quinta-feira, 29 de abril de 2021

Provei e vi

Do Diálogo sobre a divina Providência, de Santa Catarina de Sena

 (Cap. 167, Gratiarum actio ad Trinitatem:
ed.lat., Ingolstadi 1583, f.290v-291)

(Séc.XIV)

 Provei e vi

Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade, que pela união da natureza divina tanto fizeste valer o sangue de teu Filho unigênito! Tu, Trindade eterna, és como um mar profundo, onde quanto mais procuro mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de te procurar. Tu sacias a alma, mas de um modo insaciável; porque, saciando-se no teu abismo, a alma permanece sempre sedenta e faminta de ti, ó Trindade eterna, cobiçando e desejando ver-te à luz de tua luz.

 Provei e vi em tua luz com a luz da inteligência, o teu insondável abismo, ó Trindade eterna, e a beleza de tua criatura. Por isso, vendo-me em ti, vi que sou imagem tua por aquela inteligência que me é dada como participação do teu poder, ó Pai eterno, e também da tua sabedoria, que é apropriada ao teu Filho unigênito. E o Espírito Santo, que procede de ti e de teu Filho, deu-me a vontade que me torna capaz de amar-te.

 Pois tu, ó Trindade eterna, és criador e eu criatura; e conheci – porque me fizeste compreender quando de novo me criaste no sangue de teu Filho – conheci que estás enamorado pela beleza de tua criatura.

 Ó abismo, ó Trindade eterna, ó Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és um fogo que arde sempre e não se consome. Tu és que consomes por teu calor todo o amor profundo da alma. Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda frieza e iluminas as mentes com tua luz. Com esta luz me fizeste conhecer a verdade.

 Espelhando-me nesta luz, conheço-te como Sumo Bem, o Bem que está acima de todo bem, o Bem feliz, o Bem incompreensível, o Bem inestimável, a Beleza que ultrapassa toda beleza, a Sabedoria superior a toda sabedoria. Porque tu és a própria Sabedoria, tu,o pão dos anjos, que no fogo da caridade te deste aos homens.

 Tu és a veste que cobre minha nudez; alimentas nossa fome com a tua doçura, porque és doce sem amargura alguma. Ó Trindade eterna!

domingo, 25 de abril de 2021

Cristo, o bom pastor

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

(Hom. 14,3-6:PL76,1129-1130)
(Séc.VI)

Cristo, o bom pastor

Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, isto é, eu as amo, e minhas ovelhas me conhecem (Jo 10,14). É como se quisesse dizer francamente: elas correspondem ao amor daquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque ainda não conhece perfeitamente. Depois de terdes ouvido, irmãos caríssimos, qual é o perigo que corremos, considerai também, por estas palavras do Senhor, o perigo que vós também correis. Vede se sois suas ovelhas, vede se o conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se o conheceis, quero dizer, não só pela fé, mas também pelo amor, se o conheceis não só pelo que credes, mas também pelas obras. O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma ainda: Quem diz: “Eu conheço Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso (1Jo 2,4).

Por isso, nesta passagem do evangelho, o Senhor acrescenta imediatamente: Assim como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai e dou minha vida por minhas ovelhas (Jo 10,15). Como se dissesse explicitamente: a prova de que eu conheço o Pai e sou por ele conhecido, é que dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto eu amo o Pai.

Continuando a falar de suas ovelhas, diz ainda: Minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo 10,27-28). É a respeito delas que fala um pouco acima: Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem (Jo 10,9). Entrará, efetivamente, abrindo-se à fé; sairá passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pastagem no banquete eterno. Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que o segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.

Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto, meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho. Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir de chegar aonde deseja. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim.


quinta-feira, 22 de abril de 2021

Quem comer deste pão viverá eternamente


 Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 6,44-51

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: `Todos serão discípulos de Deus.' Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim. 46Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. 47Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. 50Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. 51Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo'.

Palavra da Salvação.

Existe uma relação direta entre o Filho e o Pai. Como já escrevi anteriormente, segundo Santo Inácio de Loyola, a encarnação da segunda pessoa da Trindade é uma decisão coletiva. O Filho revela o Pai. Mas, é o Pai que suscita nos corações o desejo desse encontro da humanidade com o Filho. Não basta aproximar-se do Filho. É preciso entender que o Filho e o Pai são um. E que o Filho não faz o que quer, mas aquilo que é desejo do Pai.

