.
A minha memória também.
O meu entendimento e toda a minha vontade.
Tudo que eu tenho e possuo, vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo.
Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade.
Dai-me somente o vosso amor, vossa graça, isso me basta.
Nada mais quero pedir.
Amém!

* Uma observação importante. O livro dos Exercícios Espirituais não é um livro para ser lido. É um manual de Exercícios, e como tal deve ter sempre um acompanhante que o possa guiar.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

'Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!'


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 13,54-58

Naquele tempo: 54Dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: 'De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?55Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?' 57E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: 'Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!' 58E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.

Palavra da Salvação.

Um dos textos mais emblemáticos da sagra escritura. Jesus retorna à sua cidade, onde fora criado. A inveja havia tomado conta do coração dos seus conterrâneos. Jesus não era rabino, não era mestre, não havia frequentado nenhuma escola rabínica, tal como Paulo. Ele prega a palavra com sabedoria, e faz alguns milagres. E seus compatriotas ficam admirados, e questionam. "Não é esse o Filho do Carpinteiro"? E ainda acrescentam que conhecem sua família toda. 

O que eu quero destacar é a a forma desdenhosa de que os compatriotas dizem, "não é esse o Filho do Carpinteiro"? Isso me chamou a atenção. Vejamos, Deus suscita quem ele quiser para pregar sua palavra. Seja ele carpinteiro, pintor, torneiro mecânico, dona de casa. Não é preciso ter conhecimentos teológicos para propagar a mensagem de Deus. O Pai se revelou no Filho, carpinteiro. O Pai quis que o Filho estivesse o mais próximo possível da realidade da maioria do povo, ou seja, da classe trabalhadora. Viver do trabalho, rezar, meditar e pregar a Palavra de Deus é função de todas e todos que creem em Deus. 

Se olharmos bem, Jesus é Filho do carpinteiro e do oleiro. Deus nos moldou do barro (oleiro), e veio até nós através da carpintaria. Deus não se identifica com os doutores da lei, com os mestres da lei, com os sábios acadêmicos. Deus se identifica com os trabalhadores e trabalhadoras, pois continuam realizando a obra criadora de Deus.

Deus se revelou aos pobres e pequeninos. Somos chamados a viver uma religião que vai ao encontro dos trabalhadores, trabalhadores que veem seus direitos sendo desrespeitados. 


quarta-feira, 28 de julho de 2021

O Reino de Deus

 


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 13,44-46

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44'O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.

Palavra da Salvação.

Acredito que o que foi mais complicado na missão de Jesus era explicar o que era o Reino dos Céus (ou de Deus). O Reino de Deus não se enquadra nas definições de reino humana. O Reino de Deus é uma realidade que não se encaixa nas nossas categorias. Por isso, Jesus tinha que fazer um esforço muito grande para poder falar do Reino dos Céus para que nós pudéssemos compreender essa realidade.

Jesus, no texto de hoje, usa a lógica capitalista de conquistar algo de muito valor. "Um tesouro escondido num campo" e "procurar pérolas preciosas". Os seres humanos são capazes de se desfazerem de suas riquezas para adquirir um bem maior do que venham a ter. 

O Reino exige de nós uma busca de algo muito precioso. E devemos estar dispostos e dispostas a nos desfazermos de tudo que nos impede de chegarmos ao Reino. Se as duas pessoas da história de hoje ficassem presos a riquezas anteriores, não teriam o tesouro, nem a pérola precisos. Desfazer-nos de nossas certezas absolutas para encontramos o Reino dos Céus, essa é a mensagem de Jesus hoje.

"Buscai primeiro o Reino de Deus, e sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado".

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Ver e Ouvir


Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 13,16-17

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16"Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram".

Palavra da Salvação.

Ver e ouvir. Duas ações que esperadas dos discípulos de Jesus. Jesus diz que todo aquele que ouve suas palavras e contemplam as suas ações são bem aventurados. Mas, não basta ouvir e ver. É preciso viver o que se ouve, a agir tal como Jesus.

domingo, 25 de julho de 2021

Distribuiu os pães


17º Domingo do Tempo Comum.

"Quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte".

Alguns teólogos relatam que a cena das tentações de Jesus narradas por Mateus não se deram de uma vez, mas fizeram parte de toda a sua vida.

A narrativa da multiplicação dos pães e peixes poderia ser vista dessa perspectiva. 

Jesus está sobre um monte. Provavelmente, um lugar a parte. Poderíamos imaginar que estivesse longe da cidade. Jesus provoca Filipe, "onde vamos comprar pão para que eles possam comer"? O narrador diz que essa teria sido uma pergunta provocativa, pois Jesus sabia o que iria fazer.

O diálogo se desenvolve. André, irmão de Simão Pedro, diz que há um menino com cinco pães e dois peixes. O que era aquilo para uma multidão de cinco mil homens. Aqui, outra curiosidade teológica, dizem que esse menino, tal como nos dias de hoje, ao saber daquele evento com Jesus, levou aqueles pães e peixes para vender e levar o dinheiro para casa. Como eu disse, só uma curiosidade. 

Pois bem, Jesus manda que sentem. Pega os pães. Faz a oração de ação de graças. E ordena que os pães sejam distribuídos. E fez a mesma coisa com os peixes. Alguns teólogos defendem a ideia de que Jesus teria feito uma pregação antes de multiplicar os pães, e que a oração de ação de graças teria motivado a todas e todos a partilharem o pão que teriam trazido na sacola. Mas isso, não importa.

Não importa se Ele multiplicou os pães, ou se fez com que as pessoas partilhassem a comida que tinham no embornal. O que importa é que diante de Jesus ninguém pode passar fome. Jesus é o alimento da humanidade. Jesus alimenta os que tem fome e sede de justiça (bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados). Diante de Jesus não se pode aceitar que algum irmão ou irmã passe fome. 

