terça-feira, 30 de março de 2021

"Um de vós me entregará"


Terça-feira da semana santa. O evangelho de hoje nos leva a várias reflexões. Dependendo do que estamos vivendo, ele nos dá um resposta diferente. Ele fala de refeição entre "amigos"; fala de traição; fala de fidelidade colocada à prova; fala da glorificação pela dor.

Jesus está com seus discípulos num momento celebrativo. Estavam à mesa, comemorando a Páscoa. Ele faz uma revelação que coloca todos em alerta, "um de vós me entregará". Segundo João, os "discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando". 

Então, Pedro fez um sinal para o discípulo que estava mais próximo de Jesus para que ele soubesse quem seria o traidor. 

A resposta de Jesus é enigmática. Ele disse, "é aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho". Nada de diferente. Receber o pão passado no molho fazia parte do rito celebrativo no qual ele estavam vivendo. Seria como disséssemos, é aquele em que eu der um abraço. Depois de receber o pão molhado, Judas foi fazer o que deveria ser feito, entregar Jesus.

A ação de Judas Iscariotes é o início da glorificação de Jesus. Passar pela paixão, pela dor da traição, pelo martírio, pela cruz era o caminho necessário para a glorificação de Jesus. Ele será glorificado na cruz. 

Pedro, como um apaixonado, diz que irá com Jesus para qualquer lugar que ele fosse. Não sabia o que dizia. A dor do martírio era grande e penosa para aqueles homens. Apesar de se compreenderem isso depois da ressurreição. Jesus revela a Pedro que ele o negará. Lembremos que esse "negar" também é um forma de traição. Diante do sofrimento e da dor que ele viu Jesus passar, disse não o conhecer.

Hoje, nessa caminhada para Páscoa, devemos pensar em nossos corações, quem somos nós, Judas Iscariotes ou Pedro? Estamos prontos para a dor da traição, do martírio? Aceitamos a cruz como um desígnio de Deus em nossas vidas? Queremos apenas a alegria da ressurreição sem passarmos pela dor da cruz?

Estamos à caminho. Vamos com Jesus para morrermos com ele?

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 13,21-33.36-38

Naquele tempo: Estando à mesa com seus discípulos, 21Jesus ficou profundamente comovido e  testemunhou: 'Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me entregará.' 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando. 23Um deles, a quem Jesus amava, estava recostado ao lado de Jesus. 24Simão Pedro fez-lhe um sinal para que ele procurasse saber de quem Jesus estava falando. 25Então, o discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: 'Senhor, quem é?' 26Jesus respondeu: 'É aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho.' Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Depois do pedaço de pão, Satanás entrou em Judas. Então Jesus lhe disse: 'O que tens a fazer, executa-o depressa.' 28Nenhum dos presentes compreendeu por que Jesus lhe disse isso. 29Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus lhe queria dizer: 'Compra o que precisamos para a festa', ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Depois de receber o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31Depois que Judas saiu, disse Jesus: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: 'Para onde eu vou, vós não podeis ir'. 36Simão Pedro perguntou: 'Senhor, para onde vais?' Jesus respondeu-lhe: 'Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas me seguirás mais tarde.' 37Pedro disse: 'Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti!' 38Respondeu Jesus: 'Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes.'

Palavra da Salvação.

Terça-feira da Semana Santa. As sete dores de Nossa Senhora, Maria, mãe de Jesus.

 


Uma antiga tradição nos lembra, durante o período da Semana Santa, as Sete Dores de Nossa Senhora, Maria, Mãe de Jesus.

1º. A profecia de Simeão sobre Jesus (Lucas 2,34-35)

"34 Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: «Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações".

Cumprido o rito mosaico, Maria e José levaram o menino ao templo para o consagrá-lo ao Senhor. O sacerdote Simeão, então, faz duas profecias, uma em relação ao menino; a outra, em relação à mãe.

Ele diz que em Jesus muitas coisas serão reveladas. As pessoas deverão assumir a opção pela vida ou pela morte. E quanto a Ela, a dor pela qual o filho deverá passar, vai atravessar a sua alma. Dor de mãe, que sofre com a dor do filho. Ele diz, "serão revelados os pensamento de muitos corações". Assim, rezamos, "as gerações hão de me chamar de bem-aventurada". Bem aventurada aquela que acreditou e passou pela dor do sofrimento com fé em Deus.

2º. A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mateus 2,13-21)

A necessidade de sair da própria pátria para proteger o filho. Deixar para trás os familiares, os amigos, os vizinhos. Uma nova vida. Num lugar novo e distante. Quantas dúvidas no coração. Uma viagem perigosa. Somente o Pai, a Mãe, o recém nascido, e um animal como meio transporte. Uma grande distância a ser percorrida. Passando pelos perigos do deserto. Sem abrigo. Quantas incertezas. Quanta dor isso provocou naquele coração de mãe.

Muitas vezes, para salvar a vida de um filho, de uma filha, é necessário partir para outro lugar, levando consigo as incertezas dessa nova vida.

Maria passou pela dor dos refugiados. Dos sem pátria. Daqueles e daquelas que precisaram deixar suas terras, suas raízes, sua cultura, sua fé, para garantir a própria vida.

Era preciso passar pela dor de ser refugiado para entender as pessoas que passam por essa situação.

3º. O desaparecimento do Menino Jesus durante três dias (Lucas 2,41-51)

Após cumprir as obrigações religiosas em Jerusalém, a família voltava para casa com a caravana. Todos se conheciam. Sabiam nome, e de qual família pertenciam. Era costume as crianças e adolescentes andarem pela caravana. 

Mas, depois de três dias de caminhada, não encontraram o menino no meio dos parentes. Que desespero! Voltaram para Jerusalém. Com certeza, às pressas.

Lá, depois de uma busca minuciosa, tiveram a surpresa de encontrar o garoto no templo, junto aos doutores da lei. Conversando, perguntando, questionando, ensinando. 

A perda de um filho/filha é uma dor muito grande. Imagine ainda perder o filho do próprio Deus. Que angústia. 

Maria sente as dores e compreende as famílias que veem seus filhos e filhas perdidos, sumidos, raptados, desaparecidos. 

4º. O encontro de Maria e Jesus a caminho do Calvário (Lucas 23:27-31)

Lá estava ele. Ensanguentado. Carregando a cruz. Depois de todo o flagelo. Depois de toda a dor. Ter que caminhar até o Calvário. Uma caminhada não muito longa para quem está bem. Mas dolorosa para quem está ensanguentado, alquebrantado. 

Ela encontra o Filho. Olha-o nos olhos. Vê passar em sua cabeça toda a história de uma vida de relação entre mãe e filho. Desde o anuncio, até aquele momento. Todas as alegrias e tristezas. Lá está Ela, vendo o Filho, na dor.

5º. Maria observando o sofrimento e morte de Jesus na Cruz - Stabat Mater (João 19:25-27)

Lá estava ela, ao pé da cruz, como narra João. Imagina a cena. Ela, aqui em baixo. Ele, lá em cima, pregado na cruz. Sangue escorrendo para tudo que era lado.

Quanta dor. Quanto desespero. Ela devia estar rezando junto com o filho: "meu Deus, meu Deus, porque me (nos) abandonastes". Porque abandonar o próprio filho? Porque era preciso que o filho passe por isso? 

Maria entende todas as mães que veem seus filhos sendo mortos injustamente. Quantas crianças, jovens, adolescentes negros e pobres sendo mortos sem motivo algum? Colocados na cruz das balas de fuzis, e de outras armas. Pessoas que são mortas pelo braço armado do Estado. Pessoas que são mortas porque não existe uma política de vacinação contar a Covid-19.

Quanto sofrimento.

6º. Maria recebe o corpo do filho tirado da Cruz (Mateus 27:55-61)

Mãe da Piedade. Recebe, nos braços, o Filho da Misericórdia. Um corpo sem vida. Aquela criança que recebeu os braços da mãe no nascimento, aquela criança que viajou nos braços da mãe para o Egito. Aquela criança nos braços da mãe sendo amamentada. 