O Pai dá a vida. O Filho, alimenta a vida. Esse alimento é sua palavra. Quem come desse alimento não morrerá. Quem vive conforme Jesus instruiu, terá  vida eterna. Crer em Jesus é fazer-se um outro Cristo para a humanidade de nosso tempo. 

O alimento que recebemos de Jesus serve para irmos ao encontro dos nossos irmãos que sofrem, que passam fome, que tem sede, que estão nus, que estão privados da liberdade ou doentes. Que vagueiam pelo mundo por não ter um lugar para morar. 

terça-feira, 20 de abril de 2021

'Pão do céu deu-lhes a comer'


Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 6,30-35

Naquele tempo, a multidão perguntou a Jesus: 30'Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti?' Que obra fazes? 31Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: 'Pão do céu deu-lhes a comer'.  32Jesus respondeu: 'Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. 33Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.' 34Então pediram: 'Senhor, dá-nos sempre desse pão'. 35Jesus lhes disse: 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede.

Palavra da Salvação.

O pão traz em si uma simbologia fundamental para a nossa vida. O pão representa para nós a comida, o sustento, a força necessária para o trabalho e para nos colocarmos em prontidão para o louvor de Deus. Pão é vida, pão é sustento. Pão é partilha. Pão é solidariedade.

O pão dado por Deus, através de Moisés, durante a travessia do deserto foi um sinal muito forte. E mais interessante ainda, é notar que esse pão era diário. Cada pessoas deveria pegar aquilo que lhe fosse necessário para um dia; não poderia haver acúmulo. O maná estrava de um dia para outro. 

Os contemporâneos de Jesus lhe pedem um sinal. Muitas pessoas hoje querem sinais extraordinários. Muitos deixam de crer porque querem um sinal físico. Jesus alerta, "não só de pão vive o homem, mas de toda palavra da boca de Deus".

Observemos que Jesus diz que o pão verdadeiro é aquele que desce do céu e que dá a vida ao mundo. A vida brota das mãos de Deus. E Jesus é esse pão. Sua palavra, seus ensinamentos, sua vida. Sua proposta de construção de uma nova humanidade. 

Hoje em dia, transferimos isso para a eucaristia. Mas do que adianta alimentarmo-nos da eucaristia se não fazemos o que Jesus nos mandou? Do que adiante nos alimentarmos da eucaristias se ainda há filhas e filhos de Deus que passam fome, que não tem onde morar, que lhes falta a roupa para cobrir o corpo, o hospital para cuidar da saúde, o ambiente escolar para sua formação? 

O pão do céu é revolucionário. Aqueles que nos alimentamos desse pão devemos ser pessoas diferentes no mundo. Pessoas que agem para gerar vida, e não pessoas que defendam políticas públicas que geram morte e destruição. Se nos alimentamos desse pão descido do céu, se sentimos fome desse pão, não é para nossa satisfação; mas para termos forças para transformar o mundo. Rejeitar o mal. Assumir uma postura de partilhas, de fraternidade, de solidariedade. 

Hoje meditamos sobre o alimento. Sobre o pão. Lembre-se, ao pão descido do céu, precedeu o lava-pés. O pão descido do céu, levou a cruz. Ao pão descido do céu nos convoca à solidariedade, ao acolhimento, ao caminhar junto com todas as pessoas de boa vontade.

sábado, 17 de abril de 2021

Não tenhais medo, Sou Eu



Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 6,16-21

16Ao cair da tarde, os discípulos desceram ao mar. 17Entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo ao encontro deles. 18Soprava um vento forte e o mar estava agitado. 19Os discípulos tinham remado mais ou menos cinco quilômetros, quando enxergaram Jesus, andando sobre as águas e aproximando-se da barca. E ficaram com medo. 20Mas Jesus disse: 'Sou eu. Não tenhais medo'. 21Quiseram, então, recolher Jesus na barca, mas imediatamente a barca chegou à margem para onde estavam indo.

Palavra da Salvação.

Temos uma cena emblemática. Os discípulos de Jesus estão num barco. Estão indo para Cafarnaum. Estavam já a uma distância de 5Km de onde haviam saído. Um vento forte agitava a barca. Jesus vai ao encontro deles andando sobre o mar. E diz aos discípulos, "Não tenhais medo"!

Normalmente, se diz que a barca representa a Igreja. Não nego isso. Mas quero trazer para nós hoje uma outra perspectiva da barca. Já pensaram que a barca pode ser a nossa vida? A vida da humanidade? E que o vento são as nossas dores? 