Jesus é o pão vivo descido do céu. Ir até Jesus é a certeza de alimentar-se. Quem se aproxima de Jesus não pode ser insensível à fome de quem pede algo para comer. Quem se dirige a um irmão com fome como "vagabundo" está cometendo um pecado grave. A comida que sobra em minha mesa, falta em algum lugar para saciar a fome de um pobre. 

Jesus nos quer agindo no mundo. As nossas práticas devocionais (adoração ao Santíssimo, participação na Missa, terços, etc) devem nos impulsionar para aquele que passa necessidades.

Encerramos lembrando que Jesus fez tudo isso não para ser aclamado rei, mas para mostrar que nosso Deus está ao lado dos pobres, por isso se retirou sozinho para o monte. Para rezar. Para refletir. Para afastar-se de tudo e de todos que pudessem deturpar a sua missão.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Que "terra" sou eu?


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 13,18-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18Ouvi a parábola do semeador: 19Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; 21mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo. 22A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto. 23A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a  compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta.'

Palavra da Salvação.

O texto de hoje fala por si mesmo. Não precisamos produzir muitas palavras. É uma oportunidade de fazermos uma auto análise e vermos quem somos diante de Deus.

Os que não compreendem a Palavra. Os que não resistem à perseguição e aos sofrimentos. Os que se deixam seduzir pela ilusão das riquezas, e pela preocupações do mundo. 

E por último, aqueles que ouvem a Palavra, a compreendem e entregam suas vidas. Esse produz fruto.

Hoje é dia de olharmos para nós. Onde me encaixo? Seja honesto com você mesmo.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Maria Madalena, apóstola dos apóstolos.


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,1-2.11-18

1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: "Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram". 

11Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo. 12Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13Os anjos perguntaram: "Mulher, por que choras?" Ela respondeu: "Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram". 14Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé. Mas não sabia que era Jesus. 15Jesus perguntou-lhe: "Mulher, por que choras? A quem procuras?" Pensando que era o jardineiro, Maria disse: "Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar". 16Então Jesus disse: "Maria!" Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: "Rabunni" (que quer dizer: Mestre). 17Jesus disse: "Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus". 18Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: "Eu vi o Senhor!", e contou o que Jesus lhe tinha dito.

Palavra da Salvação.

Vivemos num mundo de mudanças. Saímos do período chamando de cristandade, e entremos num mundo mais plural, onde se abre para a humanidade uma infinidade de possibilidades. Uma variada vidão de mundo.

Hoje celebramos a Festa de Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos, como declarou o Papa Francisco. 

Maria Madalena já foi tratada como prostituta. Isso não está registrado nos evangelhos. Referência a Maria Madalena está referenciada na paixão de Jesus. E na sua ressurreição. E um dos textos é o de hoje.

Maria Madalena tinha um amor muito grande por Jesus. Amava-o tanto que teria sido capaz de mudar de lugar com ele naquela cruz. Era capaz de dar a vida por Jesus. 

Contemplemos o texto. Ela volta ao túmulo. Depois de ter observado o preceito do Sábado, retornara ao túmulo de Jesus. Queria, ao menos, contemplar o lugar onde estaria o corpo de Jesus. 

Mas, ela é a primeira a fazer a experiência da ressurreição. Não foi lá buscar Jesus ressurreto. Encontra o túmulo vazio. Pedra removida. No primeiro momento, não se arriscou a entrar no túmulo. Não se arriscou a ver o corpo do Senhor. O texto, nessa primeira parte, diz que ela foi correndo comunicar aos discípulos que o corpo do Senhor não estava no túmulo. Pedro e João vão correndo. A partir de então, o texto dá um corte. E vai diretamente para a segunda parte.

João narra que Madalena estava do lado de fora chorando. Inclinou-se para dentro. Viu dois anjos. Estes lhes perguntam porque ela chorava. No decorrer da descrição, João disse que Maria lhes declarou que haviam levado o corpo do seu Senhor, e não sabia onde estava. E, neste momento, ela se volta e vê um homem de pê, e não reconhece Jesus. Este lhe pergunta, novamente, porque está chorando. Madalena dá a mesma resposta. E Jesus diz, "Maria". Ele a chama pelo nome. E ela, então, lhe reconhece. E diz, Mestre. E tenta correr para lhe abraçar. Mas Jesus diz para não lhe reter, pois ele ainda via para o Pai.

Entramos na terceira parte do texto. Ele a envia aos seus discípulos com um mandato. Dizer que ele vai para junto do seu Pai, e Pai nosso. 

Maria Madalena cumpre o que lhe fora dito. 

Numa época onde a mulheres ainda sofrem violência por parte de homens machistas. Num época em que mulheres são mortas pelo poder do estado. Numa época em que mulheres ainda são vistas como objeto sexual, e são estupradas, a Igreja no brinda com a Festa de Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos. Se não fosse uma mulher, não saberíamos da ressurreição. Se não fosse por uma mulher, Jesus não estaria no meio de nós. 

Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição. Maria Madalena é a primeira missionária da ressurreição. Maria Madalena é a apóstola dos apóstolos.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Quem tiver ouvidos, ouça!


 Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 13,1-9

1Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. 2Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. 3E disse-lhes muitas coisas em parábolas: 'O semeador saiu para semear. 4Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. 6Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. 9Quem tem ouvidos, ouça!' 

Palavra da Salvação.

Algumas coisas a destacar. Jesus saiu de casa. Foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Uma multidão foi ao encontro de Jesus. 

Jesus sempre foi didático em suas pregações. Para cada público, usava uma imagem diferente para falar sobre o reino de Deus e sobre a evangelização. No nosso caso hoje, ele fala de semear, de semeadura. Nos leva ao olhar para o campo, apesar de ele estar na praia. Para muitos de nós, essa linguagem da semeadura nos é estranha, vivemos na cidade. Não somos agricultores.