Agora, aquele corpo sem vida. Quanta coisa passou na cabeça de Maria. Quantas dores as mães que perdem seus filhos passam. Maria compreende a dor o sofrimento das mães que tem nos braços os filhos e filhas sem vida.

7º. Maria observa o corpo do filho a ser depositado no Santo Sepulcro (Lucas 23:55-56)

O último lugar da existência humana. O sepulcro. Depois de viver, o sepulcro passa a ser nossa casa.

Maria está ali. Vendo o filho ser colocado no sepulcro. É a última vez que ela verá o filho. Pelo menos é o que ela imagina.

Quantas mães veem seus filhos sendo colocados no sepulcro. Quantas mães sofrem. 

Maria, consola essas mães. Mostra que a dor pode ser transformada em vida. Vida que age no dia-a-dia para que a violência seja cessada. Que não haja mais mortes violentas. Que não haja morte por armas. 

Medite as dores. Não é hora de falarmos de ressurreição. Nem de vida. É hora de pensar nos sofrimentos pelos quais a humanidade passa.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Maria ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12,1-11

1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. 4Então, falou Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de entregar: 5'Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para as dar aos pobres?' 6Judas falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão; ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. 7Jesus, porém, disse: 'Deixa-a; ela fez isto em vista do dia de minha sepultura. 8Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis.' 9Muitos judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para lá, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos. 10Então, os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11porque, por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus.

Palavra do Senhor.

Olá. Ontem iniciamos a Semana Santa. Começamos o fim do caminho quaresmal para a celebração da Páscoa.

O evangelho de hoje nos recorda a chamada Unção de Betânia. "Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia". A palavra Betânia significa "casa dos pobres". Isso demonstra para nós que Jesus tinha predição pelos pobres. Que ele fizera a "opção preferencial pelos pobres". Jesus olhava para aqueles que a lei excluía, que colocava à margem. Os fariseus, e os mestres da lei, vinha os pobres como se fossem renegados por Deus. E Jesus veio para incluí-los na perspectiva do Reino de Deus.

Jesus está em Betânia. Na casa de Marta, Maria e Lázaro. Em nossa memória vem as várias passagens onde essas personagens aparecem. Só para recordar algumas. Lázaro, aquele que Jesus ressuscitara. Marta, a que reclamou com Jesus que seu irmã Maria não ajudava nos afazeres domésticos. E Maria, que ficou os pés de Jesus para ouvi-lo.

Jesus estava fazendo refeição nessa casa. Lázaro estava à mesa, como determinava a lei. Marta servia-os. E Maria? Maria aparece em destaque na cena de hoje.

Ela se aproxima da mesa. Por detrás de Jesus, e derrama sobre os pés Dele, nardo puro. Esse perfume era bem caro. Que cena! Os teólogos dizem que provavelmente, Maria seria uma prostitua, pois esse tipo de perfume era característico delas, pois precisavam atrair os homens. 

Maria unge os pés de Jesus. Outra figura em destaque é Judas Iscariotes. Reagiu como qualquer pessoa que não compreende a situação em questão. Judas pensava no dinheiro apenas. Apesar de fazer parte do grupo dos discípulos, não tinha feito a experiência transcendental, espiritual de Jesus. Sendo o responsável para bolsa de dinheiro do grupo, logo, cinicamente, diz que poderia ter sido vendido aquele perfume para dar o dinheiro aos pobres. 

Então, Jesus exalta a ação de Maria, e disse que ela o estava preparando para a sepultura. E quanto aos pobres, poder-se-ia fazer caridade a qualquer instante, pois "pobres sempre os terei".

A segunda parte do evangelho, narra o desejo dos judeus em matarem Lázaro. Por causa da sua ressurreição, muitos passaram a crer em Jesus.

Desde esse tempo, agredir e matar os que seguem Jesus, é uma ação dos que veem seu poder ameaçado por suas palavras. Então, é preciso eliminar toda e qualquer pessoa que possa ser sinal do Reino de Deus nesse mundo. 

Assim, todo discípulo ou discípula que se torna profeta, denunciando as situação de injustiça social, que denuncia a corrupção dos governos, que denunciam ações dos governos que matam crianças, adolescentes e jovens negros, está jurado de morte. É preciso ter coragem para assumir atitudes que anunciam o Reino de Deus denunciando os pecados sociais, dos quais, muitas vezes, nós somos coniventes.

Estamos indo para Jerusalém junto com Jesus. Estamos indo para sermos flagelados, mortos na cruz, passando pelas dores da paixão, para voltarmos a vida.

Hoje, a vida clama por VACINA contra a covid-19. Hoje, a vida clama por defender os que estão sendo perseguidos. Hoje, a vida clama por uma mudança de vida e de mentalidade. E todo discípulo e discípula que assume a missão de Jesus, deve ter a perspectiva da cruz para chegar ao Reino de Deus.


domingo, 28 de março de 2021

Domingo de Ramos e da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo


Hoje estamos celebrando o Domingo de Ramos, da Paixão do Senhor. Nosso canal está fazendo um ano no ar. Ou melhor, nas redes sociais. Se você ainda não nos segue, clique nos links a seguir e se inscreva: Telegram, Instagram, Facebook.

No Youtube, "Inscreva-se", e ative o "sininho" para receber as notificações.

Interessante notar que temos dois evangelhos. O primeiro, que seria lido procissão de ramos, tradicional na nossa liturgia. O segundo, o evangelho da própria missa, onde narra todo o processo da Paixão de Jesus.

O evangelho da "procissão" narra como Jesus entrou em Jerusalém. Antes de seguir, quero lembrar que todos os evangelistas narram esse fato. 

Jesus está se aproximando de Jerusalém. Aproxima-se a festa da ||Páscoa judaica. A distância entre essas cidades era de 6km. Mais ou menos a metade da ponte Rio-Niterói (cerca de 13Km). E é aclamado pelo povo como rei.

O Evangelho da missa, é o evangelho da paixão. Bem mais longo.

Um olhar mais atento, nos mostra várias situações distintas no evangelho.

Marcos é bem claro e profundo.

1º. Narra a chamada Unção de Betânia. Jesus estava à mesa na casa de um leproso de nome Simão. A mulher se aproximou, com um vaso de perfume de nardo puro. Quebra o vaso, e derrama o perfume sobre a cabeça de Jesus. Uma observação, com certeza, essa mulher seria uma prostituta, pois precisava do perfume para atrair seus clientes.

Jesus destacou essa ação. Ele disse que a mulher praticou uma boa ação, ungindo-o para a paixão.

2º. Judas fora cooptado pelos fariseus para entregar Jesus em troca de dinheiro.

3º. A preparação para a Páscoa. A ceia derradeira de Jesus. A ressignificação da Ceia Pascal. A partir daquele instante, o pão passa a ser o corpo do Senhor; e o vinho, o seu sangue. 

4º. A Traição da Negação. Pior do que a traição de Judas, foi ver Pedro, aquele que morreria junto com Jesus, o negar três vezes. O medo da cruz faz com que se mude de ideia na hora do "vamos ver".

5º. Jesus sua sangue. Sente angústia e dor. Percebe que não será fácil passar pela paixão.

Dai em diante, Jesus é preso, inquerido. Condenado. Flagelado. Morto.

As pessoas, que aclamaram Jesus rei com os Ramos, agora o condenam à morte. Preferem um ladrão à Deus. Viram as costas para o filho de Deus. 

Escolha uma das partes do evangelho de hoje. Pare e medite.

Estamos iniciando a Semana Santa. Convido você a acompanhar as reflexões dessa Semana no meu blog, diaconiadapalavra.blogspot.com

Tenhamos uma boa Semana Santa.

