domingo, 7 de março de 2021

Destruí este templo, e em três dias o levantarei!


Iniciamos a 3ª semana da Quaresma. Continuamos nosso caminho rumo à Pascoa.

Estamos diante de três leituras significativas para nós nesse itinerário.

A primeira leitura, tirada do livro do Êxodo, o livro que narra a libertação da escravidão, nos mostra a legislação da nova humanidade.

A segunda leitura, tirada do livro aos Coríntios, narra quem é Jesus. Paulo está diante de uma comunidade onde estão gregos e judeus. Cada um como uma visão distinta da divindade. Paulo precisava unificar essas ideias de Deus para que a comunidade pudesse seguir unida em Jesus.

No evangelho, temos uma cena que a muitos de nós descontrói a figura do Jesus manso e humilde.

Vejamos.

Devemos lembrar que os livros do Pentateuco foram escritos após o exílio da Babilônia. Período duro. O povo teve contato com uma nação politeísta, que cultuava o rei como um deus, tal como no Egito. Era preciso resgatar a fé dos hebreus no Deus único. Se Ele libertou o povo das mãos do faraó, por analogia, ele liberta o povo dos babilônios.

Essa libertação é simbolizada pela nova regra de vida, a chamada Lei de Deus. Assim, a primeira coisa que devem lembrar, ou relembrar, é que não existem "deuses". Só há um. Esse tem a força de libertar da escravidão, seja ela do Egito, seja ela da Babilônia, seja de qualquer outro tipo de escravidão, inclusive a escravidão dos preconceitos, dos racismos, da indiferença, da soberba, da homofobia, da misoginia. Além disso, Deus diz que não se deve prostrar diante de nenhum outro deus, nem mito.

Na nova terra, na nova humanidade, as relações sociais deverão ser de outro tipo.

"Não matarás", nem defenderás nada que possa provocar morte de alguém, ou do meio ambiente.

"Não cometerás adultério". Claro que se fala da relação homem-mulher. Entretanto, existem tantas coisas que são adulteradas em nossos dias. Pesos, medidas, palavras. Negar a vida de um povo, falando contra vacina, é adulterar a verdade. As chamadas "fake news", ou notícias falsas, é adulteração da verdade. Enganar, é adulterar.

"Não furtarás". A cada um de nós nos foi dada a capacidade para viver. Não se precisa suprimir nada de ninguém. Portanto, corrupção, dinheiros roubados em grandes quantidades, supressão de material necessário em hospitais para vida, obras públicas paradas, desvalorização da vida, são uma forma de roubo também. Apoiar pessoas e grupos que vivam assim, é uma forma de roubar também.

"Não levantarás falso testemunho". Xiii. Quantas vezes fizemos isso? Quantas vezes, reproduzimos mentiras de outrem sem saber se aquilo é verdade? Jesus foi caluniado. Ele passou pelo falso testemunho. Os primeiros cristãos eram caluniados. Sofriam com as mentiras que se falavam deles. E nós hoje, como agimos? Como nos relacionamos diante disso?

"Não cobiçarás". E Deus faz uma lista do que vem a ser a cobiça: casa, mulher, escrava, jumento, ou qualquer outra coisa. A cobiça abre as portas para tudo o que veio antes: matar, cometer adultério, furtar, levantar falso testemunho. A cobiça é a porta para nos afastarmos de Deus. Foi pela cobiça de querer ser como Deus, que Adão e Eva cometeram o pecado original. Cuidado com a cobiça.

Na segunda leitura, Paulo destaca a visão que tanto judeus quanto gregos tem da vida. Os judeus querem sinais milagrosos. Estavam acostumados a ver pragas, mar se abrir, curas no deserto. Os gregos, ligados a sua racionalidade. E Paulo apresenta um Jesus crucificado. Um Deus rejeitado. Um Deus que pregado numa cruz morreu; então não era todo poderoso. Para os gregos, alguém que se entrega livremente à morte, não conseguem ver razão nisso, pois o primeiro impulso humano é defender a própria vida.

Paulo, então, destaca que para os "que são chamados", Cristo "é poder e sabedoria de Deus". Em Cristo estão reunidos judeus e gregos. Pois Deus, em Cristo, revela que ao que aos olhos humanos possa parecer insensatez, é "mais sábio do que os homens", e aquilo que possa ser fraqueza de Deus, "é mais forte do que os homens".

Cristo não segue a lógica humana. Deus não se enquadra nos padrões humanos. Por isso ele é poderoso ao vencer a dor da morte com a Ressurreição de Jesus. Ao morremos com Cristo, com ele ressuscitamos e somos mensageiros dessa esperança.

No evangelho, vemos um Jesus revoltado com o que ele encontra no Templo, na casa de oração. Um fato, com certeza, fica em nossa cabeça nesse texto, como poderia Jesus, manso e humilde, agir com tanta violência dentro do Templo?

Primeiro, muitas vezes, fazemos da religião comércio (dízimo é uma coisa, comércio é outra). Não devemos manipular a fé das pessoas para obter alguma vantagem financeira. Fazer uma campanha de arrecadação para uma obra social, um evento religioso de evangelização é uma coisa. Agora, tirar vantagem financeira disso, é outra. Jesus se revoltou e se revolta contra isso. A casa de Deus é casa de oração. A casa de Deus não é um mercado de negócios. Jesus tem zelo pelas coisas do Pai. Por aquilo que representa a presença de Deus no meio de nós. O templo deve ser conservado, mas não com o comércio que explora os mais pobres.

Em segundo lugar, Jesus dá um salto. Aprofunda a relação do templo com Ele. Ele é o templo. A nova Aliança.

E por último, Jesus sabia que as pessoas iam atrás dele não para mudarem de vida, não para criarem uma nova humanidade, mas o seguiam pelos sinais que ele realizava. Pelo pão que comiam, pelos doentes que eram curados.

 E por conhecer o coração humano, sabia que na primeira oportunidade de provação, essas pessoas se afastavam de Deus. E o evangelista diz que "Jesus não lhes dava crédito".

A liturgia pré-pascal de hoje nos convida a olharmos para nós e refletirmos: como estamos vivendo a lei de Deus em nossas vidas? (1ª leitura). Cristo é a fonte de tudo para mim, verdadeiramente? (2ª leitura). Como vivemos a nossa fé em Jesus, de forma comercial, ou com o coração sincero de quem se dispõem a assumir a proposta evangélica de Jesus no mundo de hoje, buscando instaurar o Reino de Deus, que prega a nova humanidade? Um Deus do diálogo que constrói pontes, ao invés de muros.

Aproveitemos esse período da Campanha da Fraternidade que nos convoca a sermos um em Cristo, e rezemos juntos.



Um comentário:

  1. Jesus mostra a todos que a fraternidade entre todos é o que reze a nossa essência. Podemos aprender, ensinar e compreender o bem maior que é de todos e para todos!

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