Mas, no fim da pregação, Jesus disse, "Quem tem ouvidos, ouça"! Ou seja, compreenda o que foi dito. Então, para entendermos a leitura de hoje, precisamos ir além do que é dito. Por isso, sempre se fala de que a terra da qual Jesus nos fala é a própria pessoa. Seus interesses. Seus desejos e vontades. Os quereres pessoais. É disso que Jesus nos fala hoje.

Existem vários tipos de pessoas. Pessoas voláteis. Ouvem. Não entendem. E não buscam se informar. E aí, estão sujeitas a aceitar qualquer coisa que o maligno lhes diz. São suscetíveis às mentiras. 

Há as pessoas que são duras. Não criam raízes. São inconstantes. Ouvem com entusiasmo. Mas, na primeira tribulação, se afastam. Não são perseverantes.

Pessoas espinhosas. Aquelas que querem que a palavra de Deus se adapte aos seus interesses. Aos seus sonhos. Aos seus desejos. E, quando são contrariadas, desistem da caminhada.

E por último, pessoas sensatas e reflexivas. Pessoas que ouvem. Pessoas que entendem que a palavra de Deus provoca rupturas pessoais. Exige momentos de entender a realidade. Que faz com que as realidades sociais se mudem, porque a sua realidade pessoal mudou.

Quem souber entender isso, com certeza, viverá uma vida feliz.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Sinal de Jonas


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 12,38-42

Naquele tempo: 38Alguns mestres da Lei e fariseus disseram a Jesus: 'Mestre, queremos ver um sinal realizado por ti.' 39Jesus respondeu-lhes: 'Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. 41No dia do juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra essa geração e a condenarão, porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas. 42No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará contra essa geração, e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão.'

Palavra da Salvação.

A palavra de Deus é para nos incomodar mesmo. Ela toca no mais profundo dos seres humanos. Ele nos tira do prumo. Nos realinha. Acerta os caminhos tortuosos pelos quais insistimos em andar. 

Os fundamentalistas fariseus querem que Jesus realize um sinal extraordinário. Os seres humanos são assim. Querem sinais extraordinários. Que não podem ser explicados. Só conseguem acreditar em Deus se esse lhes der um sinal de algo que não pode ser explicado pela razão.

Entretanto, Jesus diz que que "uma geração má e adúltera busca um sinal". Uma geração "adúltera". Quando ouvimos essa palavra, imaginamos no adultério sexual. Mas, podemos cometer vários tipos de adultério. O adultério é uma forma de escamotear algo verdadeiro. Fazer com que uma mentira se torne uma verdade. Jesus nos alerta para isso. Tomemos cuidado.  Jesus afirmou que o sinal está na sua ressurreição. Se compara com Jonas e a missão dada a ele em Nínive.

Então, temos o salto. Jesus diz que quem vai julgar essa geração são os pagãos, ninivitas e a rainha do sul. Vejam, Jesus muda a perspectiva de salvação. Toda e todo aqueles que ouvem a palavra de Deus e a vivem intensamente, esses são os verdadeiros crentes em Deus. Os que buscam com sinceridade a fé, ouvem a palavra de Deus, reconhecem-se necessitados da misericórdia de Deus (ninivitas), e dão sinais de arrependimento. 

Quem crê em Jesus deve dar sinais de conversão. De mudança de vida. Crê na palavra e não buscar sinais extraordinários.

A comunidade que vai ao encontro dos excluídos, dos que sofrem, dos famintos, dos que estão em situação de rua, dos que sofrem misoginia e homofobia, essa comunidade é uma comunidade que vive e pratica a solidariedade e demonstra que ouve e vive a palavra de Deus ouvida e meditada.

domingo, 18 de julho de 2021

Sou bom pastor, ovelhas guardarei

 


Hoje, 16º Domingo do Tempo Comum, a catequese de Jesus se volta para os pastores e para as ovelhas. 

Na primeira leitura, Deus se dirige aos pastores, e diz, "ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem". Vejamos. Esse texto alerta aos pastores que não cabe a eles escolheram o tipo de ovelha que devem estar no rebanho. O pastor deve cuidar de todo tipo de rebanho. As ovelhas são diferentes entre si. O pastor não pode tratar as o rebanho de forma distinta, pois o rebanho não lhe pertence. Deus acolhe todas as ovelhas, por isso, o pastor deve fazer o mesmo.

São Paulo nos lembra que Jesus aboliu a lei, pois, a parir do judeu e do pagão, ele cria uma só nova humanidade, estabelecendo a paz. E que pela cruz, nos reconciliou todos com Deus. É por Jesus, que veio anunciar a paz, que temos acesso ao Pai.

No evangelho, temos uma significativa passagem que nos faz refletir sobre missão e descanso.

O texto de hoje é sequencial ao texto do domingo anterior, onde Jesus havia enviados seus discípulos dois a dois para a missão. Quando estes voltaram, Jesus os convidou para um momento de reflexão e partilha do que havia acontecido. Entretanto, a missão é exigente. A multidão, sedenta do amor de Deus, sedenta de ouvir o que Deus tinha a lhes dizer, correm ao encontro deles. E quando param na outra margem, Jesus faz a leitura social daquele fato, eram como ovelhas sem pastor. 

O pastor cuida, trata, acolhe, alimenta, compreende, agrega, une, faz encontrar Deus. O pastor não aparta as ovelhas. O pastor não escolhe ovelhas. O pastor ouve todas e todos e lhes mostra a palavra de Deus como norteadora de suas vidas. A pastor acalma. 