Lembre de assistir o vídeo da bênção de Ramos. Abençoe seu Ramo. Coloque-o em algum lugar de destaque em casa. NÃO aglomere. Ainda estamos vivendo um período de pandemia muito grave. VACINA SIM!

domingo, 21 de março de 2021

5º Domingo do Quaresma: "Se o grão de trigo que cai na terra morre, então produz muito fruto"


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 12,20-33

Naquele tempo: 20Havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: 'Senhor, gostaríamos de ver Jesus.' 22Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. 23Jesus respondeu-lhes: 'Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. 25Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27Agora sinto-me angustiado. E que direi? `Pai, livra-me desta hora!'? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28Pai, glorifica o teu nome!' Então, veio uma voz do céu: 'Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!' 29A multidão que lá estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: 'Foi um anjo que falou com ele.' 30Jesus respondeu e disse: 'Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, 32e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim.' 33Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer. 

Palavra da Salvação.

Chegamos ao 5º Domingo da Quaresma. Estamos a uma semana do início da Semana Santa. Vivemos um ano de pandemia do Coronavirus; de isolamento social. Aprendemos a rezar em casa, ou pelas redes sociais, ou pela televisão. Redescobrimos a Liturgia das Horas. Aprofundamos a leitura e meditação da Palavra de Deus, intensificamos a lectio divina. 

O evangelho de hoje, nos leva a três meditações em preparação para a Páscoa.

João inicia o evangelho colocando Jesus em Jerusalém. Eles haviam ido para as festas da páscoa judaica. Ele acrescenta dizendo que alguns gregos (com certeza convertidos ao judaísmo) estavam em Jerusalém para as festas, e que, ao ouvirem falar de Jesus, queriam conhecê-lo. Felipe e André vão até Jesus, e falam com ele sobre isso. Jesus, então, faz o discurso que ouvimos, ou lemos, no evangelho. Não sabemos se os gregos ouviram essas palavras ou não.

Jesus inicia seu discurso dizendo que "chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado". Observemos que Jesus fala de glorificação. E essa se dá para todo, inclusive para os gregos. A manifestação gloriosa de Jesus não está restrita aos judeus. Ela é universal. Atinge a todas e a todos.

Em seguida, ele fala do grão do trigo, "se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo, mas se morre, então, produz fruto". O grão, se se entrega à terra, se se permite deixar de ser grão para se tornar planta, árvore, ele produz fruto. Frutos só existem porque que a semente se permite morrer. 

Quem se apega à sua vida, quem se preserva, quem não se entrega a ajudar a amenizar o sofrimento dos outros, não chegará a ter a vida eterna.

Jesus disse, "se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também meu servo". O servo não pode querer afastar-se da cruz. Se Jesus está na cruz, estamos na cruz com Ele. Se Jesus ressuscita, ressuscitamos com ele. Jesus sabe que ele veio para a cruz, pois, somente na cruz ele poderia destruir o demônio, pois se entregou livremente.

Jesus na cruz expulsa o chefe deste mundo. Ao ser elevado na cruz, Jesus atraiu para ele todos. 

Hoje contemplamos a cruz. Olhamos para nossa vida. Como passamos pelas cruzes que estão diante de nós? Como vivemos nossos sofrimentos? 

Ao se entregar à terra (grão), ao assumir a cruz, vencemos o "chefe desse mundo", o diabo, ou satanás. E como diria Santo Inácio de Loyola, o "inimigo da natureza humana". Amém.


No próximo domingo, vamos celebrar o Domingo de Ramos. Teremos restrições quanto às procissões. Arrume seu ramo. Qualquer planta serve para isso. Faça a oração de benção dos Ramos. Coloque na porta de entrada da sua casa, e faça um pequeno altar com os Ramo em sua casa. Leia e medite o evangelho do dia. 

Participe de alguma missa transmitida pela Tv ou pela Internet. Faça sua comunhão espiritual. Ligue para a sua paróquia, peça o número da conta bancária. Faça uma doação dentro das suas possibilidades. Esse será seu gesto concreto para a manutenção do templo.

Ainda estamos vivendo a pandemia do coronavirus. Cuide-se. Mantenha distância. Não se aglomere. Vacine-se. Exija que o governo tenha um programa nacional de vacinação para todas e todos, dentro a agilidade que a doença exige.

Estamos vivendo um período crítico. Cuide-se. Cuide das pessoas que você ama!

No Domingo de Ramos, teremos um vídeo especial com a benção de Ramos. Assista. Divulgue.


sábado, 20 de março de 2021

'Este é, verdadeiramente, o Profeta'


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 7,40-53

Naquele tempo: 40Ao ouvirem as palavras de Jesus, algumas pessoas da multidão diziam: 'Este é, verdadeiramente, o Profeta.' 41Outros diziam: 'Ele é o Messias'. Mas alguns objetavam: Porventura o Messias virá da Galileia? 42Não diz a Escritura que o Messias será da descendência de Davi e virá de Belém, povoado de onde era Davi?' 43Assim, houve divisão no meio do povo por causa de Jesus. 44Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele. 45Então, os guardas do Templo voltaram para os sumos sacerdotes e os fariseus, e estes lhes perguntaram: 'Por que não o trouxestes?' 46Os guardas responderam: 'Ninguém jamais falou como este homem.' 47Então os fariseus disseram-lhes: 'Também vós vos deixastes enganar? Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? 49Mas esta gente que não conhece a Lei, é maldita!' 50Nicodemos, porém, um dos fariseus, aquele que se tinha encontrado com Jesus anteriormente, disse: 51'Será que a nossa Lei julga alguém, antes de o ouvir e saber o que ele fez?' 52Eles responderam: 'Também tu és galileu, porventura? Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta.' 53E cada um voltou para sua casa.

Palavra da Salvação.

Bem simples a meditação de hoje. Quando queremos desqualificar alguém começamos a buscar justificativas para dizer que a pessoa não tem autoridade para falar o que fala. Nem se manifestar publicamente.

Entretanto, as palavras de Jesus vão além do meramente social. Ela atinge o coração e as relações sociais. E os "guardas" sentiram-se tocados pelas palavras de Jesus. Inclusive, Nicodemus.

Para pens
armos. E em mim, que tipo de atitude essa palavra me provoca? Que sentimento eu tenho?

sexta-feira, 19 de março de 2021

Ele foi José, simplesmente assim.


Será que José, pai de Jesus, teria sido santo mesmo?

Vejamos.

Mateus narra que Maria era noiva de José. E que antes de coabitarem, ela se encontrou grávida. Nós sabemos da história. Mas imagina um homem que está noivo, e descobre que sua noiva ficou grávida sem terem coabitado? Como todo homem, entrou em "parafuso". Perdeu o chão. O que fazer agora?

O evangelista encontrou uma solução. Afirmou que José era justo. E não queria difamá-la. Mas, se era justo, deveria cumprir a lei. E essa, previa que uma mulher prometida em casamento, se ficasse grávida, deveria o marido denunciá-la para que a mesma sofresse as consequências da severidade lei. 

A justiça de José excedia o rigor da lei dos homens. Ou excedia o rigor da lei que extermina a vida. Decidiu em seu coração abandonar sua esposa, sem denunciá-la. 

Mas essa decisão não poderia ser tomada da noite para o dia. Era preciso meditar, pensar, rezar. A decisão de abandonar Maria sem denuncia-la não era fácil. 

Mais uma vez, a intervenção do anjo é fundamental para o desfecho da história. No segundo testamento, bem como no primeiro testamento, os anjos são fundamentais para a tomada de decisão daqueles e daquelas que foram escolhidos por Deus para serem testemunhas vivas da presença de Deus no meio de nós.

Para lembrar alguns episódios. Abraão, Moisés, Tobias, Zacarias, Maria, José. São alguns exemplos de criaturas que tiveram a visão mística dos anjos de Deus.