Ao olharmos para a barca como sendo nossa vida, vemos que passamos por tantas agitações: doenças, guerras, mortes, corrupção, discriminações. E ali, bem diante de nós, está Jesus. E ele nos diz, "não tenhais medo, Sou Eu". Deus está junto de nós nos momentos de sofrimento pelos quais passamos. A barca de nossa vida é agitada pelas tormentas e pelos sofrimentos do mundo. 

Olhemos para a barca onde estavam os discípulos como nossa vida. O vento forte, as dores, os problemas, as dificuldades pelas quais passamos. E Jesus, diante de nós dizendo, "Não tenhais medo", "SOU EU".

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Jesus retirou-se de novo


Há uma música que diz, "bastariam cinco pães e dois peixes, e o milagre do amor, pra acabar com tanta fome, acabar com tanta dor".

Jesus está diante de uma multidão que o seguia. Essa multidão não estava preocupada com as palavras de Jesus. Mas, queriam ver sinais. Tal como hoje, as pessoas pensam em seus problemas individuais. Apesar de falarem que se preocupam com os outros, mas vão atrás de Deus para se sentirem bem, verem suas dores pessoais curadas, suas angústias acalmadas. 

O olhar de Jesus não é individual. Jesus, sendo Deus, olha para aquela multidão na sua totalidade. Olha-os como irmãos e irmãs, como filhas e filhos.

Preocupado com aquelas pessoas diante de dele, pergunta: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer'? Faz essa pergunta a Filipe, um dos discípulos. Quer ver se ele compreendeu o que aconteceu em Caná. Lembra-se da festa de casamento?

Entretanto, Filipe ainda não havia compreendido que estava diante dele. O discípulo não conseguiu perceber a dimensão de Jesus. Hoje, alguns de nós responderíamos, "Deus provê, Deus proverá". Mas Filipe, como todo ser humano, fez logo a conta de quantos pães seriam necessários para alimentar aquela multidão, e disse que nem duzentas moedas de prata seriam suficientes para tanto pão. Já parou para pensar quanto custa uma moeda de prata hoje, no Brasil, em reais? Em torno de 145 reais. Faça as contas. 145*200=29.000 (vinte e nove mil reais). Tudo isso para alimentar aquela multidão. A ideia do evangelista é mostrar que a ação de Deus não tem valor.

Aparece, então, a figura de um menino. De uma criança. De alguém sem valor naquela sociedade. Alguém que não valeria nem uma moeda de prata. Aparece esse menino, com cinco pães e dois peixes. 

Qualquer pessoa, com o mínimo de consciência, perguntaria o que foi perguntado, como vamos alimentar essa multidão somente com isso?

Aí segue o que conhecemos. Jesus ora ao Pai. Multiplica aqueles pães. Alimenta a multidão. 

Mas, é para o fim do evangelho de hoje é que devemos voltar nossa atenção. João diz que quando Jesus percebeu que estavam querendo proclama-lo rei, ele se retirou. Jesus não veio para ocupar lugar de destaque no mundo. Jesus se fez homem para ir ao encontro dos perseguidos, dos esquecidos, dos que sofrem injúrias. Veio veio para caminhar no meio dos pecadores. Ele deixou-se contaminar pelas impurezas humanas para pode resgata-los. Não veio para ocupar tronos, ou lugar de destaque. Era um verdadeiro profeta, que anuncia aquilo que lhe mandado fazer. Anuncia que o Reino dos Pobres, ou dos que se fazem como ele. O Reino é dos rejeitados. Dos discriminados.

A multiplicação dos pães é interessante. É Deus quem nos alimenta, "o pão nosso de cada dia nos dai hoje". Mas, devemos olhar para o Jesus que buscou as glórias das obras que realizava, mas a humildade do servo sofredor. O anonimato do servo inútil que fazia aquilo que era sua obrigação. 

Jesus não é rei, é servo!

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 6,1-15

Naquele tempo: 1Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades. 2Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes. 3Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. 5Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' 6Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. 7Filipe respondeu: 'Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um'. 8Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: 9'Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?' 10Jesus disse: 'Fazei sentar as pessoas'. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. 11Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. 12Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: 'Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!' 13Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. 14Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: 'Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo'. 15Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

Palavra da Salvação.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro


Continuamos no evangelho de João. Da mesma forma que ele faz o oposição entre luz e trevas, ele nos leva a refletir sobre a palavra de Deus e a palavra do mundo, "das coisas da terra".