Diz o salmista, "O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma". O pastor não deixa faltar coisa alguma. Encaminha o rebanho para águas repousantes onde as minhas forças restaura. O pastor nos guia pelos caminhos seguros, e mesmo que passemos por vales tenebrosos, não temeremos nenhum mal. O pastor nos prepara uma mesa farta. Por isso, felicidade e todo bem hão de seguir-me.

Hoje existem muitos e muitas que se apresentam como pastores, mas indicam caminhos equivocados. Caminhos que levam à morte, à destruição, à exclusão. Não dê ouvidos a esses pastores. Eles são "diabólicos", ou seja, dividem o rebanho. Jesus acolhe a todas e a todos, sem distinção de raça, cor, origem, religião, orientação sexual.

Rezemos, "Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e folhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vosso mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espirito Santo. Amém.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 12,46-50

Naquele tempo: 46Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47Alguém disse a Jesus: 'Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo.' 48Jesus perguntou àquele que tinha falado: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' 49E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: 'Eis minha mãe e meus irmãos. 50Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.'

Palavra da Salvação.

Hoje fazemos memória à Nossa Senhora do Carmo. É muito interessante esse nosso olhar amoroso para a mãe de Jesus. Primeiro, porque Ele mesmo disse que ela seria a nossa mãe, "filho, eis aí a tua mãe". Segundo, porque Maria, na tradição católica, é tida como rainha. Essa é uma visão muito interessante.

Normalmente, as rainhas estão distante do povo. São pessoas que ocupam palácios, cercadas por seguranças e damas de companhia. Entretanto, a Maria, mãe de Jesus é uma mulher do povo, simples. Mulher de fé, que crê no Deus que age na história para libertar o seu povo. Ela proclamou, "(Deus) derruba do trono os poderosos e eleva os humildades". Maria fez a experiência que na age na história da humanidade e que vem nos resgatar da opressão. Em Ex 3,7, o autor bíblico afirma que viu a miséria do povo, ouviu seu clamor, e desceu para libertá-lo. 

Maria compreendeu isso. E nada a tirou desse foco. Por isso, Jesus disse, "todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Ele não despreza a mãe e os irmãos. Ele está nos dizendo que sua filiação vai além da família humana. Jesus aprendeu com a própria mãe a olhar para os pobres, sofredores, excluídos, perseguidos, rejeitados com o olhar misericordioso do Pai. 

A celebração de hoje nos lembra nossas irmãs e irmãos que estão nos Carmelos do mundo inteiro rezando pela humanidade que sofre. Maria é o modelo de oração, Lc 1,46-56. É modelo de escuta atenta, Lc 2,19. É modelo de presença junto à comunidade dos crentes, At 1,14.

Ao celebrarmos Nossa Senhora do Carmo, assumamos a vida de oração em nossas vidas que nos leva ao pobres, sofredores, excluídos, perseguidos em nossos dias. E ouçamos de Jesus, "todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe".

terça-feira, 13 de julho de 2021

Sodoma será tratada com menos dureza do que vós!


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 11,20-24

Naquele tempo: 20Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido. 21'Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que se realizaram no meio de vós, tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia, há muito tempo elas teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. 22Pois bem! Eu vos digo: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia serão tratadas com menos dureza do que vós. 23E tu, Cafarnaum! Acaso serás erguida até o céu? Não! Serás jogada no inferno! Porque, se os milagres que foram realizados no meio de ti tivessem sido feitos em Sodoma, ela existiria até hoje! 24Eu, porém, vos digo: no dia do juízo, Sodoma será tratada com menos dureza do que vós!'

Palavra da Salvação.

Muitas vezes, temos um olhar romantizado sobre Jesus Cristo. Aquele tipo de pessoa que só falava coisas boas. Que era todo elogios. Um Jesus que aceitava tudo, pois pregava o amor.

O evangelho de hoje, inicia-se com a seguinte afirmação, "Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido". Jesus adverte as pessoas de que elas não agem conforme a vontade de Deus. Em outras passagens, vemos Jesus censurado seus discípulos.

Falar às cidades é uma falar figurativo. Claro. Óbvio. Mas, o óbvio precisa ser dito também. Jesus e os doze passaram por muitas cidades fazendo milagres. Curando enfermos. Ressuscitando mortos. Pregando a palavra de libertação. Entretanto, os ouvintes não deram a atenção necessária. Por isso, Jesus faz a comparação com as cidades dita dos pagãos. Esses estão mais propensos a ouvir e mudar do vida do que os filhos da aliança. 

Olhemos para nós. Que atenção damos a palavra de Deus? Como colocamos em prática esses ensinamento de Jesus? Agimos com o rigorismo da lei, que mata e tolhe a liberdade, ou somos misericordiosos, acolhedores, solidários?

Jesus fala diretamente aos crentes de hoje. Ele olha no olho de cada um de nós. E nos indica que o caminho do discípulo/discípula missionários deve ser aquele que nos coloca ao lado dos prediletos de Deus. Não nos basta dizer, "Senhor, Senhor". É preciso fazermos a vontade de Deus.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

"Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada"


Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 10,34-11,1

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 34Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada. 35De fato, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. 36E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. 37Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. 38Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. 39Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. 40Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. 42Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.' 11,1Quando Jesus acabou de dar essas instruções  aos doze discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles.

Palavra da Salvação.

Antes de os assustarmos com o texto de hoje, devemos lembrar o seguinte, os evangelhos são escritos para os primeiros convertidos, aqueles que fizeram a opção por seguir Jesus, e viver aquilo que Ele pregava. Além disso, Mateus escreve para os judeus. E, uma casa, uns creram em Jesus, e outros não. Aí, cabe a divisão. Aceitar Jesus e suas palavras era romper com a lei que tolhia a liberdade que Espirito Santo traz para os filhos e filhas de Deus.