Pois bem, enquanto meditava em abandonar Maria, José recebe a visita do anjo do Senhor em sonho. Este lhe comunica que em Maria havia a Filho de Deus. e que José era fundamental na formação daquela família. E que não houvesse temor em recebe-la. E em nomear o Filho. 

José era carpinteiro. Trabalhador. Estava acostumado a viver do seu próprio trabalho. Por isso, era justo. Não sabemos da condição financeira e econômica daquela família. Mas sabemos que José era temente a Deus. 

Sabemos que José aceitou a missão que lhe fora dada por Deus através do anjo. A santidade de José não está relacionada a feitos mirabolantes. Ele não fez milagres. Ele não curou pessoas. Não ressuscitou mortos. Não fez cegos enxergarem e coxos andarem. Ele, simplesmente, acolheu o Filho de Deus como se fosse seu próprio Filho.

José ensinou Jesus a ser carpinteiro José levou Jesus à sinagoga. Ia ao templo cumprir as prescrições. Ensinou Jesus a cultura religiosa de seu povo. José não fez nada de diferente do que qualquer outro pai judeu de seu tempo. Ele foi José, simplesmente assim. 


Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 1,16.18-21.24a

16Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. 20Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: "José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados". 24aQuando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.

Palavra da Salvação.

quarta-feira, 17 de março de 2021

O que o Pai faz, o Filho o faz também


O evangelho de João exige de nós um desprendimento e uma leitura atenta para não cairmos na tentação de julgar. Apesar da dureza das palavras de Jesus, esse evangelho nos traz uma visão de vida e fé distintas.

Jesus fala que o "Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho". Devemos tomar cuidado com essa palavra, principalmente, no que se refere a trabalho. Muitas pessoas caíram na tentação de que deveriam trabalhar muito, descansar pouco, e rezar de vez em quando, e descansar jamais. 

O trabalho que Jesus nos fala está direcionado para fazer o bem aos pobres, aos excluídos, aos perseguidos, aos descriminados. E que para isso, não tem lei que limite o dia, ou a hora para ser feito. Até mesmo no sábado, sagrado para o judeu, Deus trabalha. Deus não se adequa às convenções humanas. Deus não se prende às leis que escravizam, que condenam, que aprisionam.

Todos os que agem conforme a vontade de Deus, esses se tornam filhas e filhos de Deus. Sendo filhos e filhas aprendem a fazer as boas obras que o Pai faz. E assim, a luz de cada um e de cada uma brilha na escuridão. Trazendo luz para onde há trevas. Entretanto, as trevas não suportam essa luz. 

Se haverá um julgamento? Sim. Jesus deixa claro. Mas, todo aquele que vive conforme a vontade do Pai, esteja nessa terra, ou não, será conduzido para a eternidade. Os que fizeram coisas boas, para o Reino de Deus. Aqueles que praticaram o mal, esses, para a danação eterna.

O julgamento passa pelas mãos de Deus. Mas somos nós que orientamos para onde queremos ir. Amém.

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 5,17-30

Naquele tempo: 17Jesus respondeu aos judeus: 'Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho'. 18Então, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque, além de violar o sábado, chamava Deus o seu Pai, fazendo-se, assim, igual a Deus. 19Tomando a palavra, Jesus disse aos judeus: 'Em verdade, em verdade vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também. 20O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados. 21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem ele quer. 22De fato, o Pai não julga ninguém, mas ele deu ao Filho o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou. 24Em verdade, em verdade vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida. 25Em verdade, em verdade, eu vos digo: está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem, viverão. 26Porque, assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si  mesmo. 27Além disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem. 28Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora, em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: 29aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação. 30Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto, e meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

Palavra da Salvação.


terça-feira, 16 de março de 2021

Os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado


Betesda significa "casa da misericórdia", "casa da bondade". Esse era o lugar onde estava Jesus em Jerusalém. O autor diz que ao redor daquela piscina havia muitos doentes. Eles ficavam esperando a água ser agitada por um anjo. E o que chegasse primeiro, era curado.

Jesus se aproximou desse lugar. Olhou ao redor. Viu vários doentes. Dentre eles, havia um homem que não podia se locomover com a agilidade necessária para chegar na água e ser curado. 

O evangelista não diz a que distância aquele homem estava da água. Mas, suponho eu, que deveria estar próximo. Mas, como não podia se locomover com agilidade, não conseguia chegar a tempo.

Jesus, então, lhe pergunta, "queres ficar curado"? Isso era num dia de sábado. O homem responde que não havia ninguém que lhe levasse a água quando ela era agitada. Deveria ser o "cada um por si". 

Então, Jesus na sua misericórdia infinita para com a humanidade, liberta aquele homem daquela situação. Lembremos que já se faziam 38 anos de sofrimento. Para curar, para libertar, para ser misericordioso, não existe lei, doutrina, proibição. Jesus rompe com tudo isso, e cura aquele homem. Que toma sua cama e sai andando. 

Os judeus, fundamentalistas, legalistas, que davam mais valor à lei e ao que pode e não pode, questionaram o homem. Este disse, "aquele que me curou disse para eu pegar a minha cama e andar".

Jesus operou duas curas. A física, e a psíquica. A cura física deu aquele homem a possibilidade de estar inserido na sociedade, na convivência social e familiar. E a cura psíquica transformou-o num homem solidário, benevolente, misericordioso.

E nós hoje, o que preferimos, o fundamentalismo religioso que discrimina, que julga, que impõem regras, ou a misericórdia que liberta? 

É para refletir como estamos vivendo a nossa fé.

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 5,1-16.

1Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. 2Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. 3Muitos doentes ficavam ali deitados -cegos, coxos e paralíticos -, esperando que a água se movesse. 4De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. 5Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. 6Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: 'Queres ficar curado?' 7O doente respondeu: 'Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente'. 8Jesus disse: 'Levanta-te, pega na tua cama e anda.' 9No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou na sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. 10Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: 'É sábado! Não te é permitido carregar tua cama.' 11Ele respondeu-lhes: 'Aquele que me curou disse: 'Pega tua cama e anda'.' 12Então lhe perguntaram: 'Quem é que te disse: 'Pega tua cama e anda?' 13O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar. 14Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: 'Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior'. 15Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado. 

Palavra da Salvação.

domingo, 14 de março de 2021

4º Domingo da Quaresma - Quem pratica o mal odeia a luz


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,14-21

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. 19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.

Palavra da Salvação.

Chegamos ao 4º domingo da Quaresma. Aproxima-se a celebração da Páscoa. Caminhamos com Jesus nesse período quaresmal ouvindo sua pregação sobre como devemos viver a caridade (esmola), como deve ser o nosso jejum, e de que forma devemos orar.

O texto do evangelho de hoje é uma parte da conversa de Nicodemos com Jesus. Esse texto é relatado apenas por João. 

Nicodemos era um dos fariseu. Era um fariseu diferenciado. Ele observava os acontecimentos pela perspectiva de Deus. Ele foi ao encontro de Jesus. João narra que esse encontro se deu à noite. Nicodemos não queria se expor. É! Faz parte. Mas é importante esse preâmbulo pois demonstra que, pelo menos, um fariseu estava pensando sobre a vida de Jesus.

João faz uma releitura do que havia acontecido com povo hebreu no deserto. Na caminhada para a terra prometida, o povo murmurou contra Deus. Daí, apareceram serpentes que picavam o povo, e estes morriam. Então, Deus disse a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, a colocasse sobre uma vara, e todo aquele que fosse picado por uma serpente, bastaria olhar para serpente de bronze e ficaria curado.

Jesus, então, usa esse fato para explicar a Nicodemos a cruz. Da mesma forma que o povo era curado ao olhar a serpente, todos e todas que colocarem na cruz de Cristo sua vida e sua esperança serão salvos. Não morrerão. Terão a vida eterna.

João é o evangelista que tem um evangelho mais reflexivo. Todas as ações e palavras de Jesus nos levam a uma meditação mais profunda da vida. 

