sábado, 13 de junho de 2020

Somos a família de Deus!

11º Dom Tempo Comum 14 de junho de 2020
Ex 19,2-6a Sl 99 Rm 5,6-11 Mt 9,36-10,8
Somos a família de Deus!
Reimont

No ano 2000 escrevi uns textos que me atrevi a juntar e chamar de livro. Foi uma experiência incrível, ao passo que fui me dando conta de que o tema “Pai” me era muito desconhecido. Minhas categorias eram somente aquelas da minha relação com meu pai e com outros dos quais me aproximei e com quem convivi.

Dois destaques me saltaram aos olhos e ao coração.

O primeiro foi que nossas categorias humanas de paternidade, liberdade, bondade, fidelidade... estão muito distantes do seu real significado quando são atribuídas a Deus.

O segundo eu o trago destacando um trecho do próprio livro: “Deus é o Pai de todos. Esta é uma afirmação revolucionária: pai/mãe do homem, da mulher, da criança, do jovem, do idoso, do índio, do negro, do branco, do mestiço, do morador de rua, da prostituta e do prostituto, do homossexual, do que crê, do ateu, de quem agride e de quem é agredido, do que morre e do que mata, Pai de todos.” Hoje eu diria que é pai de quem morre de Covid19 e de quem, tendo a obrigação de proteger a sociedade, lava suas mãos e a encaminha para a morte.

A reflexão deste domingo que nos faz retomar, na liturgia, o tempo comum, afirma a generosidade do amor de Deus, seu cuidado e compaixão para com o povo. O livro do Êxodo apresenta a saída da escravidão do Egito, a caminhada e a presença de Deus, propondo sua aliança como que marcando o nascimento do povo de Deus.

Ele toma sempre a iniciativa. Quer ter o povo como sua família e manda um recado por Moisés: “Vistes o que fiz aos egípcios, e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a mim.” (Ex 19,4)

A analogia da águia leva o povo a compreender que Deus lhe dará proteção incondicional pois é isso que ela faz com seus filhotes. No entanto, não há uma imposição, mas, uma condição: “se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança”

Vou lembrar aqui o que sempre digo: não tenho e nunca tive a pretensão de esgotar o que se entende por um texto bíblico. Minha reflexão é de mística e espiritualidade, aquela que visa nos dar um chão para pisar e uma disposição para mudar este chão com a construção da justiça do Reino de Deus.

Portanto, eu e você somos o povo de Deus. Somos nós os que Ele carrega nas asas como faz a águia. É a nós que Ele propõe ouvir a sua voz e guardar a sua aliança. Ele é o Abba, o Pai de todos e todas, sem nenhuma distinção.
No evangelho de Mt 9 Jesus sente compaixão do povo que parece ovelha sem pastor.

Compaixão para Ele não é um sentimento vazio. Jesus tem as entranhas contorcidas. O mais central de sua humanidade percebe o sofrimento das pessoas. Como Javé no deserto percebe os descaminhos de seu povo e toma uma atitude ao propor aliança, Jesus não fica estático ao perceber o sofrimento do povo que vaga como ovelha sem pastor. Age imediatamente, chama os discípulos, afirma que a messe é grande e os operários poucos e os envia em missão para proclamarem a justiça do Reino.

 Novamente, entramos em cena. Somos convidados a assumir a missão que os discípulos outrora assumiram: anunciar o Reino na vivência da prática cristã do seguimento de Jesus. Isto é um privilégio e ao mesmo tempo, uma responsabilidade que nosso batismo nos impõe.

Para que nossa responsabilidade não seja tomada como um peso insuportável, devemos sempre nos lembrar que Deus nos ama e caminha conosco. Quando estávamos atravessando o deserto, conduzidos por Moisés, Ele se apresentou como nossa família e nos prometeu fidelidade; sabemos que Ele é fiel.

O apóstolo Paulo na carta aos Romanos vem nos afirmar que fomos reconciliados definitivamente com Deus pela morte de seu filho. “ ... a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós ...” (Rm5,8)

Esta reflexão de hoje me leva a pensar: acho que vou retomar aqueles textos do livro do Pai e partilha-los com meus amigos e amigas.

Talvez façamos um encontro de relançamento onde pode nos caber alguma atualização e contextualização, mas, também nos caberá afirmar o cerne do que lá está: Deus é Pai de todas e todos! Somos o seu povo! Seu amor é incondicional!

Como a águia cuida de seus filhotes, Deus cuida de nós!

Rio de Janeiro, 06 de junho de 2020
Reimont – Paz e bem!

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