Lembremos que o evangelho de João é um evangelho que nos leva a um aprofundamento de nossa fé. Para João, Jesus veio ao mundo para dar "testemunho daquilo que viu e ouviu". Entretanto, "ninguém aceita esse testemunho". Ele nos instiga a pensarmos se damos crédito às palavras de Jesus, ou não.

Joao nos diz que "quem aceita o seu testemunho (de Jesus) atesta que Deus é verdadeiro". Todas e todos que dão crédito ao testemunho dos discípulos, atestam "que Deus é verdadeiro". Todas e todos que aceitam a palavra da igreja, da comunidade, atestam "que Deus é verdadeiro".

Podemos nos perguntar, mas qual palavra de Deus? Jesus disse que ele fala das coisas do alto, e o que significa isso? Paulo, na carta aos Gálatas, nos dá essa resposta. Ele diz que as pessoas que vivem pelo extinto egoísta são aquelas que vivem e praticam as coisa da terra: "fornicação, impureza, libertinagem, 20 idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, sectarismo, inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes".

Por outro lado, aqueles que deram crédito ao testemunho de Jesus, e que aceitaram viver essa palavra, passaram a ser mulheres e homens que dão os frutos conforme o Espírito: "amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, 23 mansidão e domínio de si".

Hoje, ainda dentro do tempo Pascal, somos chamados a pensarmos como estamos vivendo essa palavra de Jesus que dizemos ter aceitado.

Reflita sobre isso hoje. Deixe-se moldar pela mulher e homem novos. É hora de construirmos a nova humanidade. A nova sociedade, onde não haja racismo, misoginia, homofobia, destruição do meio ambiente. Onde a fabricação de armas não seja uma prioridade. Onde a defesa da vida seja o principal ponto da nossa existência. 

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,31-36

31- 'Aquele que vem do alto está acima de todos. O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos. 32Dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. 33Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro. 34De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. 35O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão. 36Aquele que acredita no Filho possui a vida eterna. Aquele, porém, que rejeita o Filho não verá a vida, pois a ira de Deus permanece sobre ele'.

Palavra da Salvação.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Quem pratica o mal odeia a luz


O evangelho de hoje nos leva a várias reflexões possíveis. Depende de como olhamos a palavra de Deus. Depende do que "buscamos" na palavra de Deus.

Quero partilhar com vocês uma frase que me chamou a atenção, "Quem pratica o mal odeia a luz" (20). O evangelho de João é permeado pela dicotomia trevas x luz, desde o início.

Jesus fala em praticar o mal. Isso pode nos confundir. Mas essa palavra é bem clara. Quais são as ações de quem pratica o mal? Enumero algumas: não dar de comer a quem tem fome; não dar de beber a quem tem sede; não vestir os nus; não consolar os doentes e encarcerados; não acolher os refugiados-peregrinos. 

Ainda mais, lembremos que aqueles que são da luz vivem as bem aventuranças, ou seja, são misericordiosos, são promotores da paz, são mansos, são os que têm fome e sede de justiça, são os perseguidos por causa da justiça.

Paulo ao escrever aos Gálatas, diz que os frutos do Espírito (luz) são, "amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si" (Gal 5,22-23). Em oposição às obras das trevas que ele chama de "instintos egoístas": "as obras dos instintos egoístas são bem conhecidas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, sectarismo, inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes".

Obras das trevas são a negação da vacina contra a covid para toda a população brasileira. Os atos de corrupção que desviam verbas públicas da saúde, prejudicando milhares de vida dos pobres; atos de incentivo a violência; defesa de armar a população; desvalorizar a ciência, a cultura e a educação. Propor leis que permitam a destruição do meio ambiente, nossa Casa Comum (Papa Francisco). Ações homofóbicas, misóginas, racistas. E muitas outras ações.

Deus é Pai de todas e de todos. É Pai Nosso. Todas e todos somos suas filhas e filhos. Faça um exame de consciência, veja que ações das trevas você ainda pratica, e peça a Deus que lhe ajude a ser um cristão, uma cristã, uma pessoa melhor.

Deus lhe abençoe.

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3,16-21

16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. 19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.

Palavra da Salvação.

domingo, 11 de abril de 2021

2º Domingo da Páscoa - Festa da Divina Misericórdia


Hoje estamos celebrando o Domingo da Divina Misericórdia. Festa instituída por São João Paulo II em 2000, quando da canonização de Madre Maria Faustina.