Esse preâmbulo é para preparar nosso espírito para o que vem a seguir. Jesus diz, "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada". A espada corta. Mata. Divide. A paz, une. Gera vida. Refaz o que cortado. Mateus nos fala que a palavra de Jesus deve provocar ruptura com a lei que gerava morte. A palavra de Jesus é uma palavra de divide e nos faz tomarmos uma posição diante das injustiças da vida. Mateus ressalta que os discípulos e apóstolos de Jesus são continuadores da mensagem de Jesus. E que estes tem um jeito novo de ser

Os discípulos e discípulas devem tomar a própria cruz, devem compreender, à luz da Palavra de Jesus, o que deve ser feito, ter um olhar misericordioso e acolhedor. Ouvir os profetas, acolher a palavra dos justos, dar um copo de água aos pequenos que não tem nada. 

É hora de sermos missionários e missionárias da palavra de Deus. É hora de sairmos em missão. É hora de partir. Jesus nunca ficou parado. Sempre foi um missionário em partida, em saída. Não nos devemos acomodar. O trabalho de anúncio da palavra de Deus é intenso. Mas, garante a felicidade e a alegria.

domingo, 11 de julho de 2021

Começou a enviá-los dois a dois


Estamos no 15º Domingo do tempo Comum. Cominhamos com Jesus aprendendo a sermos discípulos e discípulas. Jesus vai formando seus discípulos e discípulas, como devem agir no processo de evangelização, de anuncio da Palavra. De como devem viver.

Primeiramente, a missão não deve ser feita sozinha. A missão é comunitária. Jesus envia dois a dois. Um é suporte para o outro. Neste envio, Jesus recomenda: "não levar nada para o caminho", ou seja, não colocar a confiança da missão nas coisas. "Não levar pão", ou seja, Deus provê as necessidades alimentares. "Não levar dinheiro", a nossa confiança está em Deus, e não nas nossas condições de ganhar dinheiro. Ser simples, somente uma sandália e uma túnica.

Em seguida, Jesus disse: ao entrardes numa casa ficai ali até a sua partida. E ainda mais, "se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles". 

Segundo, sacudir a poeira dos pés. Essa expressão nos salta aos olhos. Nem sempre as pessoas querem nos ouvir, e ainda desdenham de nós. Falam mal de nós. Desfazem toda obra de evangelização que os discípulos tentam fazer. Devemos tomar cuidado, mesmo nós que estamos na Igreja. Existem muitas pessoas que não agem como ouvintes, e ainda, desdenham daqueles que mostram o caminho a seguir. Não temas sacudir o pó das sandálias. Partir para outra margem. Avançar para águas mais profundas.

Digamos com o salmista:

"Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade/Quero ouvir o que o Senhor irá falar/A verdade e o amor se encontrarão/O senhor nos dará tudo o que é bom". Amém.

sábado, 10 de julho de 2021

Ser testemunha do amor


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 10,24-33

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 24O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. 25Para o discípulo, basta ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu senhor. Se ao dono da casa eles chamaram de Belzebu, quanto mais aos seus familiares! 26Não tenhais medo deles, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. 27O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados! 28Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! 29Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. 30Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. 31Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. 32Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. 33Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

Palavra da Salvação.

A sociedade defendida por Jesus não tem melhores nem priores. Não existe meritocracia. servos e discípulos não são melhores que seus mestres, ou seus senhores. Jesus encara a todos com iguais, filhos e filhas do mesmo Pai. 

Jesus toca numa situação bem peculiar nos dias de hoje. Os fariseus disseram que Jesus expulsava os demônios pelo príncipe dos demônios. Então, todos e todas que agem diferentemente de como pensa os donos do poder religioso, serão discriminados tal como Jesus o foi.

Existem pessoas que nos ameaçam porque não pensamos como elas. Existem pessoas que nos ameaçam porque defendemos os pecadores. Existem pessoas que nos ameaçam porque mostramos pela palavra de Deus as pessoas que são discriminadas em nossa sociedade.

A nova humanidade, o novo jeito de nos relacionarmos. A nova sociedade onde todos e todas são tratados e tradas com dignidade, é a pregação de Jesus. Por isso, ela é chamada de Boa Nova. Evangelizar é a ação dos discípulos e discípulas de anunciar um novo jeito de ser. Não ficarmos presos a doutrinas e leis que nos escravizam e tolem a ação do Espírito de Deus em nós. Jesus ousou ser diferente. Jesus deixou-se tocar pelos doentes. Jesus ousou em ir na direção daqueles e daquelas que foram colocados à margem da sociedade de seu tempo: prostitutas, leprosos/leprosas, cegos e cegas, coxos, famintos, pobres, os desempregados (Mt 20,1-16). Deus sempre esteve ao lado dos pobres, dos excluídos, dos mais fracos diante dos poderes do mundo, sejam eles poderes religiosos ou políticos.

Por isso, ao nos proclamarmos discípulos e discípulas de Jesus assumimos uma proposta de sermos promotores da vida, da sociedade que abre oportunidade de vida para todas e todos. Ao nos declararmos à favor de Jesus, passamos a ter uma postura libertadora integral da humanidade. 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Sede simples como as pombas e prudente como as serpentes.


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 10,16-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:  Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. 17Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. 18Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. 21O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22Vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo, vós não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho do Homem.

Palavra da Salvação.

Na sua catequese aos discípulos e discípulas, Jesus fala de ovelhas e lobos. A sociedade para a qual Jesus pregava entendia essa frase. Os lobos, animais carnívoros, rondavam os rebanhos para atacar as ovelhas e come-las. Na biologia, uma simples lei de sobrevivência e de satisfazer a necessidade básica de se alimentar. Para nós, um ato de violência. Já viram o ataque de um lobo a uma ovelha? 