João diz Deus enviou seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele. E quem não crê já está condenado. Essa passagem é intrigante para nós. Os fundamentalistas se fecham nela para acusar as pessoas. Para dividir os filhos e filhas de Deus entre salvos e não salvos.

Jesus dá a pista. "o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus". Aqui não cabe fundamentalismo. 

Jesus é bem claro. "Quem pratica o mal odeia a luz". Aqui, independe da religião que se pratica. As estravas se fazem presente nas práticas religiosas. Quem defende morte e discriminação, está nas trevas. Quem nega a vida aos outros, está nas trevas. Quem defende políticas públicas que eliminam a vida, está nas trevas. 

"Quem agem conforme a verdade aproxima-se da luz". Estar ao lado da luz é defender, em todas as circunstâncias, a vida. É dar de comer e beber a quem está sedento e com fome; é vestir os nus; é visitar e consolar os doentes e encarcerados injustamente; é acolher os que "perambulam" pelo mundo em busca de acolhida. É ser solidário com os que são discriminados e perseguidos.

As boas ações são realizadas em Deus. Lembremos que João disse, "o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus". Assim, todas as nossas boas obras são motivadas por Deus que age em nós, mesmo que não tenhamos consciência disso. Todo ato de solidariedade com os que sofrem, com os que são discriminados, vem de Deus. É Deus agindo em nós, independente da religião que professamos.

Olhemos hoje para nós e pensemos em nossas ações. Elas são práticas das trevas ou da luz?

sábado, 13 de março de 2021

Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 18,9-14

Naquele tempo: 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10'Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'. 13O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.' 

Palavra da Salvação.

Duas situações distintas. Não precisamos de muitas palavras hoje. Apenas um pergunta, QUEM SOU EU? O fariseu, ou o cobrador de impostos?

Você faz seu relatório espiritual para Deus, ou sempre acha que é o servo inútil? 

Pense nisso hoje. 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Ele é o único Deus e não existe outro além dele


Ao que nos parece, quando se trata das coisas de Deus, os seres humanos querem que tenha uma lei. Alguma coisa que possa usar para acusar o outro de erro diante de Deus.

O evangelho de hoje nos remete a uma cena onde um mestre da Lei aproximou-se de Jesus, e lhe pergunta "Qual é o primeiro de todos os mandamentos". Para quem acha que somente a lei torna uma pessoa justa, nada de mais em colocar o outro numa situação complicada.

Mas, Jesus é Jesus. Sabe como sair das situações embaraçosas que os fundamentalistas querem colocá-lo. E responde, "Ouve, ó Israel"! Não basta conhecer, é preciso "Ouvir". Não basta ter a lei na ponta da língua, é preciso compreender e viver.

E, Ele continuou. "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força".

Caramba, deixou o homem numa situação complicada. Não basta conhecer o primeiro mandamento. É preciso que ele se torne vida, que se faça presente nas palavras, nos gestos, nos atos. Amar a Deus não só com a compreensão. Mas amar por inteiro. Santo Inácio de Loyola disse "tomai senhor, e recebei, toda a minha liberdade, a minha memória também. O meu entendimento, e toda a minha vontade. Tudo que tenho o possuo, vós me destes com amor. Com gratidão vos devolvo. Dispondes deles, Senhor, segundo a vossa vontade. Dá-me somente o vosso amor, vossa graça, isso me basta, nada mais quero pedir". Um perfeito entendimento dessas palavras de Jesus.

Mas, para Jesus, não há superficialidade em suas palavras. Não basta amar a Deus. Esse amor, leva ao encontro das pessoas, da humanidade. Então, há um segundo mandamento que complementa o primeiro. E não existe um sem o outro. 

E Jesus disse, "o segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes". É um com o outro. Entrelaçados. Imbricados. Os dois se encaixam perfeitamente. Os dois andam juntos, como irmãos siameses.

O mestre da Lei compreende o que disse Jesus. E acrescenta que tudo isso é maior do que todos os holocaustos e sacrifícios, pois esses são manifestações exteriores, e qualquer um pode fazê-lo. Mas, a vivência da lei deve vir de dentro, do coração. Não se impõem. 

Se compreendermos isso, estaremos no caminho certo para o Reino de Deus. É preciso viver esse amor a Deus e ao próximo. É preciso empenhar a vida toda na construção desse amor que leva ao Reino de  Deus.

Pare. Escute. Medite. 


Evangelho de Jesus Cristo escrito por Marcos 12,28b-34

Naquele tempo: 28bUm mestre da Lei, aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Qual é o primeiro de todos os mandamentos?' 29Jesus respondeu: 'O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! 31O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes'. 32O mestre da Lei disse a Jesus: 'Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios'. 34Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: 'Tu não estás longe do Reino de Deus'. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.

Palavra da Salvação.


quinta-feira, 11 de março de 2021

"Quem não está comigo, está contra mim"


Começo dizendo, "deu ruim", como diz o ditado popular. O evangelho de hoje começa dizendo que Jesus estava expulsando um demônio "que era mudo".

Obviamente, um mudo não fala. O mudo se cala diante de tudo e de todos. O mudo não denuncia as injustiças, as situações de racismos, de homofobia, de misoginia. O mudo se omite em denunciar a destruição da natureza, do meio ambiente. O mudo não reivindica vacina para todos e todas. O mudo se cala diante das ações de violência contra crianças, adolescentes, jovens negros e negras nas comunidades pobres de nosso país, principalmente, nas grandes cidades.

Jesus estava expulsando um "demônio que era mudo". Estava formando a consciência daquela pessoa. Mostrando que é preciso denunciar as situações de injustiças. A pessoa, livre do demônio mudo, anuncia o Reino de Deus. O reino de solidariedade, de justiça, de paz. O reino que não admite injustiças. O reino que acolhe e inclui todas e todos.

Entretanto, o chamado detentores do poder, aqueles que não abrem mão do status quo, não admitem que alguém abra a consciência dos oprimidos e que ele comece a denunciar as situações de injustiças praticadas pelos que tem o poder.

Assim, tentam desqualificar Jesus. Desqualificar sua prática. Desqualificar sua obra de instauração do Reino de Deus.

Então, ele diz, que "um reino dividido contra si mesmo, será destruído". Em Jesus, o Reino é unidade, em oposição ao reino da mentira no qual viviam seus interlocutores. Reino de Deus é para todos. E o reino dos que detêm o poder pelo poder, é um reino de morte, de destruição, de exclusão. Portanto, quem quer fazer parte do Reino de Deus deve estar disposto a ajudar o mudo a falar.

É preciso ser forte. Orar sempre. O demônio sempre busca uma brecha em nossa humanidade para nos tentar. Mas, com oração, jejum e esmola podemos ser mais fortes do que ele, pois esses pilares da nossa fé e da nossa prática religiosa são a força necessária para nãos desviarmos do caminho do Reino de Deus.

Lembremos sempre de que devemos nos revestir da "armadura" da esmola, do jejum, da oração, para estarmos ajuntando com Jesus na construção do Reino de Deus na vida das pessoas.

Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 11,14-23

Naquele tempo: 14Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15Mas alguns disseram: 'É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.' 16Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. 18Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. 21Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. 22Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. 23Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa.

Palavra da Salvação.

terça-feira, 9 de março de 2021

Quantas vezes devo perdoar meu irmão.


"Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou". Assim lemos no evangelho de hoje.

Um exemplo de direção espiritual. A direção espiritual é assim, como viver a Palavra de Deus no dia-a-dia. Como agir conforme a vontade de Deus. 

Era preciso estar próximo. Olhar Jesus bem de perto. Entender o que ia no seu coração. A pergunta, de cunho pessoal poderia causar estranheza. Não poderia ser aquela pergunta de "meio de sala", de onde grita o estudante. Era preciso estar próximo.

E perguntou, "quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim". A lei judaica era rígida com essas normativas que quantificavam as práticas religiosas. Por isso, o numeral sete aparece na história. "Até sete vezes"? 