Os papas, iluminados pelo Espírito Santo, são inspirados a instituírem festas e celebrações que nos recordam as ações de Jesus, ou que nos fazem lembrar que ser cristão católico é viver a caridade com o próximo. Exemplo, a instituição do dia do Pobre pelo Papa Francisco, a ser celebrada no último domingo do Tempo Comum, o domingo que antecede a Solenidade de Cristo Rei.

Jesus veio chamar os que estavam perdidos. Jesus veio para os doentes, para os pecadores, para os afastados da graça de Deus. Jesus veio mostrar que Deus é Pai de todas e de todos. Veio liberta da lei e da doutrina que escraviza e discrimina as pessoas. Veio mostrar a piedade divina para com a humanidade.

Ao celebramos o 2º Domingo da Páscoa, e fazermos memória da Misericórdia de Deus, somos chamados a olhar para nós, em particular, e pensarmos: como vivemos a misericórdia de Deus? 

João narra a aparição de Jesus aos seus discípulos. Estes estavam com medo. Medo de serem perseguidos, de passarem pela tortura, de morrer na cruz, como um bandido. A morte de Jesus ainda era muito recente. Tudo muito próximo. O medo fez com que eles se trancassem. 

Entretanto, nada pode prender Jesus ressuscitado. A ressurreição deu a Ele domínio sobre o tempo e espaço. 

Jesus entra no lugar onde estão os discípulos. Se coloca no meio deles. E deseja a Paz. Observemos que o medo tira de nós a paz; paz que testemunha a vida de Jesus. 

Jesus diz, "A paz esteja convosco". Nós não alcançamos o valor e significado dessa saudação. Ela é muito mais do que simplesmente a ausência de conflito. A paz hebraica é sinal de libertação. Libertação da escravidão. Libertação de tudo que possa oprimir os seres humanos. A paz de Jesus liberta da opressão da lei, da opressão da discriminação. É uma paz que impulsiona para ir ao encontro dos outros.

A paz dada por Jesus é fruto do Espírito Santo. Foi esse mesmo espírito que fez Jesus agir, curar, libertar, ressuscitar.

Não há paz sem perdão. Sem misericórdia. Por isso, os discípulos recebem o poder de perdoar os pecados. Todos os que estavam naquele lugar receberam esse poder. De nada adianta você pedir perdão se você não perdoa. A partir daquele momento, eles passam a ser missionários da misericórdia. Do perdão. E nós o somos também.

Porém, temos um ruído nessa comunicação, Tomé. Ele não estava junto com os discípulos quando Jesus apareceu. Quando ouviu que Jesus esteve ali, ele duvidou. 

É preciso que toda a comunidade dos seguidores de Jesus creiam na ressurreição. Por isso, Jesus retorna uma semana depois. Deixou Tomé pensando no fato que lhe fora narrado. Mas ele queria uma comprovação física. E nós conhecemos a história.

Tomé crê porque viu. Mas, Jesus diz que bem-aventurados são aqueles que creem sem verem. Lembremos que os evangelhos são escritos para as comunidades que os discípulos iam formando. Era importante que as pessoas que iam se agregando ao ensinamento dos discípulos entendessem o que era ser cristão. No nosso caso, hoje, é ser missionário da paz. Da paz que perdoa. Que inclui. Que acolhe a todas e a todos. Que age onde o Espírito Santo indica.

Vivamos a misericórdia. Assumamos a nossa cruz. Cristo Ressuscitou para a nossa paz.

Bom domingo. Deus lhe abençoe.

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-31

19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: 'A paz esteja convosco'. 20Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: 'A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio'. 22E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos'. 24Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25Os outros discípulos contaram-lhe depois:  'Vimos o Senhor!'. Mas Tomé disse-lhes: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei'. 26Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: 'A paz esteja convosco'. 27Depois disse a Tomé: 'Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel'. 28Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!' 29Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' 30Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

Palavra da Salvação.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

'Vinde comer'


Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 21,1-14

Naquele tempo: 1Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim: 2Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de Jesus. 3Simão Pedro disse a eles: 'Eu vou pescar'. Eles disseram: 'Também vamos contigo'. Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite. 4Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. 5Então Jesus disse: 'Moços, tendes alguma coisa para comer?' Responderam: 'Não'. 6Jesus disse-lhes: 'Lançai a rede à direita da barca, e achareis.' Lançaram pois a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes. 7Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: 'É o Senhor!' Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar. 8Os outros discípulos vieram com a barca, arrastando a rede com os peixes. Na verdade, não estavam longe da terra, mas somente a cerca de cem metros. 9Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão. 10Jesus disse-lhes: 'Trazei alguns dos peixes que apanhastes'. 11Então Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rompeu. 12Jesus disse-lhes: 'Vinde comer'. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. 13Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe. 14Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.