Há uma frase que diz, "há que endurecer, mas nunca perder a ternura". Atribui-se essa frase a um revolucionário argentino, Che Guevara. Mas, não temos certeza se ele mesmo cunhou essa ideia. O que nos importa aqui é ver que Jesus disse algo muito semelhante muito tempo antes de se dizer essa frase. Disse Jesus, "Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas". 

Isso mesmo, simples como as pombas, e prudente como as serpentes.. Vejam, mais uma vez, uma relação de quem come quem. As serpentes comem as pombas. Entretanto, elas agem com prudência. Vão se rastejando. Evitando barulhos. Observando o que está ao redor. E as pombas, vivem na simplicidade da vida cotidiana. Não percebem o mal que as rondam.

Jesus nos mostra que devemos agir sem arrogância (lobo/serpente). Mas, com inteligência (ovelha/pomba). Sendo assim, a discípula e o discípulo confiam que sua missão, que sua obra, não é fruto de sua vontade; mas vem de Deus. É uma exigência divina, a qual não podemos nos calar. São Paulo disse aos Coríntios, "ai de mim se eu não pregar o evangelho" (I Cor 9,16).

É assim que devemos ser. Anunciadores e anunciadoras atentos e atentas. Mulheres e homens que não perdem tempo com maledicências. Se querem nos ouvir, tudo bem, pregamos. Se querem nos perseguir, tudo bem também, partimos para outras "cidades". Para cada um de nós haverá sempre uma Nínive pronta para nos escutar. 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

O Reino dos Céus está próximo


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 10,7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Em vosso caminho, anunciai: 'O Reino dos Céus está próximo'. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! 9Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos; 10nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu sustento. 11Em qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali seja digno. Hospedai-vos com ele até a vossa partida. 12Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. l4Se alguém não vos receber, nem escutar vossa palavra, saí daquela casa ou daquela cidade, e sacudi a poeira dos vossos pés. 15Em verdade vos digo, as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos dureza do que aquela cidade, no dia do juízo.

Palavra da Salvação.

Na catequese de hoje, Jesus mostra como será a nova humanidade. Como deve ser as novas sociedades. Como devem agir os discípulos e discípulas de Jesus. 

Jesus nos mostra como é o Reino de Deus. Um reino sem doentes, sem mortos, sem leprosos, sem espírito maus. Um Reino onde aquilo que foi recebido como graça, a fé, deve ser transmitido sem cobrança de qualquer valor que seja. Os discípulos e discípulas missionárias devem viver em simplicidade. Sem ouro, sem prata, sem dinheiro, ou seja, devemos colocar nossa esperança em Deus, sempre!

E Jesus continuou, não devemos levar sacola, para não acumular as coisas que atrapalham a tomar decisões pela vida. Não ter duas túnicas, para que não perder tempo em escolher com que roupa eu vou. Não ter mais do que uma sandália, somente uma sandália, aquela própria do profeta que anuncia a palavra de Deus. Nem tem bastão. O bastão era o símbolo do poder. O missionário e missionária confiam apenas no poder de Deus.

Jesus conclama seus discípulos e discípulas a não ficaram parados e paradas. É importante ir a qualquer cidade. A missionária e o missionário não escolhe onde vão pregar. É Deus quem indica. Em cada povoado sempre haverá alguém a ouvir a palavra de Deus. Alguém que esteja disposto ou disposta a acolher a Palavra de Deus a ser pregada. Caso não se queira ouvir a palavra a ser pregada, devemos ir embora. Sacudir a poeira do pé. Continuar a caminhada. Quando os da casa não queiram ouvi a Palavra, o missionário, ou missionária, não deve insistir. Deve partir.

O Reino é para todas e todos. O Reino deve ser aceito livremente, e não por medo. O Reino dos Céus está próximo"!

quarta-feira, 7 de julho de 2021

"Ide às ovelhas perdidas"


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 10,1-7

Naquele tempo: 1Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade. 2Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; 3Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5Jesus enviou estes Doze, com as seguintes recomendações: 'Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! 6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7Em vosso caminho, anunciai: 'O Reino dos Céus está próximo'.

Palavra da Salvação.

Ontem, Jesus conclamava os seus discípulos a rezarem pedindo operários para a messe. Hoje, ele designa 12 dos seus discípulos a começarem o processo de anuncio de palavra de Deus.

Diante daqueles que foram chamados, Jesus lhes dá poder para "expulsarem os espíritos maus", e para "curarem todo tipo de doença e enfermidade". A palavra de Deus nos é inspiradora , e deve iluminar a vida nos vários momentos da nossa história. 

Da leitura de hoje, é importante que identifiquemos quais são os "espíritos maus" de nossos dias. E quais são as "doenças e enfermidades" pelas quais estamos passando. E, diante disso, o que podemos fazer? Como podemos ajudar as pessoas a se libertarem desses males modernos? Como Jesus pode nos ajudar?

Quais são os "espíritos maus" de nossos tempos? Devemos ficar atentos. Temos a ideia medieval de espírito mau como aquele que faz a pessoa espumar, virar a cabeça. Coisas extraordinárias que estão em nossa memória dos filmes que tratam desse assunto. 

"Espírito Mau", é todo espírito que deixa alguém morrer por não dar condições de vida ao outro. Espírito mau é o que discrimina e inventa mentiras sobre os outros. É todo espírito que nega atendimento à saúde. É todo espírito que defende a morte violenta de qualquer pessoa. É toda forma de exclusão, de racismos, de misoginia, de homofobia. É todo espírito que classifica as pessoas entre boas e más, entre santas e pecadoras. Espírito mau é todo espírito que imputa ação do mal naqueles que caminham juntos aos perseguidos.