Jesus, então, faz a catequese do perdão, da misericórdia. Não há um limite para o perdão divino, por isso, não deve haver um limite para o perdão humano. Não basta perdoar apenas sete vezes sete; é preciso perdoar sempre. Por isso, o perdão cristão, o perdão do discípulo deve ser setenta vezes sete. Sinal de infinitude. A história poderia acabar aqui. E pronto. 

Mas Jesus precisava mostrar uma situação concreta de como esse perdão deve ser dado. Por isso, contou a parábola. A misericórdia não deve ser mesquinha. O perdão não pode ser um ato tacanho. A mesma misericórdia que queremos que sejamos tratados, devemos dá-lo aos outros também. Lembre-se, "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". 

Tal como Jesus, devemos perdoar, assim é a nova humanidade. O novo jeito de ser. O novo céu a a nova terra são feitos de misericórdia, perdão, acolhimento. 

Aja com misericórdia, e obterás misericórdia. Aja com perdão, e obterás perdão, e terás um lugar no Reino dos Céus.

Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 18,21-35

Naquele tempo: 21Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' 22Jesus respondeu: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. 24Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. 25Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. 26O empregado, porém, caíu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: `Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo'. 27Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: `Paga o que me deves'. 29O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: `Dá-me um prazo! e eu te pagarei'. 30Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. 31Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. 32Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: `Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. 33Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?' 34O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. 35É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.'

Palavra da Salvação.

Tenha um diretor ou diretora espiritual. Alguém que você confie. Que saiba identificar o que vem de Deus, ou não. Que seja uma pessoa de oração. Que medite a palavra de Deus.

Lembre-se de fazer a lectio divina diariamente, assim, você terá o que partilhar com seu diretor/diretora espiritual. 

segunda-feira, 8 de março de 2021

Dia Internacional da Mulher

 


Oito de março, dia internacional da mulher. Essa data foi instituída pela ONU em 1970. Civilmente, simboliza a luta das mulheres por direitos civis e sociais que lhes são negados.

Minha reflexão para hoje vai no sentido de dar uma visão que sempre fica esquecida dentro da Igreja, que por cultura, ainda é machista, e muitas vezes, misógina. A Igreja ainda tem aversão a presença nas mulheres em suas instâncias de poder e decisão. Apesar de o Papa Francisco ter ido no sentido contrário a esse pensamento, ainda é comum esse sentimento de afastamento das mulheres. Mas isso, é assunto para outro momento.

Hoje, vou destacar alguns encontros de Jesus com as mulheres: Cananéia, Samaritana, Aquela que ungiu seus pés, a chamada "adúltera", Madalena, As que estiveram aos pés da Cruz, e como estamos na quaresma, as que encontraram Jesus no caminho do calvário. Será um texto reflexivo, não teológico.

Primeiramente, destaco que Mateus, Lucas e João narram esses vários encontros. É recorrente. Cada um dentro de sua perspectiva teológica.

1° Jesus e a Cananeia (Mt 15,21-28). Um encontro interessante. Jesus está numa região distante. Aproxima-se dele uma mulher cananeia, isto é, não judia. E lhe pede uma ajuda. Aqui vemos duas situações estranhas para a época. Uma mulher, não judia, dirigir a palavra a um judeu, homem. É o primeiro consentimento que Jesus permite, rompe com a lei. Segundo, ela faz um pedido, pois, mesmo não pertencendo aquele povo "escolhido", vê naquele homem a única possibilidade de cura de sua filha. Entretanto, Jesus, num primeiro momento nega esse pedido. Usa até de uma expressão não muito condizente para os nossos dias, diz a ela que não é justo tirar o alimento dos filhos para dar aos cachorrinhos. Não precisa ser mito inteligente para perceber que ele chama a mulher e o povo a que pertence de "cachorrinhos". Mas ela insiste, pois sabia que a única maneira de salvar a filha estava ali, diante dela. E responde, "é verdade senhor, mas os cachorrinho comem as migalhas que as crianças deixam cair". Que fé. Que coragem. Que ousadia. Ela não precisava de muito, bastava uma migalha vindo de Jesus. Jesus cai em si. Percebe que aquela mulher, que aquele povo também precisava da misericórdia de Deus que estava a pregar. E lhe concede o que estava pedindo.

2° Jesus e a Samaritana (Jo 4). Aqui outro caso de um encontro de Jesus com outra estrangeira. E pior ainda, pois o evangelista João, que narra esse fato, ressalta que os judeus e os samaritanos não se davam. 

Esse encontro se dá ao meio dia. Sol a pino. Calor excessivo. Jesus esta esperando os discípulos voltarem da cidade onde foram comprar comida. A mulher aparece. Jesus pede água. Dai em diante conhecemos a história. Quem não a conhece, ou não recorda, pode pegar sua bíblia e ler o texto. 

Quero destacar o quanto Jesus foi aprofundando a conversa com ela a partir da água, da sede, do poço. A sede e a água foi pretexto para ele puxar conversa. E mais uma vez, ele rompe com a lei. Conversa com uma mulher; num lugar deserto, longe de tudo e de todos. Ele judeu, ela samaritana. Quanto escândalo embutido nessa cena. Mas também, acolhimento às necessidades humanas, necessidades espirituais e sociais. Aquela mulher e aquele povo precisavam provar dessa água nova que Jesus trazia. E ela é a porta para Jesus chegar ao coração do povo samaritano. 

3° Jesus e a Mulher que lhe ungiu os pés (Lc. 7,36-50). Nesse encontro vemos a hipocrisia religiosa saltar aos olhos. O texto narra que Jesus havia ido a casa de um fariseu fazer refeição com ele. Existia todo um protocolo legal para receber uma visita em casa. Entretanto, aquele homem "justo", e "piedoso" não cumpriu nenhum deles. Mais uma vez, Jesus rompe com os protocolos legais. Entra uma mulher. Essa posta-se atrás dele, e começa a chorar. Com as lágrimas, molhava os pés dele, e com os cabelos secava, para em seguida beijá-los. E ungia com perfume. Mais uma cena que chocou aquela sociedade que se achava cumpridora das leis de Deus. 

Ao achar estranho aquela cena, os chamados homens bons pensam, esse homem não é um profeta, se não, saberia quem era aquela mulher. Jesus faz a catequese do acolhimento dos afastados. Reinsere aquela mulher no grupo daqueles que tem dignidade. Revela que a situação dela é provocada por todos aqueles que se acham melhores. 

4° Jesus e a "Adúltera" (Jo 8, 1-11). Texto significativo. Nesse caso, Jesus está no meio dos seus compatriotas. Não há indicação que a mulher fosse estrangeira, era uma prostituta judia. O povo a acusa de adultério, e pela lei, deveria ser apedrejada, banida da convivência social. Mais uma vez, não olha o fato em si, mas o que aquilo representa. Ninguém comete adultério sozinha. Onde estava o homem com o qual a mulher estava deitada? Seria algum daqueles que estavam diante de Jesus? Por isso, a pergunta: quem não tiver pecados, atire a primeira pedra! E a mulher não foi apedrejada. E Jesus, mais uma vez, resgata uma mulher que serviria de chacota para o povo, e a recoloca em sua dignidade de ser humano.

5° Jesus e Madalena. Encontramos duas referências a Maria Madalena. A primeira, em Lucas 8,1-3. Nesse texto, o evangelista ressalta uma lista de mulheres que acompanhavam Jesus, dentre elas, Maria de Magdala, da qual ela havia expulsado sete demônios. E a segunda referência, em João 20,1-18, quando o autor destaca que Maria Madalena fora ao túmulo de Jesus ainda de madrugada. E que ela foi a primeira pessoa a dar a notícia da ressurreição de Jesus aos discípulos. Muita história ronda a vida dessa mulher. Ela tem um destaque muito grande na vida da Igreja. Sem ela, os discípulos ficariam escondidos até o dia de hoje. Ela é exemplo de anuncio, de coragem, de fé. Tanto que o Papa Francisco a proclamou Apóstola dos Apóstolos. 