Palavra da Salvação.

A semana logo após a celebração da Páscoa é chamada de Oitava de Páscoa. É um grande dia, celebrando durante uma semana. A liturgia coloca nessa semana todas as narrativas dos evangelhos que tratam da ressurreição de Jesus.

A leitura de hoje se apresenta à beira do mar. Aqueles que somos moradores das cidades litorâneas entendemos bem isso. Jesus está à beira mar não para fazer férias, nem tomar um sol para produzir vitamina D (risos). Ele está aguardando seus discípulos no local de trabalho deles. 

Os discípulos, mesmo tendo sabido que Jesus havia ressuscitado, voltaram para a vidinha sem graça do dia-a-dia. Ainda não haviam percebido o significado de serem testemunhas vivas desse fato. Nem de que eles eram os continuadores da missão de Jesus.

Os discípulos foram pescar. Normal. Não era uma pesca recreativa. Era uma pesca de sobrevivência. Observemos que João enumera sete discípulos nessa atividade pesqueira. Ele nos narra que Pedro disse que iria pescar, e eles se colocaram junto nessa empreitada. Quando perdemos a direção de algo novo em nossas vidas, voltamos ao passado. Àquilo que sabemos fazer, ou que fazíamos antes do encontro com Jesus. Cada momento de nossas vidas acontece num determinado espaço de tempo. As práticas do passado não servem hoje. Mas nos ajudam a encontrar respostas para os novos desafios que surgem.

A pesca não foi produtiva. O retorno às atividades do passado não servem mais como resposta para os novos desafios que se aparecem. É preciso mudar a prática.

Ao retornarem à terra, eles dão de cara com Jesus, mas não o reconhecem. Jesus pede o fruto do trabalho deles. Mas os discípulos informam que não houve êxito, e nada havia sido pescado. 

Pois bem, Jesus sugere que se jogue a rede do lado oposto do barco. Eles se distanciam, não muito longe, cerca de cem metros, e fazem o que Jesus pediu. Qual surpresa não foi quando as redes se encheram de peixes.

Um dos discípulos, João, diz a Pedro que na praia estava Jesus. Pedro, após se vestir, lança-se ao mar. Essas duas imagens são muito significativas. Primeiro, João, reconhece o senhor logo que as redes começam a se encher de peixes. Comunica a Pedro que é Jesus na praia. Pedro, então, se lança ao mar. Pedro sabe que é preciso se lançar, se jogar, não ter medo do mar. Nada pode se colocar entre ele e Jesus. A roupa é um mero detalhe. Isso pode ser refletido em outro momento.

As redes estão cheias. É preciso ajuda para traze-la à praia. Ao chegarem à praia, encontram Jesus com uma pequena fogueira, sobre ela uma grelha e peixe. Mas, mesmo assim, ele pede um pouco do peixe que os discípulos trouxeram. Jesus quer contar com nossos esforços na propagação da Palavra de Deus, na construção da nova humanidade.

João diz que essa foi a terceira aparição de Jesus. 

Quantas vezes, Jesus se apresenta a nós e não o reconhecemos? Há uma canção que diz que Jesus está entre nós na pessoa dos famintos, nos desempregados, está em todas e todos que são discriminados. E a mesma canção diz, "entre nós está, e não o conhecemos; entre nós está, e nós o desprezamos".

Celebrar a ressurreição de Jesus é praticar as obras de misericórdia que ele nos ensinou a praticar: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar abrigo aos peregrinos; visitar os encarcerados; libertar os cativos; enterrar os mortos. E mais ainda, dar bons conselhos; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; ; sofrer com paciência a fraqueza do próximo; rogar a Deus pelos vivos e mortos.

Se ressuscitamos com Jesus, após passarmos pelas nossas paixões e mortes, devemos ser mensageiros da Nova Humanidade, missionários da Civilização do Amor.

domingo, 4 de abril de 2021

Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,1-9

1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: 'Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram.' 3Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. 9De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.

Palavra da Salvação.

O evangelho de hoje abre falando da Apóstola dos Apóstolos, como disse o Papa Francisco, Santa Maria Madalena.