Temos várias doenças modernas. Depressão, síndrome do pânico. Egoísmo. Vontade de exterminar. Os discípulos e discípulas de Jesus são chamados a ajudar na libertação dessas doenças. Ir ao encontro do outro, buscar deixar seus problemas de lado e ajudar alguém a se recuperar. Assumir a luta dos sem trabalho, dos se terra, dos idosos desprezados pelos governos. Da falta de humanidade.

Aos diáconos permanentes do Brasil, a CNBB afirmou que os diáconos devem estar envolvidos na "na promoção social e na vivência das obras de misericórdia", e que devem assumir a "opção preferencial pelos pobres, marginalizados e excluídos". E acrescenta que os diáconos são apóstolos da "caridade com os pobres, envolvidos com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida" (CNBB, Doc 96, nº 210).

Aos leigos, os bispos da América Latina e Caribe dizem que "sua missão própria e específica se realiza no mundo, de tal modo que, com seu testemunho e sua atividade, contribuam para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho. “O espaço próprio de sua atividade evangelizadora é o mundo vasto e complexo da política, da realidade social e da economia, como também da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’, e outras realidades abertas à evangelização, como o amor, a família, a educação das crianças e adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento”. Além disso, eles têm o dever de fazer crível a fé que professam, mostrando autenticidade e coerência em sua conduta". (DocAp 210).

Assim, o texto de hoje nos chama a uma vida que vai ao encontro dos outros, e que buscam gerar vida, "vida em abundância".


terça-feira, 6 de julho de 2021

Pedi ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 9,32-38

Naquele tempo: 32Apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. 33Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: 'Nunca se viu coisa igual em Israel.' 34Os fariseus, porém, diziam: 'É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios.' 35Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade. 36Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37'A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!'

Palavra da Salvação.

A leitura de hoje nos abre três possibilidades de reflexão. Jesus expulsa um demônio mudo; os chefes dos fariseus (os líderes religiosos) desdenharam da  cura dizendo que era pelo poder do demônio que Jesus realizou aquela cura; trabalhadores e trabalhadoras para a messe.

Claro que cada pregador vai destacar uma parte do texto de hoje, depende de como ele se relaciona com as pessoas e como encara as situações conflituosas da vida, ainda mais, quem são os trabalhadores e trabalhadoras da messe.

O fim do texto de hoje, que lembra da necessidade de trabalhadoras e trabalhadores para a messe, sempre é colocado na perspectiva das vocações para o ministério ordenado sacerdotal, ou para avida religiosa. 

Entretanto, sempre me chamou a atenção essas palavras de Jesus. Lembremos que os apóstolos difundiam o evangelho. Deus ia agregando, a cada dia, mais pessoas ao grupo dos crentes. Era preciso ter mais pessoas que poderiam confirmar os irmãos e irmãs na fé. Animá-los diante das perseguições. Testemunhar a ressurreição de Jesus. 

Todos e todas que pregam a palavram de Deus, que vivem a sua fé diante do povo, e que estão na luta contra as injustiças do mundo, são trabalhadores/trabalhadoras da messe. Devemos rezar por essas irmãs e por esses irmãos. Não podemos limitar os operários e operárias da messe somente aqueles e aquelas que são chamados e chamadas a uma vocação religiosa ou sacerdotal. A messe é grande. A necessidade de trabalhadoras e trabalhadores se faz imperiosa. Esse chamado é para cada um de nós nos dias de hoje. Existem muitas pessoas que ainda estão distantes de fazer o bem aos outros. Não basta reconhecer Jesus como Filho do Deus vivo. É preciso mudar as situações de injustiças em nossa sociedade. É preciso resgatar a nossa humanidade. O amor ao próximo. Libertar-se das amarras do preconceito, da exclusão, do fundamentalismo, da violência.

As trabalhadoras e os trabalhadores da messe devem estar prontos para receberem críticas dos poderes desse mundo. E devem estar preparados e preparadas para fazer com que os mudos e mudas comecem a denunciar as situações de injustiça da sociedade. Devem compadecer-se daqueles e daquelas que vagueiam em busca de uma palavra de alento, e estão como ovelhas sem pastor. 

Nem sempre ir à Igreja, participar de ações litúrgicas, rezar terço, frequentar grupos de oração é sinal de estar em pastoreio. É preciso ir ao encontro.

Ouçamos esse chamado. Peça a Deus que você possa ser um operário, operária da messe. Amém.


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Nós somos os tolos por causa de Cristo


De um Sermão de Santo Antônio Maria Zacaria, presbítero, a seus confrades

(J. A. Gabutio, História Congregationis Clericorum Regularum S. Pauli, 1,8)
(Séc. XVI)

Discípulo do apóstolo Paulo

Nós somos os tolos por causa de Cristo (1Cor 4,10), dizia de si, dos demais apóstolos e de todos os que professam a doutrina cristã e apostólica, o nosso santo guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para admirar ou temer, irmãos caríssimos, pois o discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor (Mt 10,24). Quanto aos que se opõem a nós, devemos ter compaixão e amá-los, ao invés de detestá-los e odiá-los; pois fazem mal a si mesmos e atraem o bem sobre nós; contribuem para alcançarmos a coroa da glória eterna, ao passo que, sobre si, provocam a ira de Deus. E mais ainda: devemos rezar por eles, e não nos deixarmos vencer pelo mal, mas vencer o mal pelo bem, amontoando atos de piedade como brasas acesas de caridade em cima de suas cabeças (cf. Rm 12,20-21), como ensina nosso apóstolo. Desta maneira, vendo a nossa paciência e mansidão, convertam-se a melhores sentimentos e se inflamem no amor de Deus.
Apesar da nossa indignidade, Deus nos escolheu do mundo por sua misericórdia a fim de que, entregues ao seu serviço, vamos progredindo cada vez mais na virtude; e pela nossa paciência, possamos produzir abundantes frutos de caridade. Assim, alegremo-nos não apenas na esperança da glória dos filhos de Deus, mas também nas tribulações.
Considerai a vossa vocação (cf. 1Cor 1,26), caríssimos irmãos. Se quisermos examiná-la com atenção, veremos facilmente o que ela exige de nós: já que começamos a seguir, embora de longe, os passos dos apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não recusemos também participar dos seus sofrimentos. Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé (Hb 12,1-2).
Nós que escolhemos um tão grande apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre pai.

domingo, 4 de julho de 2021

De todos os temores o Senhor nos livrou.