Ainda temos duas outras cenas da relação de Jesus com as mulheres. A que Jesus encontra as mulheres durante sua caminhada para o calvário. E as mulheres que estavam aos pés da cruz.

No caminho para o calvário, um grupo de mulheres ia pelo caminho chorando. Ao que parece, isso era comum. Entretanto, Jesus não quer uma piedade que seja fingimento. É preciso olhar para a vida, para frente. Não basta chorar por ele. É preciso olhar para dentro de si, para sua casa, para sua família. 

Os discípulos, medrosos de morrerem, fugiram de todo o percurso da via-sacra. Somente as mulheres lá estavam. E mais uma vez, vemos várias mulheres sendo nomeadas até o fim com Jesus. Não tiveram medo de sofrerem as mesmas coisas que ele. O acompanharam até o fim na vida terrena, e depois, tiveram a sorte de serem as primeiras a verem Jesus.

Hoje fazemos memória a tantas mulheres que deram a vida pela inclusão feminina num mundo machista, numa sociedade patriarcal. Ainda estamos num processo de entender que homens e mulheres tem a mesma essência. São complementos. Não rivais.

Esse é um texto escrito por um homem. Com visão de homem. Mas que convive com mulheres que estão na vanguarda de seu tempo, e busca entender seus anseios.

Não é um texto teológico, como eu disse. É uma reflexão diante do que se dá aos nossos olhos. 

Salve Margarida Maria Alves, Ir. Dorothy Stang, Marielle Franco e tantas outras. 

Lembremos de Maria mãe de Jesus que em seu canto do Magnificat, reconheceu o braço poderoso de Deus que dispersa os ricos de mãos vazias, que alimenta os famintos, e que exalta os humildes.


Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria


Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 4,24-30

Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24'Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio.' 28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e  o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

Palavra da Salvação.

Jesus está em sua cidade natal. Onde havia sido criado. Ao olhar essa cena, sempre imaginei o seguinte, como somos nós em não reconhecermos nos nossos escolhidos a presença de Deus. Assim somos nós. Temos dificuldades em reconhecer aqueles e aquelas que conhecemos, como missionárias e missionários de Deus.

A missão do profeta é mostrar que várias vezes nós nos afastamos daquilo que Deus espera de nós. E isso, choca, causa estranheza, repulsa, indignação, raiva. 

A fala de Jesus chocou a sua comunidade. Jesus estava recordando que no tempo de Elias e Eliseu Deus os enviou aos estrangeiros para serem curados e alimentados. Eles não conseguiram perceber que Deus é Deus de todos, e não só dos judeus. Cristo é de todos, e não só dos católicos, dos protestantes, de outras denominações. 

Jesus tem uma proposta de vida, um jeito de se viver a nossa humanidade. Ele não pode ser aprisionado por dogmas, por leis, por doutrinas. Deus é tudo em todos. 

No nascimento de Jesus, ouvimos os anjos dizerem, "e aos homens de boa vontade". Ser um pessoa de boa vontade é ser solidário com a dor de quem quer que seja. É chorar com os que choram. É estar ao lado daqueles e daquelas que lutam por vida, por dignidade. É consolar os aflitos. É dar de comer aos famintos. É vestir os nus. É defender o meio ambiente, nossa Casa Comum. É construir pontes, e derrubar muros.

Ser uma pessoa de boa vontade, é se alegrar com todas e todos. É festejar a vida, independentemente da religião que se professa; até dos que se dizem ateus. Ser uma pessoa de boa vontade é compartilhar a vida.

E foi isso que Jesus disse aos seus compatriotas. Deus é "Pai Nosso". E como tal, não faz acepção dos seus filhos e filhas. E isso chocou. Causou estranheza. Ainda nos nossos dias vemos esse tipo de atitude. Pessoas que se fecham em sua certezas falhas. Pessoas que se fecham em suas doutrinas. Que discriminam, excluem. Que valorizam a cor da pele em detrimento do ser humano.

No nosso caminho quaresmal, somos chamados e chamadas a ouvirmos a voz de Deus, e acolhermos a todas e a todos. Jesus é Deus conosco, e não Deus com alguns.

domingo, 7 de março de 2021

Destruí este templo, e em três dias o levantarei!


Iniciamos a 3ª semana da Quaresma. Continuamos nosso caminho rumo à Pascoa.

Estamos diante de três leituras significativas para nós nesse itinerário.

A primeira leitura, tirada do livro do Êxodo, o livro que narra a libertação da escravidão, nos mostra a legislação da nova humanidade.

A segunda leitura, tirada do livro aos Coríntios, narra quem é Jesus. Paulo está diante de uma comunidade onde estão gregos e judeus. Cada um como uma visão distinta da divindade. Paulo precisava unificar essas ideias de Deus para que a comunidade pudesse seguir unida em Jesus.

No evangelho, temos uma cena que a muitos de nós descontrói a figura do Jesus manso e humilde.

Vejamos.

Devemos lembrar que os livros do Pentateuco foram escritos após o exílio da Babilônia. Período duro. O povo teve contato com uma nação politeísta, que cultuava o rei como um deus, tal como no Egito. Era preciso resgatar a fé dos hebreus no Deus único. Se Ele libertou o povo das mãos do faraó, por analogia, ele liberta o povo dos babilônios.

Essa libertação é simbolizada pela nova regra de vida, a chamada Lei de Deus. Assim, a primeira coisa que devem lembrar, ou relembrar, é que não existem "deuses". Só há um. Esse tem a força de libertar da escravidão, seja ela do Egito, seja ela da Babilônia, seja de qualquer outro tipo de escravidão, inclusive a escravidão dos preconceitos, dos racismos, da indiferença, da soberba, da homofobia, da misoginia. Além disso, Deus diz que não se deve prostrar diante de nenhum outro deus, nem mito.

Na nova terra, na nova humanidade, as relações sociais deverão ser de outro tipo.

"Não matarás", nem defenderás nada que possa provocar morte de alguém, ou do meio ambiente.

"Não cometerás adultério". Claro que se fala da relação homem-mulher. Entretanto, existem tantas coisas que são adulteradas em nossos dias. Pesos, medidas, palavras. Negar a vida de um povo, falando contra vacina, é adulterar a verdade. As chamadas "fake news", ou notícias falsas, é adulteração da verdade. Enganar, é adulterar.

"Não furtarás". A cada um de nós nos foi dada a capacidade para viver. Não se precisa suprimir nada de ninguém. Portanto, corrupção, dinheiros roubados em grandes quantidades, supressão de material necessário em hospitais para vida, obras públicas paradas, desvalorização da vida, são uma forma de roubo também. Apoiar pessoas e grupos que vivam assim, é uma forma de roubar também.

"Não levantarás falso testemunho". Xiii. Quantas vezes fizemos isso? Quantas vezes, reproduzimos mentiras de outrem sem saber se aquilo é verdade? Jesus foi caluniado. Ele passou pelo falso testemunho. Os primeiros cristãos eram caluniados. Sofriam com as mentiras que se falavam deles. E nós hoje, como agimos? Como nos relacionamos diante disso?

"Não cobiçarás". E Deus faz uma lista do que vem a ser a cobiça: casa, mulher, escrava, jumento, ou qualquer outra coisa. A cobiça abre as portas para tudo o que veio antes: matar, cometer adultério, furtar, levantar falso testemunho. A cobiça é a porta para nos afastarmos de Deus. Foi pela cobiça de querer ser como Deus, que Adão e Eva cometeram o pecado original. Cuidado com a cobiça.