Madalena, mulher guerreira. Fiel à Jesus. Esteve aos pés da cruz. Acompanhou Jesus desde sua conversão. Ela é a segunda testemunha da ressurreição. Explico. Segundo Santo Inácio de Loyola, nos Exercícios Espirituais, ele afirma que, sendo Jesus um bom filho, apareceu primeiro a sua mãe.

Madalena vai ao grupo dos apóstolos. Anuncia o que não viu, Não vira o senhor no túmulo. Onde o haviam colocado?

Diante dessas palavras, o evangelista narra que Pedro, e o outro discípulo que amava Jesus, foram correndo. 

Interessante observar, que na construção da ideia da primazia de Pedro sobre os outros apóstolos, João diz que o apóstolo que Jesus amava chegou primeiro, mas que este esperou Pedro para entrar no túmulo.

Jesus não está no túmulo. Venceu a morte. Superou. 

Cristo está no meio de nós. Jesus ressuscitou e se faz presente nos famintos, nos sedentos, nos sem roupa, nos doentes, nos encarcerados, nos refugiados. Cristo está presente em todas e todos que são excluídos, que são discriminados pela cor da pele, que sofrem assédio por serem mulheres. Que morrem pelas mãos do braço armado do estado. 

Cristo está no meio de nós. Ressuscitou. Basta que o reconheçamos. 

Foi por causa dessa mulher destemida, que ficamos sabendo da ressurreição de Jesus. 

sábado, 3 de abril de 2021

Sábado Santo - A descida do Senhor à mansão dos mortos


De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo

(PG43,439.451.462-463)               (Séc.IV)

A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

Oremos: Pai, cheio de bondade, vosso Filho unigênito desceu à mansão dos mortos e dela surgiu vitorioso; concedei aos vossos fiéis, sepultados com ele no batismo, que, pela força da sua ressurreição, participem da vida eterna, com ele. Que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Sexta-feira Santa - As Sete Palavras de Cristo na Cruz


É um costume cristão meditar sobre as palavras de Cristo na cruz na Sexta-feira Santa.

O Centro Loyola de Fé e Cultura, no seu site, tem uma meditação sobre cada uma das palavras de Cristo na cruz. Vou deixar aqui o link. A seguir, pegando a ideia do site, deixarei minha meditação pessoal. 

1. PERDÃO. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”(Lc 23,34)

A missão de Jesus foi mostrar a misericórdia de Deus diante do perdão dos pecados, e a recondução dos pecadores para a inserção na sociedade. 

Santo Inácio de Loyola, nos Exercícios Espirituais, na meditação sobre a encarnação, diz que a Santíssima Trindade, ao ver que a humanidade se precipitava no inferno, decidiu pela encarnação da segunda pessoa, o filho.

Sendo assim, Deus Pai, reflete sua misericórdia através do Filho.

2. CONTIGO. “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43)

Se olharmos atentamente a vida de Jesus, veremos que ele nunca esteve em companhia de reis, dos líderes religiosos, dos chefes do povo. Ele estava ao lado dos excluídos do seu tempo. Vivia juntos aos leprosos, aos cegos, aos coxos, aos cobradores de impostos, às prostitutas. Sim. Isso pode nos escandalizar, mas essas eram as pessoas com as quais Jesus convivia. 

Lá na cruz não foi diferente. Lucas narra que Ele fora crucificado entre dois criminosos. Então, ele narra que um zombava de Jesus. Mas o outro, reconheceu quem aquele Homem não havia cometido nenhuma crime. Acreditou, mesmo estando na cruz. E lhe fez o pedido que todos deveriam fazer, "quando estiveres no teu Reino, lembra-te de mim".

E a promessa, "ainda hoje estarás comigo no paraíso".

3. APOIO. “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo 19,26)

A caminhada da fé não se faz sozinho. A presença da comunidade é importante e fundamental para o testemunho. Um sustenta o outro. Na oração, na convivência, no alimentar, no saciar a sede, no vestir os nus. No acolhimento a todos e todas excluídas e excluídos. 

Jesus sabia que seria difícil para a mãe não ter mais o filho. E sabia que o filho não suportaria a vida sem a mãe. 

Era preciso ter apoio mútuo.

Pela cruz aprendemos que a solidariedade é fundamental para a vida humana. Aprendemos que devemos solidários com os mais necessitados. Que temos que se solidários com as famílias que perdem seus filhos e filhas para a violência, principalmente, a violência do Estado que nega o direito à vida por falta de medicação.