 Hoje celebremos a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Pedro e Paulo são duas faces da uma mesma moeda. De um lado, o apóstolo dos gentios, Paulo; e de outro, Pedro, aquele que deveria confirmar os irmãos na fé.

A primeira leitura nos lembra um outro apóstolo muito importante para a consolidação do crescimento da Igreja, Tiago. Essa litura inicia-se dizendo que após Tiago ter sido morto pela espada, Herodes mandou prender Pedro. Era preciso fazer com que aqueles que fizeram a experiência pessoal de Jesus e que eram testemunhas de sua ressurreição, fossem tirados do meio do povo.

Pedro é preso. O autor dos Atos dos Apóstolos diz que a Igreja rezava por Pedro. E que um anjo apareceu para Pedro e o libertou da prisão.

Na segunda leitura, Paulo nos deixa seu testamento espiritual, "combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé". Paulo tem consciência de sua atividade apostólica, e por isso, sente-se preparado para entrar o Reino de Deus.

No evangelho, temos a afirmação de que Jesus é o "Filho do Deus vivo". Somente aqueles e aquelas que fazem a experiência pessoal de Jesus, somente aqueles e aquelas que comeram e beberam com Jesus, podem fazer essa afirmação. Somente aquelas e aqueles que ouviram as palavras de Jesus e viram seus milagres, podem fazer essa afirmação. Mas, reconhecer Jesus como o Messias e o Filho do Deus vivo só pode ser feito por revelação do Pai através do Espírito Santo. Nenhum ser humano pode revelar a filiação de Jesus ao Pai. Somente o Espírito Santo nos faz isso.

Pedro é colocado como aquele que deve ir à frente dos discípulos de Jesus. Sobre esta pedra a igreja de Jesus deveria ser construída. Entendamos Igreja como os seguidores das palavras de Jesus, não apenas os que participam de uma denominação religiosa específica. Igreja é o espaço onde se congrega todas e todos que realizam as obras de misericórdia que Jesus fez. A Igreja vai ao encontro dos que sofrem, dos que são perseguidos, dos que são mortos pelo poder do Estado.

A Pedro, Jesus entrega as chaves do Reino dos Céus. Ter a chave significa poder abrir a porta ou fechá-la. Jesus é o Reino, o Caminho, a Vida. Pedro passa a ter a missão de abrir a porta para todos os que foram colocados de fora por conta de leis, de fundamentalismos, de dogmas que matam e excluem, possam entrar.

Hoje, lembrar Pedro e Paulo é lembrar de todas e todos que se colocam á serviço do Reino. Que trabalham pela inclusão no reino de todas e todos que foram excluídos pelo preconceito religioso.

"De todos os temores me livrou o Senhor Deus", assim diz o salmista. Creiamos que para Deus não há temor, Deus desfaz todas as nossas dores, nossos sofrimentos. Deus livrou Pedro da prisão. Livrou Paulo das dores da perseguição. E há de nos livrar de nossas dores atuais. Amém.

sábado, 3 de julho de 2021

A fé sem obras é morta

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa.

(Hom. 25,7-9:PL76,1201-1202)
(Séc.VI)

Meu Senhor e meu Deus!
Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio (Jo 20,24). Era o único discípulo que estava ausente. Ao voltar, ouviu o que acontecera, mas negou-se a acreditar. Veio de novo o Senhor, e mostrou seu lado ao discípulo incrédulo para que o pudesse apalpar; mostrou-lhe as mãos e, mostrando-lhe também a cicatriz de suas chagas, curou a chaga daquela falta de fé. Que pensais, irmãos caríssimos, de tudo isto? Pensais ter acontecido por acaso que aquele discípulo estivesse ausente naquela ocasião, que, ao voltar, ouvisse contar, que, ao ouvir, duvidasse, que, ao duvidar, apalpasse, e que, ao apalpar, acreditasse?

Nada disso aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A clemência do alto agiu de modo admirável a fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discípulo que duvidara curasse as chagas da nossa falta de fé. A incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram logo. Pois, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde apalpar, o nosso espírito, pondo de lado toda dúvida, confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreição.

Tomé apalpou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo 20,28-29). Ora, como diz o apóstolo Paulo: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem (Hb 11,1). Logo, está claro que a fé é a prova daquelas realidades que não podem ser vistas. De fato, as coisas que podemos ver não são objeto de fé, e sim de conhecimento direto. Então, se Tomé viu e apalpou, por qual razão o Senhor lhe disse: Acreditaste, porque me viste? É que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e proclamou a fé na sua divindade, exclamando: Meu Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem não podia ver.

Alegra-nos imensamente o que vem a seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). Não resta dúvida de que esta frase se refere especialmente a nós. Pois não vimos o Senhor em sua humanidade, mas o possuímos em nosso espírito. É a nós que ela se refere, desde que as obras acompanhem nossa fé. Com efeito, quem crê verdadeiramente, realiza por suas ações a fé que professa. Mas, pelo contrário, a respeito daqueles que têm fé apenas de boca, eis o que diz São Paulo: Fazem profissão de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prática (Tt 1,16). É o que leva também São Tiago a afirmar:A fé, sem obras, é morta (Tg 2,26).