Na segunda leitura, Paulo destaca a visão que tanto judeus quanto gregos tem da vida. Os judeus querem sinais milagrosos. Estavam acostumados a ver pragas, mar se abrir, curas no deserto. Os gregos, ligados a sua racionalidade. E Paulo apresenta um Jesus crucificado. Um Deus rejeitado. Um Deus que pregado numa cruz morreu; então não era todo poderoso. Para os gregos, alguém que se entrega livremente à morte, não conseguem ver razão nisso, pois o primeiro impulso humano é defender a própria vida.

Paulo, então, destaca que para os "que são chamados", Cristo "é poder e sabedoria de Deus". Em Cristo estão reunidos judeus e gregos. Pois Deus, em Cristo, revela que ao que aos olhos humanos possa parecer insensatez, é "mais sábio do que os homens", e aquilo que possa ser fraqueza de Deus, "é mais forte do que os homens".

Cristo não segue a lógica humana. Deus não se enquadra nos padrões humanos. Por isso ele é poderoso ao vencer a dor da morte com a Ressurreição de Jesus. Ao morremos com Cristo, com ele ressuscitamos e somos mensageiros dessa esperança.

No evangelho, vemos um Jesus revoltado com o que ele encontra no Templo, na casa de oração. Um fato, com certeza, fica em nossa cabeça nesse texto, como poderia Jesus, manso e humilde, agir com tanta violência dentro do Templo?

Primeiro, muitas vezes, fazemos da religião comércio (dízimo é uma coisa, comércio é outra). Não devemos manipular a fé das pessoas para obter alguma vantagem financeira. Fazer uma campanha de arrecadação para uma obra social, um evento religioso de evangelização é uma coisa. Agora, tirar vantagem financeira disso, é outra. Jesus se revoltou e se revolta contra isso. A casa de Deus é casa de oração. A casa de Deus não é um mercado de negócios. Jesus tem zelo pelas coisas do Pai. Por aquilo que representa a presença de Deus no meio de nós. O templo deve ser conservado, mas não com o comércio que explora os mais pobres.

Em segundo lugar, Jesus dá um salto. Aprofunda a relação do templo com Ele. Ele é o templo. A nova Aliança.

E por último, Jesus sabia que as pessoas iam atrás dele não para mudarem de vida, não para criarem uma nova humanidade, mas o seguiam pelos sinais que ele realizava. Pelo pão que comiam, pelos doentes que eram curados.

 E por conhecer o coração humano, sabia que na primeira oportunidade de provação, essas pessoas se afastavam de Deus. E o evangelista diz que "Jesus não lhes dava crédito".

A liturgia pré-pascal de hoje nos convida a olharmos para nós e refletirmos: como estamos vivendo a lei de Deus em nossas vidas? (1ª leitura). Cristo é a fonte de tudo para mim, verdadeiramente? (2ª leitura). Como vivemos a nossa fé em Jesus, de forma comercial, ou com o coração sincero de quem se dispõem a assumir a proposta evangélica de Jesus no mundo de hoje, buscando instaurar o Reino de Deus, que prega a nova humanidade? Um Deus do diálogo que constrói pontes, ao invés de muros.

Aproveitemos esse período da Campanha da Fraternidade que nos convoca a sermos um em Cristo, e rezemos juntos.



sexta-feira, 5 de março de 2021

Este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 15,1-3.11-32
 

Hoje temos uma das mais belas passagens do evangelho, o conhecido texto do Pai Misericordioso. Um texto que marcou, e marca muitas pessoas pela atitude de um pai com seus filhos.

Um deles, o mais novo, eufórico com as coisas do mundo, com as coisas da vida, querendo "ganhar o mundo" através das riquezas, decidiu pedir a parte da herança que lhe cabia.

O pai tinha duas possibilidades. A primeira, negar. Dizer que não era ainda a hora da partilha. E a segunda, o que vemos na leitura de hoje. Dividiu os bens, e deu a parte da herança que cabia ao mais novo.

Aos nossos olhos, a história acabaria aí. Pronto. Herança dividida, aquele pai não teria mais compromisso com aquele filho. Com certeza, o irmão deve ter ficado perplexo com essa atitude.

Entretanto, Jesus quer destacar a ação do Pai. Alguns estudiosos dizem que provavelmente aquele pai ia todos os dias para o lugar mais alto da casa, ou até mesmo para estrada ver se aquele filho estava voltando.

Mas, a história nos conta que todo o dinheiro recebido foi gasto numa vida desenfreada. Não enumera o que ele fez. Só diz que caiu em miséria. E que fora cuidar de porcos, e comer a mesma comida que esses bichos. Aqui, acabe uma explicação, os judeus não comem carne de porco.

Aquele filho, então, lembrou-se que na casa do seu pai os empregados eram tratados com dignidade, e pensou em voltar. Mas como seria isso? Ele tinha perdido a herança, o anel de filho, a dignidade de membro daquela família. Como voltaria?

Então, pensou, volto e peço para ser tratado como um dos empregados, assim, terei dignidade na vida. 

Temos, a partir desse momento, o grande pulo do gato. A grande revelação de Jesus. Vendo o filho ainda longe, na estrada, voltando, foi ao seu encontro. É a primeira atitude de Deus Pai em relação a nós, Ele vem ao nosso encontro.

Em seguida, o filho disse, "perdoa-me, pequei contra ti, já não sou digno de ser chamada teu filho. Trata-me com um dos teus empregados".

O pai não lhe diz se o perdoou ou não. Simplesmente, pega o filho pelas mãos, chama os empregados. Manda que a ele seja devolvida a túnica e o anel de filho. Isso já bastava para o perdão paterno. 

Deus é assim. Ele não quer saber o que fizemos. Ele olha para a nossa miséria quando nos reconhecemos pecadores, e nos coloca, novamente, no lugar de filhos. Nos devolve a dignidade de filhos e filhas. E faz festa. Muita festa.

Eu poderia parar aqui. Mas, vamos adiante. Temos ainda a nossa representação nessa história, o filho mais velho.

Nesse momento da história, chega o filho mais velho. Ouve barulho de festa, música. E pergunta a um dos empregados o que estava acontecendo. O empregado narra que o irmão havia voltado, e que o pai havia mandado matar novilho novo, e fazer festas. O filho mais velho se recusa a entrar em casa.

O pai, então, vem ao seu encontro. Observe que a ação de ir ao encontro é sempre do Pai. Ele acolheu o filho perdido, e agora precisava acolher o filho revoltado, triste, chateado com a situação.

O filho diz, "esse teu filho gastou teus bens com prostitutas; e você manda fazer uma festa para ele"? O pai diz, "filho, tu sempre estivestes aqui. Tudo que é meu, é teu. Este teu irmão estava morto e voltou a vida, estava perdido e foi encontrado".

Mais uma vez, o pai recolhe da terra um dos filhos que poderia ficar perdido por causa do ciúme, da inveja, da raiva.

O texto não diz como acaba essa história. Mas fica para nós que nosso Deus, o Deus que Jesus veio revelar e mostrar o rosto, é um Deus que se alegra com a conversão. Um Deus que busca resgatar o que está perdido. Que vem ao nosso encontro. O pai do evangelho resgatou os dois filhos. O pai da parábola se importa com os dois filhos. Assim é Deus. Quer todos e todas juntos de si.

Nossa leitura deve nos levar a atitudes de misericórdia. Independentemente, da religião que as pessoas professam, e mesmo que não professem, elas devem ser respeitas. Jesus chamou ao resgate os que derem de comer aos famintos, de beber aos sedentos; que vestisse os nus; que fosse visitar os doentes, e consolar os encarcerados. Que acolhessem os peregrinos-refugiados-perseguidos. Lembremos, com a mesma medida com a qual medirmos, seremos medidos. Somos nós mesmos que produzimos nosso instrumento de medição.

Amém.

 Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 15,1-3.11-32

Naquele tempo: 1Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.' 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11'Um homem tinha dois filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: `Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 20Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho'. 22Mas o pai disse aos empregados: `Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: `É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'. 28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: `Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado'. 31Então o pai lhe disse: `Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado'.'

Palavra da Salvação.