Mãe e Filho se apoiam.

4. SOLIDÃO. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46)

Momento decisivo na vida de cada um de nós. Quantas vezes, ouvimos as pessoas dizerem, "faço tanto coisa pela Igreja, e não recebo nem um obrigado". Quantas vezes, resmungamos diante da indiferença dos outros.

Imaginemos Jesus na cruz. Depois de tanta coisa boa que ele fez, acabar como um criminoso, que dureza. Sentiu-se, naquele momento, abandonado por Deus. 

Tantas vezes, sentimos Deus longe de nós. Tudo perde sentido. A oração pessoal, a vida, o trabalho pastoral.

É hora de meditar sobre nosso sentimento de abandono.

5. SEDE. “Tenho sede...” (Jn 19,28)

Sede do quê? Sede de justiça. Sede de compreensão. Sede de fé. Sede de água. Sede do Reino de Deus.

"Tenho sede". Que sede eu tenho? Olhamos Jesus na cruz. Olhamos para nós mesmos. Penso nas minhas sedes. Quem sacia minha sede?

6. COMPROMISSO. “Tudo está consumado” (Jo 19,30)

Após sentir  ausência de Deus; depois de sentir sede de Deus, chega a glorificação do Filho. Tudo está consumado. Consumido pela vida, consumido pela paixão, consumido pela cruz, "Tudo está consumado". Missão cumprida. É hora de voltar para o Pai. É hora de assumir o Reino. É hora de resgatar todas e todos que esperavam a consumação da salvação. É hora de resgatar Adão e Eva. Levá-los de volta ao paraíso.

7. SENTIDO. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46)

Em tuas mãos devolvo a minha vida. A dor do abandono, a sede, e o compromisso me fazem ver que foi para essa hora que eu vim. O Filho conhece o Pai. O Pai conhece o Filho. O Filho revela o Pai, o Pai se compraz no Filho e coloca nele todo a sua afeição. 

Entregar-se a Deus. Deixar Deus agir sempre. 

Até na cruz  Jesus deixa sua mensagem. Até na cruz ele anuncia o Reino de Deus. Até na cruz, ele nos deixa o exemplo de como devemos passar pelo sofrimento colocando nossa esperança nas mãos de Deus.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Quinta-feira Santa, Missa do Lava-pés. vós deveis lavar os pés uns dos outros


Iniciamos hoje o Tríduo Pascal. 

A missa dessa noite é chamada de instituição da eucaristia, ou missa do lava pés.

Valorizamos muito a eucaristia. Mas esquecemos que eucaristia é serviço. A cena narrada por João não fala da ceia. Fala que Jesus cingiu a cintura, colocou uma tolha, prostrou-se aos pés dos discípulos e lavou lhes os pés. 

É essa a cena que vemos. Deus se prostrando diante da humanidade, representada pelos discípulos.

O leitura se encerra com, "vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz". É esse o sentido do evangelho. Seremos cristãos verdadeiros quando nos prostrarmos diante uns dos outros para lavar os pés de cada uma das pessoas que estão diante de nós, ou que vem aos nosso encontro. Quando a ideia do outro for mais importante que a minha. Quando abrirmos mão das nossas leis e doutrinas para acolhermos os explorados, os perseguidos, os rejeitados. 

Olhar a cena de Jesus prostrado diante de nós é para refletirmos sobre nossas práticas pastorais. Sobre nossos serviços na Igreja. Sobre o serviço à vida, vida que, durante a pandemia, exige de nós resguardamos os outros, usando máscara e ficando em casa, e evitando aglomeração. Exigindo vacina! Não aceitando políticas públicas genocidas. 

Deixemos a cena falar ao coração. Eucaristia é muito mais do que um pedaço de pão consagrada. Eucaristia é serviço. Adorar o Santíssimo Sacramento é se colocar diante dos irmãos e irmãs que sofrem, e são excluídos. 

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 13,1-15

1Antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 3Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, 4levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. 6Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: 'Senhor, tu, me lavas os pés?' 7Respondeu Jesus: 'Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás.' 8Disse-lhe Pedro: 'Tu nunca me lavarás os pés!' Mas Jesus respondeu: 'Se eu não te lavar, não terás parte comigo'. 9Simão Pedro disse: 'Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.' 10Jesus respondeu: 'Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos.' 11Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: 'Nem todos estais limpos.' 12Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: 'Compreendeis o que acabo de fazer?' 13Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. 14Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz.

Palavra da Salvação.